Relembre a finalíssima do Brasileiro de 1997, em que Edmundo enfrentou o Palmeiras graças a um efeito suspensivo
Domingo, 12/08/2018 - 09:01
Neste domingo, Palmeiras e Vasco se enfrentam pela 18ª rodada do Campeonato Brasileiro, às 19h (de Brasília), no Allianz Parque.

E no reencontro do técnico Luiz Felipe Scolari com o tradicional rival de tantos grandes jogos no final dos anos 90, fica difícil não lembrar de uma das mais famosas histórias envolvendo paulistas e cariocas: o polêmico efeito suspensivo de Edmundo na final do Brasileirão de 1997.

Voltando no tempo, o Cruz-Maltino fez grande campanha naquele torneio, chegando à final de maneira destacada e com o "Animal" marcando 29 gols.

Já o Verdão, que iniciava a "era Felipão", foi mais aos trancos e barrancos, mas também alcançou a decisão com boa possibilidade de ganhar o título.

Por ter ido melhor na fase inicial, no entanto, o clube do Rio tinha a vantagem de jogar por dois empates.

O duelo de ida, em 14 de dezembro, no Morumbi, foi carregado de tensão.

Marcado implacavelmente pelo zagueiro Roque Jr, Edmundo perdeu a cabeça e jogou a bola no defensor ao sofrer uma falta, levando cartão amarelo do árbitro Antônio Pereira da Silva e ficando automaticamente suspenso para o duelo de volta por ser sua 3ª advertência.

Foi então que a polêmica começou.

Orientado pela diretoria vascaína, o "Animal" chutou Cléber (o outro zagueiro palestrino e ex-companheiro do próprio atacante nos tempos de atleta alviverde entre 1993 e 1994) de maneira leve e levou cartão vermelho, aos 36 minutos do segundo tempo.

Isso "anulou" o 3º amarelo e criou a brecha para que o polêmico atleta fosse a um possível julgamento no Tribunal Especial da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) por agressão no meio da semana, dias antes do duelo de volta, no Rio de Janeiro.

A expectativa inicial era que Edmundo fosse condenado e ficasse de fora da finalíssima, até porque os membros da corte esportiva já estavam em recesso de fim de ano. O técnico Cruz-Maltino, Antônio Lopes, inclusive, já até treinava com Mauricinho como substituto.

"Todos os telespectadores do Brasil viram que houve uma agressão. Seria calamitoso se houvesse uma absolvição. Ele (Edmundo) certamente será condenado se for antecipado o julgamento", opinou Marco Polo Del Nero, então presidente do TJD (Tribunal de Justiça Desportiva) da FPF (Federação Paulista de Futebol), em entrevista à ESPN após a final de 1997.

"Se conseguirem alguma coisa, aí tem que dar um prêmio a quem bolou tudo isso e a quem assine alguma coisa liberando o Edmundo", explodiu Felipão, em entrevista coletiva, colocando ainda mais lenha na fogueira.

Dias depois, porém, o Tribunal foi convocado de maneira extraordinária após atuação de Eurico Miranda, então vice-presidente vascaíno, nos bastidores.

Mesmo em meio ao recesso, a corte concedeu um efeito suspensivo por 6 votos a 1 ao camisa 10 do time de São Januário, permitindo que ele atuasse no duelo de volta da final do Brasileiro, no domingo, dia 21 de dezembro.

Dessa forma, Edmundo, que inclusive já estava vendido para a Fiorentina-ITA, foi titular novamente no Maracanã e não marcou, mas viu o Vasco segurar novo 0 a 0 e sagrar-se mais uma vez campeão brasileiro, para quase 90 mil pessoas.

Na volta olímpica do título, o craque foi carregado nos ombros pelos companheiros.

Em junho de 2012, Luiz Felipe Scolari mostrou que ainda não havia "engolido" a decisão da Justiça tantos anos antes.

Após o jogo de volta da semifinal da Copa do Brasil, contra o Grêmio, em que o zagueiro palmeirense Henrique foi expulso de maneira equivocada, ele recordou o caso de Edmundo para pedir que seu atleta fosse absolvido pelo STJD.

"Em 1997, o Edmundo não ia jogar (estava suspenso), e o Eurico (Miranda, ex-presidente do Vasco) colocou o código penal de ponta cabeça e ele jogou", recordou o treinador.

Agora, em sua 3ª passagem pelo Palestra Itália, é muito provável que Felipão ainda pense vez ou outra no mais polêmico Palmeiras x Vasco da história...

FICHA TÉCNICA

VASCO 0 x 0 PALMEIRAS

Local: Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro-RJ
Data: 21 de dezembro de 1997, domingo
Horário: 18h (de Brasília)

Público: 89.200 torcedores
Renda: R$ 1.300.000,00
Árbitro: Sidrack Marinho dos Santos (SE)

VASCO: Carlos Germano; Válber, Odvan, Mauro Galvão e Felipe; Luisinho, Nasa, Juninho Pernambucano (Pedrinho) e Ramón; Edmundo e Evair (Nélson) Técnico: Antônio Lopes

PALMEIRAS: Velloso; Pimentel, Roque Jr, Cléber e Júnior; Galeano (Marquinhos), Rogério, Alex (Oséas) e Zinho; Euller e Viola Técnico: Luiz Felipe Scolari

EX-JOGADORES FALAM

Mauricinho, ex-atacante do Vasco

"A gente não entedeu muito quando no final do primeiro jogo veio aquele recado para o Edmundo ser expulso. Ninguém entendeu nada, porque ele já tinha tomado o terceiro cartão amarelo e estava automaticamente suspenso. Depois explicaram e a gente entendeu. Aí, desde que o Eurico pediu para ele forçar o vermelho a gente sabia que haveria a possibilidade dele jogar a final. E nisso, durante a semana, ficou aquela história de segunda a sexta-feira: 'Será que Edmundo joga ou não joga?'. Durante a semana toda eu tive a oportunidade de fazer coletivos como titular. Lógico que eu tinha a expectativa de entrar, mas no fundo a gente sabia que o Edmundo ia jogar. É difícil ganhar do Eurico, né (risos)? Treinei como titular algumas vezes, mas acabei ficando de fora. Em todo caso, 1997 foi muito importante para nós, um p* título! A gente tinha uma equipe muito boa e fomos coroados campeões com mérito"

Euller, ex-atacante do Palmeiras

"A preocupação em cima do Edmundo sempre existiu. Não por causa de cartão extra ou expulsão. A preocupação sempre existiu porque o Edmundo era um grande jogador, artilheiro do Campeonato Brasileiro, e a gente entendeu que se o deixasse livre ele ia 'deitar' o jogo inteiro. Por isso fizemos uma marcação homem a homem para dificultar para ele, já que nosso time tinha muita raça e vontade. Fora isso, em nenhum momento nos preocupamos em tentar fazer ele 'cavar' um cartão ou essas questões extracampo. Infelizmente, o que aconteceu, aconteceu... São coisas que acontecem sempre no nosso futebol, desde o tempo que eu jogava até hoje. São tantos equívocos e coisas erradas que existem no nosso futebol. Essa efeito suspensivo do Edmundo antes da final foi só mais um"

OUTROS EFEITOS SUSPENSIVOS FAMOSOS

Em outra ocasião, o próprio Palmeiras se aproveitou de um efeito suspensivo, e também envolvendo Edmundo. Na final do Brasileiro de 1994, contra o Corinthians, o "Animal" e o zagueiro Antônio Carlos só entraram em campo por conta de decisão do Tribunal.

Antes, na semifinal, o Timão também havia se utilizado da estratégia, liberando o volante Zé Elias e o lateral esquerdo Branco também através de um efeito suspensivo.

Até mesmo a seleção brasileira já "comemorou" a liberação de um atleta por meio do "tapetão".

Na Copa do Mundo de 1962, por exemplo, o atacante Garrincha foi expulso na semifinal, mas atuou na decisão após manobra jurídica do famoso dirigente Paulo Machado de Carvalho, que hoje dá nome ao Estádio do Pacaembu, em São Paulo.



Fonte: ESPN.com.br