Em sua prestação de contas de 2017, Eurico Miranda culpa Brasil e política do clube pelo aumento das dívidas
Em sua prestação de contas de 2017, que já teve a recomendação aprovada pelo Conselho Fiscal, o ex-presidente cruzmaltino Eurico Miranda aponta o "aprofundamento da crise econômica do Brasil, a indefinição das eleições do Vasco e a lentidão da Justiça em liberar quase R$ 30 milhões retidos" para justificar o aumento da dívida em comparação ao ano anterior.
Segundo o documento, o déficit saltou de R$ 559 milhões em 2016 para R$ 582 milhões em 2017, significando um aumento de R$ 23 milhões. O relatório, porém, frisa que no total do triênio de sua gestão o Vasco conseguiu reduzir sua dívida em cerca de R$ 106 milhões, já que o balanço aponta um débito de R$ 688 milhões em 2014.
O texto contido logo no início do balanço patrimonial apresentado, com páginas carimbadas por Eurico Miranda, divide o ano de 2017 em dois períodos: primeiro e segundo semestre.
No primeiro, destaca que, mesmo com as dificuldades, conseguiu manter os salários e as certidões negativas de débito em dia. No segundo, destaca os quatro últimos meses, "quando o reflexo da campanha eleitoral paralisou os negócios do Vasco devido às incertezas dos parceiros sobre qual seria o futuro do clube".
O texto segue ainda dizendo que "numa instituição que precisa permanentemente buscar recursos para o seu dia a dia, essa indefinição provocou uma série de dificuldades que culminaram com atrasos salariais e a não renovação da certidão positiva com efeitos de negativa da Receita Federal no mês de outubro".
Na parte final do relatório, há um tópico sobre as "principais áreas de atuação no primeiro semestre", destacando os itens "administrativo e financeiro", "patrimonial" e "esportivo".
No administrativo, ressalta os salários em dia, a renovação de contrato com a Caixa Econômica Federal, o patrocínio da TIM e a manutenção das certidões, que viabilizou recursos do CBC (Comitê Brasileiro de Clubes).
No patrimonial, destacou as obras estruturais na arquibancada de São Januário e as instalações de um centro de saúde para a base e os esportes olímpicos.
No esportivo, o título da Taça Rio e a integração com a base.
Já no segundo semestre, justifica novamente os problemas financeiros com as questões já supracitadas, incluindo ainda a punição com a perda de seis mandos de campo por parte do STJD por conta dos incidentes em clássico com o Flamengo, fato que, segundo cálculos do balanço de Eurico, custou prejuízo de cerca de R$ 5 milhões em renda.
Em termos de patrimônio, destaca a reinauguração do Parque Aquático e a recuperação da fachada de São Januário.
Em âmbito esportivo, o título estadual sub-20 e a classificação para a Copa Libertadores no profissional após cinco anos.
Com o parecer favorável do Conselho Fiscal para as contas, o presidente do Conselho Deliberativo, Roberto Monteiro, convocou uma reunião para o próximo dia 8, na qual será votado primeiramente qual balanço é válido, o de Eurico ou o entregue em abril pelo atual presidente, Alexandre Campello. Em seguida, os conselheiros votarão se aprovam ou não o escolhido.
Conselheiro protocola reprovação das contas de Eurico
Membro efetivo do Conselho Fiscal, o conselheiro Otto Carvalho protocolou na última quarta-feira (31), na secretaria do Vasco, seu parecer contrário à recomendação da aprovação das contas de 2017 apresentadas por Eurico Miranda. O dirigente apontou falhas na antecipação de recursos e prestações, dando como exemplos um suprimento de caixa na ordem de R$ 5,5 milhões de Eurico, além de ressarcimentos e adiantamentos a outros cartolas supostamente sem comprovação.
Ainda na carta, cita uma "omissão de contrato" referente à venda do volante Douglas Luiz para o Manchester City (ING) ano passado.
Otto Carvalho cita ainda o descumprimento de contrapartidas legais, como a falta de pagamentos de impostos, salários e direitos trabalhistas durante a administração de Miranda.
Por fim, sugere ao Conselho Deliberativo que avalie o período de Eurico como uma "gestão irregular ou temerária" e que também analise um "eventual favorecimento financeiro dos Srs. Silvio Aquiles Hildebrando Godói e Dennis Carrega Dias", que eram membros da diretoria administrativa no período sob análise.
Vale ressaltar que Otto Carvalho foi voto vencido no Conselho Fiscal, já que os outros dois integrantes, Edmilson Valentim e Rafael Landa, votaram a favor da recomendação da aprovação das contas de Eurico Miranda.
Conselho classifica explicações de Eurico como "satisfatórias"
No documento que deu o parecer favorável às contas de Eurico, o Conselho Fiscal admite que há a "existência de movimentações sem a devida documentação comprobatória". O órgão, no entanto, diz que solicitou esclarecimentos aos membros da Diretoria Administrativa da gestão anterior e "entende que as respostas a todos os questionamentos foram consideradas satisfatórias".
Ainda no texto, há a ressalva de que as despesas nas contas apresentadas por Eurico ultrapassaram em 4% o valor orçado, mas valendo-se também de outros argumentos dados pela antiga gestão, entenderam que não há "motivo suficiente para ensejar a recomendação de reprovação das contas".
Tal documento é assinado por Rafael Landa, relator da análise das contas, e não pelo presidente do Conselho Fiscal, Edmilson Valentim.
Movimento de conselheiros fica estagnado
Em maio, um grupo de conselheiros ensaiou um movimento para o recolhimento de 60 assinaturas com o objetivo de se convocar uma reunião do Conselho Deliberativo para questionar o tal suprimento de caixa de Eurico Miranda citado por Otto de Carvalho em carta. A ação, porém, nunca foi para frente e segue estagnada. Grupos de oposição que não são aliados se acusam sobre quem é o culpado em não dar prosseguimento ao caso.
Fonte: UOL