Thalles: 'Sou vascaíno. Por ser novo, fiz coisas que me prejudicaram'
Enfrentar o Ceará na última rodada, num jogo decisivo, é algo pelo qual Thalles já passou. E com louvor: em 2016, quando o Vasco precisa garantir a subida para a primeira divisão, o atacante fez os dois gols da virada por 2 a 1 sobre o Vozão, num Maracanã lotado.
Naquele ano, Thalles foi herói e renovou contrato até o fim de 2019. Mas não manteve a sequência: em 2017, um ano para esquecer, com poucas oportunidades e problemas de peso. Fora dos planos, passou 2018 no Japão, emprestado ao Albirex Niigata, da segunda divisão.
Do outro lado do mundo, Thalles viu aflorar ainda mais seu lado vascaíno. Não largou o time do qual faz parte desde criança. Antes da entrevista, perguntou sobre o jovem Marrony e se mostrou informado com o momento do Vasco. Um ano depois, parece ter entendido o que tinha no Brasil.
- Não que lá não tenha a mesma coisa que aqui, mas a gente sente falta. Sou vascaíno. Por ser novo, fiz coisas que me prejudicaram. Lá, tive tempo para pensar. Se tivesse ido para lá antes, não teria feito metade das coisas que fiz quando estava no Vasco. Agora não dá para voltar atrás. O que passou, passou. Daqui para frente é um novo Thalles – disse o atacante.
Nesta entrevista com o GloboEsporte.com, Thalles contou bastidores do jogo contra o Ceará em 2016, falou de sua passagem pelo Japão e até comeu sushi – algo que não fez durante toda sua passagem pelo país nipônico.
No domingo, Thalles verá do sofá o novo duelo entre Vasco e Ceará. Em Fortaleza, o Cruz-Maltino precisa de um empate para, dessa vez, permanecer na Série A.
Confira a entrevista:
Vasco x Ceará, versão 2016
Dois gols contra o Ceará
- Um dos melhores momentos que vivi no Vasco. Apesar de ser para subir para a primeira divisão, não estar valendo título nem nada. Consegui entrar para a história do clube, fazer dois gols importantes e colocar o Vasco na primeira divisão de novo.
Lembranças daquele jogo
- Quando acabou o primeiro tempo a gente olhava para os nossos companheiros, todo mundo meio assustado, não estava acreditando no que estava acontecendo. Rapidamente passaram para a gente que o Náutico estava perdendo (na última rodada, o Vasco precisava de um empate para subir. Se perdesse, teria de torcer por tropeço do Náutico, que acabou derrotado por 2 a 0 em casa pelo Oeste). Ficamos mais tranquilos.
Como estava a cabeça naquele momento?
- Queria viver um momento desse no Vasco. Sou vascaíno desde pequeno. Fiz bastante gol pelo Vasco, mas não tinha feito um gol assim tão importante. Foi um desabafo na semana de trabalho. Fomos para Pinheiral, ficamos uma semana lá treinando numa pressão muito grande. Poder fazer esses dois gols é um momento que vou guardar para sempre.
A semana de treinos em Pinheiral
- Foi uma semana de muito treino. Só tinha a gente lá. Não é normal ficar essa época do ano longe da família. Teve muita discussão durante a semana entre a gente. Estávamos muito nervosos. Queríamos que chegasse logo o jogo. Sabíamos que era um jogo muito importante.
Confiança naquele jogo
- Eu vinha de três ou quatro jogos fazendo gol também. Vivia um bom momento. Sabia que a oportunidade eia aparecer. Estádio estava lotado com a torcida vascaína. Se a gente não fizesse gol até o meio do segundo tempo, as coisas mudariam. A torcida começa a vaiar, a perna começa a travar. Se não tiver personalidade... Tem cara que se esconde atrás do marcador. Os gols saíram naturalmente. Foi muito rápido.
Vasco x Ceará, versão 2018
O que esperar do jogo?
- É um jogo que se torna mais difícil por ser fora de casa. O Ceará sem preocupação nenhuma. Estão querendo a Sul-Americana, torcida vai lotar o estádio. Tenho certeza de que será uma pressão muito grande. Como torcedor, jogador, se eu pudesse ajudar de alguma forma...
Recado aos jogadores
- Tem que dar a vida. Pensar na família deles, na torcida do Vasco, que não merece passar neste momento. Não deixar o Vasco cair. Só quem é torcedor sabe como é, ser zoado na rua... Quem sofre é o torcedor. Para eles darem a vida, lutar até o último minuto. Tenho certeza que vão conseguir pelo menos um empate.
Duelo com Everson e dicas para Maxi
- O Everson é um excelente goleiro, mostrou isso na temporada. No Japão eu via muito futebol, acompanhava. O Maxi tem experiência de sobra, quem sou eu para falar como o maxi tem que se posicionar na área. Tenho certeza que ele vai fazer um grande jogo, com gol ou passe, para a gente poder ganhar lá e ter umas férias tranquilas.
Amizades no elenco
- Tenho grandes amigos lá, Henrique e Pikachu. Também fico triste por eles, são garotos que se dedicam. Henrique trabalha duro. Não merecem passar mais uma vez por isso. Ninguém merece. Tenho certeza que eles vão dar o máximo e conseguir tirar o Vasco dessa situação. Estou confiante.
Contato com os jogadores
- Quando eu estava no Japão tinha mais contato. Cheguei no brasil há pouco tempo, troquei de número e não deu tempo de pegar o número deles. Vou deixar passar o jogo. Um dia antes do jogo talvez eu mande mensagem. Nenhum dos dois vai jogar. Vou postar algo de apoio para eles. Tenho certeza que quem for jogar vai dar a vida.
Vida no Japão
Acompanhando o Vasco no Japão
- Às vezes o jogo que passa de madrugada eu acordava para ver. Eu sou vascaíno e fiz minha carreira toda ali. Tenho carinho muito grande por tudo que fizeram por mim. Mesmo não tendo saído tão bem, tenho certeza que um dia vou voltar paro Vasco, mostrar minha qualidade e o que eu posso.
Relação com Muralha
- Ele é muito gente boa, ficamos amigos. Nos treinos costumava brincar que era duelo Vasco x Flamengo (risos). Voltei para o Brasil no mesmo voo que ele e a esposa.
Encarou a comida japonesa?
- No Japão tem muito restaurante brasileiro, preferi comida brasileira. No clube mesmo a cozinheira fazia arroz e feijão para a gente.
Lições do Japão
- O respeito da torcida. Passamos por momento difícil e a torcida não parava de cantar. Muito legal. A gente aprende a amar o clube, pelo respeito que dão para gente. Gostam muito de brasileiros. O futebol lá é um jogo muito rápido, você tem que ficar posicionado e aprender a marcar para ter um bom desempenho. Se eu conseguir trazer isso para o Brasil, tenho certeza que vou melhorar muito meu nível.
Adaptação
- Já tinha viajado algumas vezes com a seleção. Até eu me surpreendi um pouco, porque aguentei bem. Pensei que fosse sofrer mais. Me apeguei mais a Deus nesse tempo. Tinha um pastor que eu ligava duas vezes por semana, fazia culto por chamada de vídeo. Ele me deu força, me ajudando. Minha família, minha namorada ficou três meses lá, meus primos ficaram comigo lá. Foi importante também nessa passagem.
Fonte: GloboEsporte.com