Afastado e criticado pela torcida no Vasco, Wellington 'renasce' no Atlético-PR
Sábado, 29/09/2018 - 09:25
Dois meses. Esse foi o tempo que Wellington demorou para mudar o rumo na carreira. De afastado no Vasco e criticado pela torcida, o volante vive outro momento, completamente oposto, agora com a camisa 5 do Atlético-PR. Desde que chegou ao Furacão, o jogador tem sido titular absoluto e peça importante no time do técnico Tiago Nunes.

E não é só no meio-campo, no papel de organizador, que Wellington tem contribuído no Rubro-Negro. Do tipo que "fala muito, orienta e tem experiência", segundo Tiago Nunes, o volante também tem dado sua parcela importante como um dos líderes da equipe, ao lado de jogadores como Paulo André, Lucho González, Jonathan e Thiago Heleno. Apesar do pouco tempo no CT do Caju, ele rapidamente se adaptou ao grupo e tem recebido elogios dos torcedores atleticanos em suas apresentações.

– O Wellington é um profissional 100%, um cara sensacional, que se adaptou muito bem ao grupo e ao estilo que o treinador quer que jogue. Tem experiência, rodou por vários clube e veio nos ajudar. É sempre bom receber jogadores com esse espírito, que querem conquistar títulos - disse Lucho, em entrevista exclusiva ao Globo Esporte.

Wellington foi contratado pelo Atlético-PR no final de julho para suprir a saída do chileno Esteban Pavez e chegou sob desconfiança da torcida pelo final de sua passagem no Vasco. Em 2018, ele caiu de rendimento, perdeu espaço na equipe e se envolveu em uma polêmica: foi afastado pela diretoria após postar uma foto nas redes sociais ironizando as vaias que recebia da torcida, ao lado de jogadores como Rafael Galhardo, Paulão e Fabrício.

Situação diferente que viveu em 2017, quando chegou a se firmar com Zé Ricardo e se transformou em uma das principais peças da equipe na reta final do Brasileiro daquele ano. Além da marcação, ele era efetivo no ataque e tinha liberdade para aparecer na frente e participar de jogadas ofensivas.

Após a turbulência no time da Colina, Wellington passou a treinar em separado até fechar com o Atlético-PR, que havia mostrado interesse em sua contratação no ano passado. Em seguida, rescindiu com o Vasco, onde estava emprestado, e o São Paulo, clube que tinha contrato até o final do ano, e assinou com o Furacão até julho de 2019.

Até agora, soma 12 jogos, todos como titular, com um gol marcado, logo em sua estreia, na goleada sobre o Vitória, por 4 a 0 (veja abaixo). Com ele em campo, o Rubro-Negro só perdeu duas partidas.

Origem humilde, chuteira na lixeira e começo no Corinthians

Quem pode contar melhor mais sobre a história de Wellington é o seu único irmão, Wesley. Oito anos mais velho, ele foi jogador de futebol e é um dos grandes incentivadores da carreira do volante. Eles cresceram no bairro Morais Prado, em São Paulo, e costumavam dar trabalho para os pais, Dora e Sebastião, dona de casa e caminhoneiro.

– Ela brigava porque a gente às vezes faltava na escola para jogar bola - entrega, aos risos.

Fã de Rivaldo, Wellington era chamado de "Tico" pelo irmão e era calmo quando criança, mas "nunca foi de levar desaforo para casa", segundo Wesley. Tudo era resolvido na rua. Se pintava alguma briga, Wesley prontamente defendia o irmão. Mas muitas vezes, nem precisava.

– Ele mesmo resolvia, mas na maioria das vezes, não precisava eu intervir. Apesar do perfil dele ser mais magrinho, ele é bem forte. Engana bem - contou Wesley, que mora em Apucarana-PR desde 2011 e mantém tem uma franquia da Escolinha Furacão, que revela talentos para o Atlético-PR.

Inseparáveis, eles costumavam passar horas jogando bola no quintal de casa, mas virar jogador profissional era algo muito distante da realidade da família Martins.

– Ele não pensava em ser atleta profissional. Eu tinha chuteira, mas ele, não. Uma vez achamos uma chuteira na lixeira de um vizinho, coloquei nele e serviu, deu certo.

– Eu que levava ele para jogar, treinava, era o professor dele. Estava ao mesmo tempo ensinando e também aprendendo. De tanto que a gente brincava em espaço pequeno, ele foi jogar no campo e descobriu um grande talento - contou ao GloboEsporte.com.

Wellington e Wesley jogavam futebol em uma escolinha de várzea, até que um dia o caçula foi chamado para um teste na base do Corinthians. Aprovado na peneira, ficou no clube dos 10 aos 14 anos. De lá seguiu para o São Paulo, que já estava de olho em Wellington desde os campeonatos de base. A posição era diferente da atual: atacante.

14 anos no São Paulo, lesões e doping no Inter

Wellington começou no São Paulo aos 17 anos e foi promovido ao time profissional em 2008, com o técnico Muricy Ramalho. Costumava jogar com mais velhos e jogou como primeiro volante, segundo, lateral e ponta. Ao todo, foram 14 anos no clube paulista, com direito a título da Sul-Americana de 2012, além de passagens por seleções brasileiras de base.

Seu primeiro gol no Tricolor foi marcado contra o Bahia, em novembro de 2011, no Estádio de Pituaçu, pelo Campeonato Brasileiro. E foi um golaço. Ele recebeu a bola pela direita, deu um chapéu na entrada da área e, sem deixar a bola cair no chão, acertou um lindo chute no gol de Marcelo Lomba (veja abaixo).

A primeira grave lesão do volante aconteceu em 2012, quando rompeu o ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo e ficou seis meses fora dos gramados. Em 2014, mais uma: jogando pelo Internacional, emprestado pelo São Paulo, Wellington machucou novamente o joelho, dois anos e oito meses depois da mesma lesão. Na segunda vez, passou nove meses sem jogar.

– Foi um período muito difícil. A gente sabe que contusões assim atrapalham demais a carreira de um profissional, retrocede o sonho, os planos, mas graças a Deus, mesmo com as dificuldades, ele superou tudo, com a força da família e da esposa dele - conta o irmão.

E o drama não parou por aí. Em 2015, o volante foi suspenso durante seis meses por doping - testou positivo para as substâncias hidroclorotiazida e clorotiazida, classificadas como diuréticos.

– Muito complicado. Assim que ele recuperou da lesão, teve que ficar mais um tempo longe do futebol pelo doping, uma situação difícil, tem que trabalhar muito o psicológico. Mas ele é guerreiro. Já começou lutando na vida e, quando é assim, você já sabe guerrear e sair por cima, vencedor.

Wesley também disse que a turbulência vivida no Vasco já faz parte do passado, e vibra com o bom momento do irmão, agora jogando e se destacando no Atlético-PR.

– Foi um episódio mal explicado, acho que ele foi injustiçado. Pelas derrotas, eles precisavam achar um culpado, mas são coisas que acontecem. Ele teve um período bom e outro ruim no Vasco. Estava desacreditado, mas o Atlético-PR observou e captou, e agora está tendo destaque.

– Ele está muito bem, encantado com toda a estrutura. Eu definiria como um milagre, uma benção, depois de tudo que ele passou. Ele estava num clube grande e que tem história, mas não tem estrutura. É coisa de Deus mesmo. Ele está com bastante pé no chão. Tem tudo que precisa, então ele vai para o campo feliz. Ele está podendo passar toda a experiência que tem e está dando certo.

Com Wellington, o Atlético-PR volta a campo no domingo, contra o Santos, às 16h (horário de Brasília), na Vila Belmiro. O Furacão vem de vitória sobre o lanterna Paraná Clube, por 3 a 0, e ocupa a 10ª posição na tabela, com 33 pontos - a cinco da zona de rebaixamento. O Santos empatou com o Vasco, em 1 a 1, na quinta-feira, em jogo adiado da terceira rodada do Brasileirão.



Fonte: GloboEsporte.com