Não houve um jogo, no Rio ou fora dele, em que a torcida do Fluminense tenha deixado de xingar, criticar ou pedir a renúncia de Pedro Abad - agora até defendida por alguns integrantes da Flusócio, o grupo político do presidente. Intensificada na reta final da temporada, a ponto de o mandatário tricolor ter de se retirar de um dos camarotes do Maracanã na última quarta-feira (veja no vídeo abaixo), a revolta pública é rotina também no Vasco.
Alexandre Campello protagonizou uma divisão interna desde a eleição em que o transformou no presidente cruz-maltino. No capítulo mais recente, igualmente na noite de quarta, chegou a ser cobrado, por um colega médico ligado à oposição, em um hospital logo após participar de uma cirurgia (veja no vídeo abaixo).
Divididos politicamente, não à toa, Fluminense e Vasco chegam à última rodada do Brasileirão com risco de rebaixamento à Série B. Um cenário que, além de afetar o rendimento dentro de campo, não parece ter solução tão próxima à vista.
Sugestão de renúncia a Abad dentro da Flusócio é o mais recente capítulo da crise tricolor
A situação no Fluminense é tão grave que o inimaginável ocorreu: há na Flusócio, grupo político de Abad, quem defenda que o melhor para o Fluminense é a renúncia do presidente. Trata-se de uma corrente pequena, porém, inexistente até então.
Sob condição de anonimato, estes integrantes afirmam não ver mais condições na atual gestão de comandar o clube dada a crise dentro e fora do campo. Pregam que, a partir deste ato, uma eleição geral teria de ser convocada por Fernando Leite, presidente do Conselho Deliberativo, para apontar novo mandatário e novos conselheiros - o próximo pleito previsto é ao final de 2019.
Além de lutar contra o rebaixamento e ter trocado de técnico na última rodada do Brasileião, o Tricolor convive com atrasos salariais por quase toda a temporada - a direção se esforçou e regularizou parte recentemente. Abad sempre descartou deixar o comando do clube apesar da crise.
Ele enfrenta um processo de impeachment no Conselho Deliberativo, comandando pela oposição, a qual parte dela era até pouco tempo situação. Após ser aprovado pela Comissão para Assuntos Disciplinares, o pedido tem de ser colocado em votação. A partir de segunda-feira, com queda ou permanência da equipe, a oposição promete pressionar pela marcação de uma data.
Abad é criticado por torcedores e pela oposição desde a posse: os críticos o fazem por entender que ele apontou na campanha eleitoral uma realidade diferente da encontrada no clube. Episódios como a renúncia de cinco vices, todos do Unido e Forte, inclusive geral Cacá Cardoso, as rescisões de sete jogadores, entre eles Diego Cavalieri, Henrique e Marquinho, a aprovação das contas de 2016, último ano da gestão Peter Siemsen, e a venda de jogadores que não resolveram os problemas financeiros deixaram a gestão abalada interna e externamente.
A situação entende que há interesse político nas críticas a Abad, em um processo de desgaste da direção. Conselheiros que apoiam o grupo citam os protestos violentos, como as duas invasões de sessões do Conselho Deliberativo e as recentes ameaças a integrantes da Flusócio.
Vasco, uma eterna crise política
O ano começou agitado no Vasco. Alexandre Campello venceu a disputa com Julio Brant, antes seu aliado, no Conselho Deliberativo e assumiu a presidência do clube, apesar de seu concorrente ter sido o mais votado pelos sócios na eleição que definiu a divisão dos conselheiros. A torcida, então, passou a jogar contra em vários momentos - afinal, dizia não ter elegido Campello.
Crise política, lesões, dinheiro: por que o Vasco chegou à última rodada com risco de cair
Mesmo assim, o presidente tinha uma base aliada forte, já que demonstrou ter a maioria do Conselho Deliberativo. Em abril, porém, após a venda do atacante Paulinho e de problemas com vices, todos da "Identidade Vasco", chapa de Roberto Monteiro, presidente do Conselho, deixaram a diretoria do Cruz-Maltino. Começava, ali, uma instabilidade sem fim.
Os protestos passaram a ser rotina, principalmente nas arquibancadas de São Januário. Os gritos de "Ei, Campello, vai tomar no **" viraram música. Torcedores chegaram a invadir um treino no estádio para cobrar elenco e diretoria.
A política, então, começou a afetar o dia a dia do futebol. As eleições de 2017 foram anuladas na Justiça, e um novo pleito acabou marcado para dezembro. A decisão foi revertida, mas causou instabilidade, e o empréstimo de R$ 38 milhões demorou a ser aprovado no Conselho Deliberativo. Quando foi, não havia mais garantias, por causa da crise política. Os salários atrasaram. Por fim, o Vasco conseguiu o dinheiro e recolocou as finanças em ordem.
Independentemente de questões financeiras, o assunto política chegou ao elenco. Jogadores compartilham notícias em um grupo do WhatsApp. Preocupam-se com a possibilidade de falta de dinheiro, exposta ao time pelo próprio presidente Alexandre Campello, em algumas reuniões.
A turbulência, claro, chegou ao futebol. E explica um pouco o fato de o Vasco estar na última rodada do Campeonato Brasileiro ainda ameaçado pelo rebaixamento. O time decide seu destino contra o Ceará, no domingo, em Fortaleza. Mas o clube construiu este cenário desde o começo do ano.
Fonte: GloboEsporte.com