Fernando Miguel fala sobre titularidade, relação com Martín Silva e expectativa para 2019
Se você joga PUBG (sigla para Playerunknown's Battlegrounds, jogo para celular), corre o risco de, em determinado momento, enfrentar uma equipe formada pelos dois goleiros do Vasco. Em campo Fernando Miguel e Martin Silva disputam a posição de titular da equipe, mas fora eles são parceiros.
Fernando Miguel terminou o ano como titular, conseguindo algo antes inimaginável: barrar Martin, um dos principais ídolos da torcida do Vasco nos últimos anos. Segundo o goleiro, algo ocorrido sem traumas e ressentimentos.
- Nossa relação é muito sadia. Temos um grupinho que joga PUBG, estamos sempre ligados. Cria-se muitos fatos em torno dessa situação, mas a realidade é que somos profissionais mais ou menos parecidos, de muita seriedade, concentração e entrega. Não tem muita conversa cruzada, não. O papo é reto. Não temos nenhum tipo de problema - disse o goleiro.
Contratado em julho ao Vitória, Fernando soube esperar sua oportunidade. Quando substituiu Martin durante os amistosos da seleção uruguaia de novembro, brilhou contra o São Paulo: uma defesa salvadora no fim da partida garantiu a vitória do Vasco – aqueles pontos foram decisivos na permanência na Série A.
E, então, tudo mudou.
- Foi um momento onde se passa a viver uma fase diferente no clube. Parece que se cria um vínculo maior, se fortalece, até pela importância que tinha naquele momento da competição, as dificuldades que a gente vinha encontrando na temporada.
Novo titular do Vasco, com contrato até 2019, Fernando agora trabalha para que o próximo ano seja não só de alívio, mas de conquistas.
Veja a entrevista completa:
GloboEsporte.com: O que você lembra daquela defesa contra o São Paulo?
Fernando Miguel: Se for analisar o momento da partida, durante o jogo tinha sido mais lances controlados, sem grau de exigência tão grande. Essa é aquela defesa que marcou o meu primeiro momento no Vasco. Já se criou um vínculo muito grande tanto meu com o clube, quanto com o torcedor.
E assim se alimenta a carreira de alguém. Não tem como chegar no clube e achar que vai sair despontando, escrevendo o final da história. A gente precisa construir a nossa casinha de degrau em degrau, tijolo em tijolo. Vamos criando nosso espaço, fazendo o trabalho com muita seriedade e dedicação. Estou muito feliz com esse momento que estou vivendo no clube.
Qual foi a reação ao saber que seria titular nos dois últimos jogos?
Essas posições não são simplesmente tomadas pela defesa do jogo. A gente vai construindo isso no dia a dia. O Alberto (Valentim), pela sequência que a gente vinha desenvolvendo, acabou tomando a decisão. Sem nenhum tipo de demérito para alguém, mas por entender que era o momento do Fernando. Recebi a notícia com muita felicidade.
Como foi a conversa com o Valentim?
Valentim é muito franco. Não tem muitos rodeios. A conversa da minha continuidade foi com o Danilo. Não teve muito rodeio, não. Foi direto. "Vai dar continuidade e ponto final". Não teve nenhum tipo de história criada, de momento especial.
Como é para você ter ganhado a posição de alguém como o Martin Silva?
Não tem que ter briga um com outro. Temos que ter profissionalismo e seriedade com o que fazemos. Eu tenho muita responsabilidade com aquilo que eu faço. A partir do momento que eu boto o pé no clube para treinar, se torna o momento mais importante do meu dia. É o meu trabalho, preciso estar 100% concentrado naquilo que vou fazer.
As decisões passam um pouco distantes da gente. Nosso papel é trabalhar e procurar evoluir todos os dias. Em com 33 anos tenho muita disposição para crescer. Tenho vontade de aprender, de jogar, de treinar e estar concentrado, viajando. É o que eu amo fazer, o que mais gosto.
Você veio para o Vasco em julho. Por que a decisão de assinar com o clube?
Quando apareceu a situação do Vasco, entendi que era o clube certo para mim. Muitas pessoas até tentaram falar para não ir, porque o Vasco está passando por dificuldade, está num momento turbulento. Mas quando você olha para a história do Vasco, o tamanho da torcida, eu não tinha como não tomar essa decisão de vir para cá. Acho que tomei a decisão certa.
Qual foi a maior dificuldade nesse Brasileirão?
Eu falava que brigar contra o rebaixamento é mais difícil que brigar pelo título. É por causa da dificuldade que se encara, o aspecto psicológico. Muitas vezes o atleta se abate, trava, porque a percepção de uma perda é muito grande. O rebaixamento traz uma carga muito grande sobre o atleta. Isso tudo é transferido para os jogos e nos envolve.
Precisávamos ter equilíbrio e saber que precisávamos nos superar. Se na questão tática e técnica, tinha que ter equilíbrio para superar na disposição e na concentração de cada um. E deu certo. Conseguimos manter o Vasco na Série A, e a gente espera que 2019 seja um ano de avanço.
Muitos sabiam das dificuldades, o próprio presidente falou que era um ano de austeridade, de aparar algumas arestas, para que 2019 fosse um ano de avanço. A gente espera que seja de fato.
Como foi a semana antes do jogo contra o Ceará?
Muito difícil. Fica se potencializando possíveis situações, uma queda, se o São Paulo vai ganhar, se o Santos vai ganhar. O que eu falava para todos é que aquele não deveria ser o tom da nossa conversa, e sim fazer uma boa partida e tentar controlar o jogo contra o Ceará. Quando acabasse o jogo, não precisaria perguntar o que aconteceu em Chapecó ou no Recife. Só precisávamos do nosso resultado. Quando acabou foi sensação de alivio, não foi de dever cumprido, porque nosso dever é vislumbrar vitórias.
Quem vive o dia a dia do Vasco cita sempre você como uma das lideranças do elenco. Como você assumiu isso?
É característica de cada um. Tem um jogador que exerce liderança, mas é calado, outro tem liderança técnica. Cada um tem perfil de liderança. Liderança você vai desenvolvendo todos os dias, fazendo o que precisa fazer. As suas posições vão ficando nítidas para todo mundo. O importante é ser comprometido com o trabalho. A partir deste momento você consegue alcançar outras pessoas e fazer com que elas sejam potencializadas também.
O que você pensa para 2019? Vai continuar no Vasco?
Continuo, tenho contrato. Mercado gera muita especulação em dezembro, o atleta diz que vai descansar, mas é um momento reflexão e avaliação e projetar 2019. Entendo que vai ser um ano de muitos avanços, muito trabalho e dedicação. E muitos desafios. Nossa exigência precisa ser ainda maior e a gente vai procurar desenvolver de uma forma mais clara aquilo que precisa ser feito. Espero que seja um ano de muitos títulos. Que no fim de 2019 a gente possa comemorar um grande título e não a permanência na Série A.
Fonte: GloboEsporte.com