Alvo de investigações, JJ Invest, patrocinadora do Vasco, se desfaz de ações na Bolsa
Sábado, 12/01/2019 - 05:20
Alvo de inquérito da Polícia Federal e de processo na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a empresa JJ Invest intensificou a venda de ações que detinha na Bolsa após alerta do xerife do mercado de capitais e reportagem do GLOBO sobre as investigações , no sábado passado. Desde aquela data, a empresa vendeu grandes quantidades de papéis da companhia de tecnologia Ideiasnet, influenciado na desvalorização de 45% sofrida pelas ações só esta semana.
Jonas Jaimovick, único sócio da JJ Invest, aparece no formulário de referência da Ideiasnet como um dos principais acionistas da empresa, com participação de 15%, que equivalia a um patrimônio de R$ 13,6 milhões até o último sábado. Patrocinadora do Vasco da Gama e de dezenas de outros clubes menores do futebol do Rio, a JJ Invest vem chamando atenção pelo marketing agressivo e por proporcionar a seus aplicadores retornos muito acima dos praticados no mercado regulado, com ganhos entre "5% e 10% ao mês", como disseram à reportagem várias fontes a par do assunto. Isso apesar de não ter autorização para atuar.
Diante da queda acelerada nos papéis da Ideiasnet, a B3 (antiga Bovespa) identificou movimentação atípica e enviou ofício à companhia pedindo esclarecimentos. Em resposta à Bolsa na quinta-feira, o diretor de relações com investidores da Ideiasnet, Sami Amine Haddad, disse que "não tem conhecimento de fato algum relacionado aos negócios da companhia que possa justificar as oscilações atípicas", mas acrescentou que, entre 21 de dezembro e 2 de janeiro, a maior parte das operações foi de vendas da Spritzer Consultoria Empresarial Eireli (razão social da JJ Invest).
Na resposta, a Ideiasnet esclareceu que ainda não possuía informações para determinar quais acionistas tinham movimentado os papéis depois daquela data, mas disse que acreditava que a estratégia de venda pela JJ Invest estava ligada a alertas emitidos pela CVM e às reportagens do GLOBO e do jornal "Valor Econômico" publicadas na última sexta-feira e no sábado passado.
No ofício enviado à Ideiasnet, a B3 anexou tabela que mostra crescimento expressivo do volume negociado com os papéis esta semana. Nos sete pregões anteriores, o volume médio diário foi de cerca de R$ 149 mil; já entre segunda e quarta-feira desta semana, a média foi de cerca de R$ 380 mil. Apenas no pregão de quinta-feira, as ações da Ideiasnet caíram 24% na Bolsa. Desde 21 de dezembro, período no qual movimentações atípicas foram percebidas pela B3, a desvalorização acumulada é de 55%.
Embora a Ideiasnet cite a JJ Invest, e não Jaimovick, em seu comunicado, a empresa não figura na listagem de maiores detentores de ações da companhia na Bolsa. O GLOBO procurou a Ideiasnet e Sami Haddad por telefone mas não conseguiu contatá-los.
Não está claro o valor total das ações vendidas pela JJ Invest na Bolsa.
Em nota, a JJ Invest disse que "essa retirada (venda de papéis) está sendo feita de acordo com a assessoria juridica da empresa, em vista de Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com a CVM". Segundo a companhia, ela ainda detém uma pequena participação na Ideiasnet. Jonas Jaimovick admitiu ao GLOBO que a venda se acelerou depois do alerta da CVM divulgado na sexta-feira, 4 de janeiro. Segundo Jaimovick, ele ainda detém cerca de "6 a 7%" de participação na Ideiasnet, mas ponderou que não poderia precisar a fatia porque não tinha acesso aos números no momento da entrevista.
Porém, segundo disse à reportagem uma fonte a par do assunto, o que Jaimovick e a JJ Invest propuseram à CVM foi um Termo de Compromisso (TC), oferecendo pagar R$ 200 mil para encerrar o processo. Esse termo, que ainda não foi aprovado pelo órgão, não determina a venda de qualquer participação da empresa na Bolsa. O que o regulador exige, disse a fonte, é que a JJ Invest e Jaimovick parem de oferecer serviços de administração de investimentos sem autorização. Como a JJ Invest continuava a ofertar seus serviços mesmo após o primeiro alerta da CVM, emitido em 2017, a tendência é que esse TC seja negado, disse pessoa que acompanha a empresa.
Mensagem a investidores
Depois da reportagem do GLOBO na semana passada, Jaimovick enviou mensagem de áudio a investidores sustentando que "não tem nada de errado, irregular" com a companhia. Isso apesar de a CVM ter emitido alerta para que a JJ Invest parasse de oferecer serviços de administração de investimentos, uma vez que nem ela nem Jaimovick estão autorizados pelo órgão, que fiscaliza o mercado de capitais no país.
O GLOBO teve acesso ao áudio na última segunda-feira. Embora o empresário cite a reportagem de sábado, não foi possível precisar quando exatamente a mensagem foi compartilhada, nem a quantos clientes. (O empresário sustentara na semana passada que o patrimônio administrado pela companhia estava "chegando a R$ 40 milhões", aplicados por cerca de 600 investidores).
"Em relação à CVM, a CVM ainda não deu aval da regularidade da JJ Invest ou do meu caso", disse o empresário na mensagem, apesar de a CVM ter ressaltado dias antes que ele e a companhia "ofereciam publicamente serviços de administração e de consultoria de carteiras de valores mobiliários sem autorização prévia da autarquia" e reforçado que ambos estariam sujeito a multa de R$ 5 mil ao dia caso a irregularidade continuasse.
Embora a reportagem do GLOBO não tenha feito referência a eventual bloqueio do patrimônio investido pelos aplicadores, Jaimovick sustenta que "não tem chance" de isso ocorrer, alegando que isso iria contra o interesse da CVM.
"Queria deixar claro, deixar todo mundo tranquilo, que não tem chance de bloqueio. Isso não faz o menor sentido. Se eles sabem que tem investidores pequenos na jogada, eles não podem fazer isso porque vão estar agindo contra eles mesmos. A ideia do órgão é proteger o pequeno investidor. Então bloquear não faz o menor sentido", disse o empresário.
Na mensagem, Jaimovick admite porém que foi alvo de um inquérito da Polícia Federal.
Fonte: O Globo Online