Em entrevista, Pedrinho fala sobre o momento do time do Vasco e política do clube
Revelado pelo Vasco durante a década de 90, Pedrinho fez parte da geração que conquistou dois títulos do Campeonato Brasileiro, uma Libertadores, um Campeonato Carioca e um Torneio Rio-São Paulo. Porém, os 18 anos de São Januário não foram só de alegrias. Torcedor declarado do clube carioca, ele também participou do primeiro rebaixamento da equipe para a Série B em 2008.
Em entrevista ao Yahoo Esportes, Pedrinho falou sobre a luta do clube contra um quarto rebaixamento em dez anos, do seu desejo em ajudar o Cruz-maltino, da preparação para voltar a trabalhar com o futebol e enalteceu o técnico Alberto Valentim. O ex-jogador ainda elogiou a continuidade de Tite na Seleção Brasileira, defendeu Neymar e disse que já vê o Palmeiras como campeão brasileiro. Confira a entrevista completa:
Como você vê a situação do Vasco no Campeonato Brasileiro?
O perigo diminuiu, com mais quatro pontos já estará um pouco mais tranquilo. Um time da grandeza do Vasco, quando chega em uma situação como aquela antes da partida contra o Fluminense, fica muito perigoso porque é uma pressão muito grande. Quando você consegue os três pontos e fica livre da zona do rebaixamento, independente dos outros resultados da rodada, o grupo ganha mais confiança e tranquilidade, para uma semana de treinos. É o caminho para começar a se distanciar ainda mais. Porém, é claro que ainda é preciso ter bastante cuidado.
Você fez parte do elenco que foi rebaixado pela primeira vez em 2008. Como estava o clube naquela situação?
Em 2008, havia um momento político conturbado. Eu não entendi muito aquele momento internamente. Algumas coisas eu, por ter vivido 17, 18 anos no Vasco, não entendi como aconteceram. Porém, dentro de campo, você vai se aproximando da zona do rebaixamento. É um time grande que não está acostumado com esse tipo de situação. Então, você fica com mais dificuldades pela pressão, diferente de um clube que sobe e desce e não tem uma exigência de permanecer na Série A. Em 2008, o rebaixamento era muito improvável e inesperado. Foi uma pressão absurda, mas tínhamos um time qualificado, com o Madson, que era um jovem, o Alex Teixeira, com uma carreira promissora, Alan Kardec e o Leandro Amaral. Se você olhar friamente, nós tínhamos uma boa equipe, mas as coisas não aconteceram. Aí você se aproxima, entra na zona do rebaixamento e, para sair, fica complicado.
Qual a sua opinião sobre o trabalho do Alberto Valentim?
O Alberto é um cara muito inteligente, muito estudioso. A gente precisa levar em consideração que trabalhar pressionado e ter que vencer para se livrar de uma zona do rebaixamento não é fácil. É diferente você trabalhar em um time que está no topo da tabela e brigando por um título. Outro ponto a ser falado é que os atletas também estão pressionados. Não é uma pressão para ganhar títulos, é uma pressão ruim. O atleta, que tem um potencial para jogar mais, não consegue. Desta forma, o trabalho do Alberto não aparece tanto, como apareceria em outra situação. Nesse momento é correto todo o apoio e a expectativa é que ele consiga dar sequência ao trabalho para tirar o time da zona do perigo.
O bom desempenho do Maxi López é uma surpresa para você?
Não pela qualidade. Pelo momento que ele vivia. Ele não vinha sendo aproveitado com frequência. É um cara que já ganhou tudo na vida. Então, você fica na expectativa de qual Maxi virá. O Maxi veio com o desejo de ser ídolo do Vasco, é isso que a gente percebe. E o que eu acho que ajudou o Maxi, também, é que o nível está muito baixo. Ele é um cara muito diferenciado tecnicamente e consegue fazer a diferença. É nítida a diferença que ele consegue fazer nos jogos.
Você já tem o diploma de técnico de futebol pela CBF e já trabalhou como auxiliar do no Cruzeiro e no Tigres-RJ. No próximo ano, o seu objetivo é exercer a profissão ou atuar fora das quatro linhas, como um gestor? Esse também é um desejo?
Eu estudei algumas possibilidades. Estudei mesmo, eu fiz os cursos licença B e licença A de treinador da CBF. Para a licença PRO é preciso receber um convite da CBF, não é uma inscrição. Então, estou aguardando. Fiz jornalismo e preciso me preparar em algumas áreas para, quando aparecer uma oportunidade, eu não usar apenas o meu nome e ter conteúdo, para poder aplicar o que eu aprendi. Na parte administrativa, eu também estou preparado porque, caso eu trabalhe nesta área, será uma área técnica e não uma área executiva. Pode até ter um nome de diretor executivo, mas, se eu tiver liberdade, eu não vou usar esse nome. Executivo parte de um conhecimento de gestão, da parte contratual e o meu conhecimento é técnico e de futebol. Na parte administrativa, seria como um diretor técnico ou diretor de futebol, algo mais direcionado para a contratação de atletas, avaliação do trabalho, metodologia de trabalho no campo, algo direcionado ao futebol.
Por ser uma pessoa muito identificada com o Vasco, você aceitaria uma proposta para trabalhar no Flamengo?
Não! Essa resposta eu já dei com 18, 19 anos, quando fui perguntado sobre isso. Eu estou longe de ser o maior ídolo da história do Vasco, mas eu tenho muito respeito ao pelo carinho que eu recebo do torcedor. É lógico que não tem como não trabalhar em outros clubes, mas em um rival direto é algo que me incomodaria. Eu não tenho esse desejo, eu não tenho essa vontade. E um dos critérios que eu analiso, que são até mais importante do que os profissionais, é esse respeito pelo torcedor vascaíno.
Qual é o papel que você teria dentro da Chapa Sempre Vasco, que teve como candidato Júlio Brant, caso ela vencesse as eleições?
Isso foi algo conversado pelos membros do grupo, a oportunidade de realizar algumas funções. Essas coisas são debatidas e conversadas. Eu sempre deixo claro qual função que posso executar, principalmente para o bem do Vasco. Pode ser boa, mas primeiro precisa ser boa para o Vasco. Se não for tão boa para mim, mas for boa para o Vasco, e eu tiver condição de executar, eu vou seguir esse caminho.
Como você avalia o trabalho do Alexandro Campello como presidente do Vasco?
Eu vou falar de uma forma bem particular. Eu não sinto vontade moral e ética para falar sobre esse cidadão. Até crítica ele não merece. Essa é a minha opinião, do Pedrinho. Não estou falando em nome do grupo. Eu tenho, muito bem definido, em minha mente, o trabalho dele, mas, nem isso eu faço, porque, na minha opinião, ele não merece. Foi uma surpresa (a postura de Campello ao abandonar o grupo, para ser candidato à presidência). Eu não tinha muita intimidade com ele, nunca tive. Ele me operou, mas foi uma surpresa, pelo decorrer da campanha.
Você vê o Palmeiras como um exemplo para uma reestruturação do Vasco?
É um grande exemplo. Na minha época, o Palmeiras já tinha um centro de treinamento. Isso foi em 2001 e até hoje o Vasco tem dificuldade com isso. A estrutura que eu vi no Palmeiras, eu conheço alguns clubes de fora, não deixa nada a desejar para ninguém. Tem um hotel cinco estrelas, uma estrutura de reabilitação impressionante para os atletas. É isso que eu sonho para o Vasco. Eu sonho para o Vasco uma arena maravilhosa. Hoje, o Palmeiras tem uma média de 33 mil pessoas por jogo. Muita gente diz que isso é pela qualidade do time, mas, quando a fase não era boa, o número de torcedores era o mesmo. Você tem um estádio moderno, aconchegante, onde o torcedor consegue ter entretenimento. Uma arena que foi considerada uma das mais bonitas. Aí, junta o útil ao agradável. Não é um trabalho fácil, é um trabalho longo, ainda mais porque é preciso zerar muita coisa errada que há. Para, então, conseguir ter toda essa modernidade.
Você não tem medo de sujar a sua imagem com a torcida do Vasco? Pretende ser o presidente do Vasco um dia?
Tudo tem o seu momento. Acho que o momento é do Júlio Brant, eu não tenho essa ambição de ser presidente. A minha ambição é ver o Vasco da forma como eu falei, com um centro de treinamento moderno, com uma arena moderna. O Vasco teve em dez anos três rebaixamentos. Caiu três vezes, não foi feito nada e a dívida só aumentou. Poderíamos ter um time mais limitado para zerar as dívidas do clube, fazer um CT. Porém, não foi isso que aconteceu. Eu ficava muito incomodado com isso. Poderia ficar em casa só vendo as coisas do Vasco, porque eu amo o clube. A minha vida é o Vasco. Eu recebia muitos comentários pedindo para ajudar o clube. Às vezes, a gente precisa se expor. O que eu tenho certeza é que a minha pureza, a minha honestidade na vida e no clube me daria uma tranquilidade. Se as pessoas verem que eu errei, vai ser um erro de um humano. Nunca vai ser para tentar levar vantagem sobre o clube. Vai ser um erro de uma pessoa honesta, que errou tentando acertar. Eu perdi o medo de ser criticado e botei a cara a tapa, porque muitos vascaínos me mandavam mensagem e conhecem a "Sempre Vasco", que é um grupo de pessoas que não precisado Vasco para nada. Todos estão juntos com o mesmo pensamento, de se mexer para tirar o Vasco dessa situação difícil.
Você aprova o Edmundo como o futuro presidente do Vasco?
Ele pode vir a ser. Acredito que, nesse momento, ele tem o mesmo pensamento, que é o momento do Júlio. Eu acho que o Júlio é um cara muito capacitado, mas o Edmundo tem uma história linda. Ele ama o Vasco, é um cara muito inteligente, que se prepara para as coisas e eu acho que esse momento vai chegar. O momento do Edmundo vai chegar.
Você já vê o Palmeiras como campeão brasileiro?
Quando o Palmeiras não estava ainda em primeiro, eu falei que o time ia chegar e seria o campeão. Agora não tem motivo para eu mudar. Eu não sou um expert. Analisando os jogos, eu não via o São Paulo convincente nas vitórias. Eu via o São Paulo ganhando de uma forma arrastada. Eu via o Inter com capacidade, mas não era constante e via o Palmeiras em uma subida absurda. Ganhando e contagiando. Por isso, tão perto do fim da competição, eu acho difícil o Palmeiras perder esse título.
Você ainda tem contato com alguém do Palmeiras?
Eu tive lá há um tempo atrás para conhecer a estrutura. Eu estive com o presidente da época que era o Paulo Nobre e o Cuca, o treinador. Muitas pessoas que lá trabalhavam, na minha época, saíram, mas ainda tenho um contato. Dos jogadores mais chegados, o William Bigode, que trabalhou comigo no Cruzeiro, o Fernando Prass, que eu tenho um conhecimento, o Luan, que jogou no Vasco, mas nada tão intenso como era na minha época.
Como você está vendo o trabalho do Tite na Seleção Brasileira?
Eu fiquei muito feliz e satisfeito com a renovação do Tite. Quando a Alemanha foi campeã em 2014, a gente fez avaliações muitas, falando que o trabalho deles era lindo, um trabalho de longo prazo, que era um trabalho que começou em 2002 e foi feita uma renovação aos poucos, mantendo uma metodologia de trabalho. Nessa época, inclusive, eu trabalhei como comentarista. No Brasil, é estranho, porque, ao mesmo tempo que você deseja uma pessoa, ao perder, ela não presta mais. A gente precisa entender que o Brasil não vai vencer todas as Copas. Muitas pessoas também falam que o Campeonato Brasileiro é a única competição onde 12 ou 13 times começam com chances de título. Isso é outra mentira. As pessoas analisam a grandeza, mas não analisam o elenco, as possibilidades. Podem existir 12 ou 13 clubes grandes, mas não são todos que têm chances de título. Não são favoritos para disputar o título. São alguns tabus que precisam ser quebrados. Com relação à Seleção Brasileira é isso, o Tite começou a fazer uma transição, teve uma renovação aos poucos, apesar disso, a gente não esperava que fosse eliminada na Copa do Mundo. Mas, ao analisar o trabalho, vemos que é preciso continuar. A gente tinha o Neymar voltando de lesão, a gente via o esforço dele para jogar, mas não sabia se estava 100% fisicamente. Ele precisou recuperar o tornozelo e, para isso, precisou se poupar fisicamente. Porém, ele não conseguiu entrar em forma. São muito detalhes, mas é um trabalho que precisa ser longo. O Brasil não vai ser campeão tantas vezes seguidas, existem outras grandes seleções. Precisamos ter uma identidade de futebol, que no Brasil é a habilidade, o talento e jogadores técnicos. A partir disso, fazer uma metodologia, desde as categorias de base, e ter um treinador com as mesmas características nesse processo.
Durante a sua carreira, você ficou marcado por ser um jogador ofensivo, que partia para cima dos adversários. Qual a sua avaliação sobre as críticas que o Neymar recebeu durante a Copa do Mundo pelas constantes quedas em campo?
O Neymar é um jogador que vai muito para o duelo. É normal uma autoproteção. O exemplo que eu dou é que, se você está andando a 20km/h de carro, é muito mais fácil para desviar. Se você está a 200km/h e vai desviar, e, de repente, tem um contato, o teu carro vai capotar 200 vezes. O que acontece é isso. O Neymar joga a 200km/h e é muito leve. Ele vem em uma velocidade absurda, tem que fazer uma mudança de direção drástica e acontece um contato. Ele pode exagerar um pouco, em algumas oportunidades, até porque ele toma muita pancada. O adversário atinge ele dando pancada e ele acaba valorizando um pouco demais. Mas eu não tenho essa imagem dele que o pessoal criou em cima dele.
Você vê o Neymar como o jogador certo para ser o capitão da Seleção Brasileira?
Essa coisa de capitão depende muito da sensibilidade do treinador. O Dudu, no Palmeiras, era, teoricamente, um pouco rebelde. Aí o Cuca teve a sensibilidade e lhe deu a faixa de capitão e ele criou uma responsabilidade. De repente, o Neymar tomava muito cartão, reclamava muito. A faixa de capitão pode não ser por uma liderança moral ou verbal. É por uma liderança de proteção. A faixa cria um impacto na arbitragem. O juiz vê a faixa de capitão e pode balançar na hora de dar um cartão. Ele mesmo, se não fosse o capitão, já seria uma liderança por si só pela admiração do grupo.
Fonte: Yahoo