Campello procura investidores para o Vasco e fala sobre possível impeachment; Roberto Monteiro despista
Na ampla sala da presidência do Vasco, Alexandre Campello já se mostra mais confortável à mesa que durante anos pertenceu a Eurico Miranda. São 11 meses no cargo, sete deles bombardeado por duas das três principais correntes políticas do clube. Ao contrariar prognósticos e sobreviver até agora à frente de São Januário, o ortopedista ganha confiança para destacar feitos e projetar os próximos dois anos de gestão.
Na terça-feira, o dirigente encabeçará um encontro com investidores na Bolsa de Valores do Rio, em mais um esforço para passar a imagem de profissionalismo e transparência que tanto prega. Nele, será apresentado o resultado financeiro entre janeiro e setembro deste ano, com destaque para os cerca de R$ 100 milhões de passivo pagos somente em 2018, nos cálculos da diretoria.
O trabalho do grupo de renegociação de dívidas montado pela gestão será esmiuçado na apresentação, ainda que necessidades mais imediatas batam à porta de Campello. Com um total de cinco vencimentos atrasados, entre salários, férias e 13º, deste ano e de 2017, funcionários vivem de doações de cestas básicas.
- Tratamos desse problema de forma muito direta com eles. A perspectiva para 2018 era péssima, mas mantivemos os salários em dia até pouco tempo. Esperamos normalizar os pagamentos nos próximos dias.
No evento, a diretoria fará uma projeção das finanças do Vasco para o restante do mandato. Questionado a respeito das dificuldades de fluxo de caixa que o clube poderá ter em 2019, com a mudança na distribuição das cotas de transmissão da TV, Alexandre Campello acredita que "nada pode ser pior do que foi 2018". Diz que o percentual de receita comprometida ano que vem será menor e diminuirá mais em 2020. É quando ele projeta um salto de qualidade nos resultados do time, depois do primeiro ano em que o fico na Série A só saiu na última rodada.
- Esperamos ter o Vasco entre os três ou quatro principais clubes do Brasil. Acredito que é possível fazer isso, não apenas em relação a conquistas, mas também quanto à gestão.
Oposição no calcanhar
Por enquanto, isso não passa de projeção. Os feitos que Alexandre Campello chama para si são que nem obras de saneamento, estão no subsolo e não rendem votos. A pressão sobre a gestão é grande, e projetos ambiciosos podem amenizá-la. Além da construção de um centro de treinamento integrado para profissionais e categoria de base — o terreno deve ser oficialmente cedido pela Prefeitura do Rio ainda este ano —, a diretoria aposta na ampliação e a modernização de São Januário, outro ponto que será abordado na terça-feira na Bolsa de Valores. Tradicional cortina de fumaça em tempos de crise, a obra dos sonhos dos vascaínos pode começar ainda na atual gestão, afirma o presidente.
- Queremos criar um fundo que alavanque isso. É aí que entram os empresários, vascaínos dispostos a colaborar. Podemos colocar de pé em dois ou três anos.
Bem antes disso, Campello precisará se preocupar em se manter no poder. Nos bastidores do clube, a abertura de um processo que pode levar ao impeachment dele em 2019 é considerada uma possibilidade real.
Neste ano, o dirigente teve o escudo de Eurico Miranda para se defender dos ataques da Identidade Vasco, de Roberto Monteiro, e da Sempre Vasco, de Julio Brant, mas o afastamento gradual do ex-presidente, por motivos de saúde, ameaça enfraquecer a trincheira da atual gestão.
Diante disso, Campello tenta se armar. Internamente, tem a máquina a favor e recompôs a diretoria, esvaziada em maio, com outros grupos menos numerosos da fragmentada política vascaína. As conversas com conselheiros menos comprometidos é intensa. Ainda assim, sua principal estratégia é apelar para o que chama de bom senso.
- Todo mundo sabe que existe um movimento para que saia um pedido de impeachment contra mim. Tenho de mostrar o trabalho que está sendo feito, ele é a nossa defesa. O próprio evento que faremos é para isso. Acreditamos que vai prevalecer o bom senso do Conselho Deliberativo, um pedido de impeachment depõe contra o Vasco e só atrapalharia o clube.
Monteiro despista sobre impeachment
A abertura de um processo de impeachment contra Alexandre Campello está basicamente nas mãos do grupo Identidade Vasco, com quem ele rompeu em maio deste ano. O grupo está à frente de dois poderes que podem ameaçar a posição do presidente do clube: o Conselho Fiscal e o Conselho Deliberativo.
Roberto Monteiro, presidente do Deliberativo, despista ao ser questionado sobre o movimento para derrubar Campello. Segundo ele, sua obrigação é ser fiel ao que diz o Estatuto do clube.
- É muito cedo para falar sobre isso. Minha obrigação é garantir que os ritos presentes no Estatuto sejam seguidos corretamente e já posso dizer com certeza que a gestão possui diversas quebras estatutárias. Mas isso não quer dizer que caiba um impeachment.
A principal acusação dos opositores a Alexandre Campello é de gestão temerária. Ela vem tanto de Edmílson Valentim, presidente do Conselho Fiscal e principal responsável pelos mais recentes ataques sofridos por Campello, quanto de lideranças do Sempre Vasco, de Julio Brant, que tenta anular a eleição passada a fim de disputar uma nova.
Para a Identidade Vasco, o caminho para a presidência é outro. Se o impeachment for concluído depois de um ano e meio de mandato de Alexandre Campello, Elói Ferreira de Araújo, membro do grupo e primeiro vice-presidente geral, assumirá. Se acontecer antes, nova eleição ocorrerá dentro do Conselho Deliberativo, e qualquer um dos 300 membros poderá se eleger.
Fonte: Extra Online