Grupo 'Esquerda Vascaína' participou de manifestação contra o candidato à presidência do Brasil Jair Bolsonaro
Quarta-feira, 03/10/2018 - 04:21
Durante esse sábado (29), por cerca de 80 cidades do Brasil e ao redor do mundo, ocorreu uma série de manifestos originalmente feministas e antifascistas contra o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL). Os participantes creem que o candidato é uma ameaça à democracia, aos negros, às minorias, aos pobres, às mulheres e ao povo LGBTQI+.

No encontro de manifestantes que ocorreu na Cinelândia, centro do Rio, uma cena chamava a atenção de muitos: torcedores com as camisas de seus times carregavam suas bandeiras estilizadas com dizeres esquerdistas e contrários ao candidato do PSL. Eles entoavam gritos originais das arquibancadas com modificações de acordo com o ato político, numa espécie de paródia. Grupos como o "Esquerda Vascaína", "Esquerda Rubro-Negra" e "Fluminense Antifascista" estavam presentes e comandando boa parte da multidão, como mostra o vídeo.

Cléber Neto, 32, é professor de matemática e integrante do grupo esquerdista vascaíno. Sobre a influência que o candidato pode ter no futebol, numa possível posse do cargo, ele declarou:

"A arquibancada já é um espaço muito machista, homofóbico, misógino, mulheres se sentem mal de estarem no estádio, gays se sentem mal também de estarem no estádio e a vitória dele eu acho que vai reforçar o espaço da arquibancada como um espaço em que algumas pessoas não podem ir. A truculência dele nesse espaço é mais fácil de ser capturada, sabe?".

De acordo com Cléber, o grupo foi criado no dia 7 de novembro de 2017 em razão dos acontecimentos polêmicos da última eleição à presidência do Vasco. O grupo se posicionou contra qualquer uma das duas chapas na disputa presidencial, se manifestando com princípios progressistas, a fim de garantir que a história do clube cruzmaltino fosse respeitada. A Esquerda Vascaína se organiza em um grupo de WhatsApp com cerca de 25 membros que são divididos em comissões de comunicação, ação social, tesouraria e logística. A equipe também tem um grupo e uma página no Facebook. A ideia deles é que essa união esquerdista se amplie e tenha cada vez mais adeptos nas arquibancadas defendendo assuntos como a luta contra o racismo e o Vasco como sendo um clube plural, da zona norte, "diferente de outros que vêm da elite".

O movimento "Fluminense Antifascista" levou suas bandeiras ao ato defendendo também seu ideal de esquerda contra o candidato. A página deles no Facebook conta com mais de 3 mil seguidores. É composto por torcedores simpatizantes ao PSOL, anarquistas, eleitores do PT, de Ciro Gomes e afins. Segundo um dos integrantes do grupo, o historiador Rennan Fields, 28, a união não foca em um candidato e cada um tem liberdade para escolher o seu, porém ele acredita que num possível segundo turno o grupo vá se fechar em votar no candidato que dispute com Jair Bolsonaro, pois a ideia do grupo é "frear o fascismo", tendo em vista a "diferença astronômica" de um candidato para o outro.

"A torcida do Fluminense, no âmbito da homofobia, por exemplo, ela leva um ranço muito grande porque é aquela torcida de pó de arroz, torcida que as pessoas dizem ser de "viado" e por conta disso ela se blinda entre ela mesmo no movimento popular, e ela não deixa que a gente faça um debate porque a torcida do Fluminense, apesar de levar esse ranço, eu arrisco a dizer que é a torcida mais homofóbica do Rio, hoje, pelo motivo de sofrer esse preconceito. E eu acredito que ela não consiga aceitar e seja um pouco mais radical em relação ao movimento LGBT dentro da torcida do que outras torcidas dos outros clubes grandes do Rio. A gente vê movimentos, por exemplo dentro do Vasco, mais fáceis dentro da torcida de se fazer e de colocar pra frente."

Contou Renan à nossa reportagem.

Outro grupo que marcou presença no ato foi o "Esquerda Rubro-Negra". O círculo existe há um ano, aproximadamente, e as únicas exigências para participar da comunidade é ser torcedor do Flamengo e defender uma pauta de diversidade e redução da desigualdade no Brasil. O administrador Luís Eduardo Ribeiro, 44, membro do grupo, conta que o movimento procura influenciar, através do esporte, para que seja construído um país menos desigual:

"O esporte é um caminho pra cidadania. Assim como a cultura, o esporte é um grande caminho pra uma construção de um Brasil menos desigual, de um Brasil que busque colocar nas comunidades carentes uma alternativa à juventude pra que ela possa buscar outros caminhos que não seja a criminalidade."

Sobre uma possível vitória do candidato do PSL, Luís afirmou:

"O Bolsonaro é um completo retrocesso em todas as análises e perspectivas que possam se fazer. Na perspectiva da democracia, na perspectiva da liberdade de expressão, na perspectiva da presença, da diversidade, do negro, da mulher, do homossexual no esporte. O esporte nada mais é do que um reflexo da sociedade, e pra que nós tenhamos uma sociedade mais democrática, a gente precisa ter também um esporte mais democrático, mais justo e que acolha a diversidade. Bolsonaro é o oposto de tudo que nós acreditamos pra construção de um brasil menos desigual, mais justo e democrático."

As eleições para presidente se encaminham para o momento final e as votações ocorrem no próximo domingo, dia 7 de outubro. O candidato Jair Bolsonaro (PSL) segue liderando as pesquisas de intenção de voto, seguido por Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB).



Fonte: Tabela Carioca