Patric chegou aos 31 anos e ainda mantém sonhos de menino. Quase desconhecido no Brasil, onde anda tranquilamente pelas ruas sem alarde, no Japão o atacante é ídolo e tietado independente da cidade onde esteja – não apenas Kawasaki, Kofu, Osaka ou Hiroshima, onde jogou. Um desejo antigo, e já concretizado, era conseguir criar uma carreira sólida no exterior. Mas há outro, que ainda está no campo dos sonhos: ser jogador do Palmeiras.
– Quando a gente é moleque tem um time do coração, e o meu era o Palmeiras, do tempo da Parmalat. Tinha Felipão, Oséas, Paulo Nunes, Alex... Lembro que o Alex fez aquele gol no São Paulo, que deu dois chapéus, um deles no Rogério Ceni. Torcia mesmo, via pela televisão, zoava os amigos. Sempre pensei em um dia jogar no Palmeiras, mas quando você vira profissional acaba deixando um pouco de torcer e se dedica mais para o clube que você joga – revelou o centroavante, que passa o Natal com a família em Belém, onde fixou residência em 2012.
Já são seis anos no Japão e cinco títulos conquistados. Na atual temporada fez 24 gols em 37 jogos e terminou a J-League – o Campeonato Japonês – na vice-artilharia, pois foi ultrapassado por Jô nas duas rodadas finais. Com carreira consolidada na "terra do Sol nascente", Patric só retornaria ao seu país de origem em um caso excepcional.
– Eu não pretendo voltar ao Brasil, mas sempre falei que, se tivesse um convite hoje, talvez de uma equipe como o Palmeiras, pela estrutura que tem e pelo meu sonho desde moleque, eu poderia pensar em voltar. Até pelo treinador que está hoje ser o Felipão. É um cara que eu admiro muito, joguei contra ele no Japão na Copa da Ásia, quando estava no Evergrande, da China. Perdemos na semifinal e ele veio falar comigo como se já me conhecesse há muito tempo. Para mim seria um sonho a ser realizado – confessa.
Porém o destino de Patric para a próxima temporada já está quase selado. O jogador negocia o prolongamento de seu vínculo com o Sanfrecce Hiroshima, clube que defende desde o ano passado.
– Tenho contrato até 1º de janeiro com o Sanfrecce. Meu desejo é permanecer no clube, mas o meu passe é do Salgueiro, de Pernambuco. Tenho mais um ano de contrato com o Salgueiro e estou emprestado ao Sanfrecce. Eu fiz um bom campeonato esse ano e estamos conversando com relação a renovação, essas coisas. Provavelmente eu devo ficar no Japão, as chances são de 90%. Seja o Hiroshima ou outro clube, mas provavelmente é no Japão – afirmou.
"Salvador da pátria"
A moral é grande no Japão por causa do histórico criado pelo centroavante. Em 2013, após período lesionado, foi emprestado pelo Kawasaki Frontale ao pequeno Ventforet Kofu, que estava na zona de rebaixamento. Salvou o time do descenso. No ano seguinte, levou o Gamba Osaka da zona ao título da J-League. Em 2017, quando desembarcou em Hiroshima, também ajudou a evitar a queda do Sanfrecce – que este ano foi vice-campeão nacional.
– Sempre tem matéria comigo, porque a imprensa japonesa fala que eu sou tipo um salvador da pátria. Eles perguntam: como é que tu consegues chegar em um clube e se adaptar rapidamente ao estilo de jogo, aos outros jogadores?'. Porque é muito mais fácil quando você está em um clube há muitos anos. Eu digo que é trabalho. Não tenho vaidade, nada. Se tem um trabalho para fazer, vou e faço um pouco a mais, eu sei que para o meu benefício. Com isso eu vou devagar conquistando os japoneses, porque você não pode chegar lá e dizer eu sou Patric, conquistei vários títulos'. Tem que chegar aos poucos, até conquistar os jogadores – explicou.
Clássico inesquecível
Antes de fazer sucesso no Oriente, Patric teve uma passagem sem brilho pelo Vasco. Chegou em 2010 para ser avaliado no time Sub-23 e no ano seguinte acabou aproveitado em algumas partidas de Campeonato Carioca e Sul-americana. Passou em branco, mas guardou boas recordações.
– Tive poucas oportunidades no Vasco. Eu falo que foi uma passagem. O primeiro atacante era o Alecsandro, que estava em um momento muito bom, tinha acabado de sair do Internacional. O substituto dele era o Élton, depois contrataram o Marcel, que jogou no Coritiba. Então eu ficava como uma quarta ou quinta opção. Joguei poucos jogos, mas disputei um Vasco x Flamengo. Imagina, você um moleque lá de Macapá... Lá a cidade para pra assistir o jogo. Eu assistia aos jogos pela TV e de repente eu estou jogando o clássico. Para mim foi mais um sonho realizado. Fui campeão da Copa do Brasil e vice do Brasileiro. Foi uma experiência muito boa – avalia.
Além das lembranças do período na Colina, Patric também guarda boas amizades, como Juninho Permambucano e Élton, com os quais ainda mantém contato.
– Eu morava do lado Juninho Pernambucano, vira e mexe a gente se fala. Nós temos hoje o mesmo assessor de imprensa. Tenho esse convívio com esses jogadores. O Élton é um amigo que fiz e tenho contato até hoje, ele foi para o Japão também. Eu acho que de lá para cá foi um dos melhores elencos que o Vasco teve, no entanto saiu todo mundo. Saiu Dedé, Diego Souza, Fellipe Bastos, Allan, que está até hoje na Europa, no Napoli. Romulo também saiu, foi para o Spartak se não me engano. Fagner saiu. Aquela base toda saiu – lamentou.
Início no Paysandu
Muito antes de chegar ao Japão, um dos primeiros passos de Patric no futebol aconteceu no Pará. Apesar de ter tido experiência na base do Macapá e do Trem, no Amapá, o ponto determinante para o início da sua carreira profissional foi no Paysandu. Ele chegou ao clube paraense depois de se destacar em um amistoso em Afuá, município no noroeste da Ilha do Marajó.
– Meu primeiro clube profissional foi o Macapá, depois fui para o Trem, do Amapá, pelo qual disputei a Copinha. Isso em 2005/2006. Aí, nesses amistosos que o Paysandu fazia pelo interior, foram no Afuá, onde eu ia todo o final de semana disputar um campeonato em que ganhava uns R$ 100 por jogo. Fazia bastante gol e ganhei destaque. Nisso o prefeito me chamou e convidou para disputar o amistoso contra o Paysandu pela seleção do município. Fiz um gol e acho que uma assistência. Logo depois recebi o convite do Paysandu, com dois anos de contrato – detalhou.
Mas a experiência no Papão foi curta. O elenco possuía alguns medalhões e o jovem do interior acabou relegado à reserva. Foi emprestado ao Vila Rica e depois se transferiu ao Santa Cruz. A passagem breve deixou no centroavante a vontade de voltar para, de fato, conseguir mostrar serviço.
– Quando cheguei no Paysandu o técnico era o Givanildo Oliveira. O elenco tinha uns 50 jogadores, sendo 15 atacantes. Todos os dias tinha coletivo e tinha jogador mandado embora, mas eu ficava. Tinham muitos jogadores já renomados, como Luís Mário, Beá. Aí surgiu o convite do Vila Rica Cametá. Achei melhor ir. Ia jogar mais, aparecer mais, para depois voltar ao Paysandu com uma experiência. Fiz bastante gol e depois fui para o Santa Cruz. Ficou aquele gostinho de ainda poder jogar pelo Paysandu, disputar o Campeonato Paraense. Tenho essa vontade até hoje. Não sei futuramente, quando voltar para o Brasil. A gente não sabe o que vai acontecer no futuro – salientou Patric.
Fonte: GloboEsporte.com