Campeão brasileiro e da Mercosul pelo Vasco, Euller relembra passagem pelo clube e pelo Palmeiras
Domingo, 12/08/2018 - 17:37
Logo mais, às 19 horas, Palmeiras e Vasco se enfrentam no Allianz Parque, em São Paulo, pela 18ª rodada do Campeonato Brasileiro.

Para simbolizar esse grande clássico do futebol nacional, que já decidiu competições importantes, conversamos com Euller, grande atacante que marcou época nos dois clubes.

Confira o bate papo:

Você jogou ‘apenas' duas temporadas no Vasco, mas o suficiente para marcar seu nome na história do clube, com grandes atuações e duas conquistas muito relevantes (Copa Mercosul – ‘Virada do Século' – e Brasileirão). Qual foi o sentimento por ter feito parte de um dos melhores times do Vasco de todos os tempos?

Para mim foi motivo de muita satisfação e orgulho fazer parte desse timaço do Vasco, que foi um dos melhores times dos quais eu joguei. Eu tive essa felicidade de conquistar títulos importantes e isso, para nós jogadores, é muito importante, pois marca a história do clube. Foi muito gratificante esse período no Vasco.

Seu entrosamento com Romário, dentro de campo, era fantástico. E fora de campo? Eram próximos? O ambiente do elenco de 2000 era agradável de se trabalhar?

De fato, eu tinha amizade com Romário, dentro e fora de campo. Porém, nossas vidas eram diferentes fora das quatro linhas. Ele tinha a vida dele, gostava de coisas das quais eu preferia fazer com minha família. Mas em todo momento nunca deixamos de ser amigos ou de termos entrosamento. Era mais questão de preferência mesmo, de estar em alguns lugares, e de preferência com minha família.

O grupo tinha bom relacionamento. Vez ou outra, juntava-se uma parte do grupo após o treino em algum lugar, num shopping, num bar, alguns tomando sua cerveja, eu tomando meu refrigerante, Romário tomando seu refrigerante. Era assim nosso grupo, muito agradável, muito bom de se lidar.

Qual considera seu gol mais bonito com a camisa do Vasco?

Foram tantos jogos e gols importantes, marcantes… Um gol que gosto muito de relembrar foi no jogo que vencemos o Botafogo por 7 a 0, no Campeonato Carioca de 2001, no Maracanã. Eu fiz o sétimo gol. Foi um gol muito bonito. (Veja no vídeo abaixo)



Trazendo para a atualidade, o Vasco vive momento bastante diferente da época em que você atuava no clube, tanto dentro de campo quanto fora, principalmente no aspecto financeiro. Tem acompanhado? Como avalia o atual momento do Cruzmaltino?

O futebol tem mudado muito no que diz a respeito a você ter dentro de uma equipe vários jogadores considerados craques. Fica muito difícil você fazer uma comparação de uma época com outra. Tem que saber lidar com cada elenco. A tristeza fica por conta de que os clubes perderam identidade, característica. Têm-se formado elencos só por formar, deixando na mão no treinador a necessidade de vitória imediatada, e quando ela não vem, trocam o treinador. Aí não dá certo, troca-se de novo. E um bom planejamento não é imediato, ele vem ao longo do tempo. Então, nós perdemos muito do futebol por conta disso.

Tática e tecnicamente falando, acredita que Yago Pikachu, que cada vez mais vai se firmando como ponta e não lateral, pode ser o ‘novo Euller' de São Januário, mesmo não tendo tanta velocidade quanto você tinha?

Olha… é muito difícil você analisar um jogador e compará-lo com outro. Eu não vejo hoje o futebol brasileiro com jogadores com características do passado. Você não vê mais o zagueirão-zagueirão, o volantão-volantão, o meia-meia e você não vê mais os pontas, com características legítimas de pontas. É uma mistura… A exigência hoje é para que o jogador faça tudo e ele acaba fazendo muitas coisas, porém mal feitas, e não tendo uma ou duas características e sendo craque nessas características.

E isso é ruim, estamos perdendo grandes valores por causa disso, pois estão eliminando alguns valores na base. Hoje, no futebol brasileiro, não vejo ninguém com as características que eu tinha, e isso é triste, pois eliminando uma característica você elimina outras. Por exemplo: eu tinha necessidade de jogar num time que tivesse um meia clássico, lançador. Como hoje você não vê mais esse tipo de jogador, nem um volante com essa característica, você perde o atacante de velocidade. E assim vale para as demais posições.

A respeito do jogo Palmeiras x Vasco de hoje… Em ambos os clubes você fez história. Qual seu palpite para o jogo? Vai torcer para alguém (risos)?

Eu sempre digo que Palmeiras x Vasco sempre poderia terminar empatado, pois foram dois grandes clubes dos quais eu joguei e eu torço muito. E para mim foi um privilégio, não só os dois como também o Atlético Mineiro, essa junção (amizade) dos torcedores, e como eu atuei pelos três, é muito legal poder torcer pelos três.

Em qual dos dois clubes (Palmeiras e Vasco) acredita que teve melhor passagem, tecnicamente falando?

Tecnicamente falando, minha melhor fase da carreira foi no ano 2000, e nesse ano eu joguei nos dois clubes. Meu primeiro semestre, no Palmeiras, foi espetacular, e meu segundo semestre, já pelo Vasco, também foi espetacular. Foi o ano que eu posso dizer que foi perfeito em minha vida, até mesmo pelo privilégio de ter sido convocado para a seleção brasileira pela primeira vez, no ano 2000.

Para encerrar, impossível não falar: como foram os bastidores da conquista histórica da Copa Mercosul de 2000, justamente contra o Palmeiras, no Parque Antártica? Foi o jogo mais marcante de sua vida?

Eu sempre digo que em todos os clubes que passei eu tive um jogo histórico, que marcou a vida do clube, do torcedor e de nós jogadores. E, sem dúvidas, esse jogo me marcou muito, entra pra história, um jogo espetacular, uma virada emocionante, que começou, de fato, fora de campo. No intervalo do jogo, nós nos entreolhávamos e não acreditávamos no que estava acontecendo, não só pelos 3 a 0 do primeiro tempo, mas também pelo chocolate que estávamos tomando, diante da equipe que nós tínhamos. Antes de subir de volta para o campo, no momento que nos reunimos na escada, acredito que ali nós deixamos tudo que tínhamos como ego e levamos para o segundo tempo a humildade de reconhecer que precisávamos fazer algo diferente.

Não imaginávamos que poderíamos virar, mas a palavra que foi mais dita, "minimizar a situação", mostra que o ego ficou no vestiário. E, a partir daí, nós tivemos realmente atitude de grandes jogadores, e dentro de campo o que se viu foi, a cada momento, esperança de que estávamos minimizando a situação. Em outro momento, tentando igualar a situação. E depois, por fim, mesmo com 1 homem a menos, a possibilidade real de fazer história. E isso foi o que aconteceu. Por isso, sem dúvidas, esse é um dos jogos mais marcantes da história do futebol brasileiro e de todos aqueles que fizeram parte desse jogo.



Fonte: NewsColina