Um dos personagens mais importantes atualmente da política vascaína, o empresário Julio Brant, candidato à presidência do C. R. Vasco da Gama (há quem diga vencedor) por duas vezes, falou de forma bastante aberta ao NewsColina!
Cobrado por muitos torcedores e membros da política do clube, Brant vinha adotando um tom discreto acerca dos acontecimentos recentes do dia a dia vascaíno. Mas em contato com a nossa equipe, foi muito solícito e conversou com o Newszão por mais de uma hora.
Mesmo a trabalho em São Paulo, reservou um espaço na sua agenda para falar de Vasco, gestão Campello, cargos aceitos por seus antigos aliados, anistia aos sócios, patrocínio, caso HD, entre outros assuntos.
Com muita firmeza e de maneira direta, respondeu a todas as perguntas, elogiou, criticou e não fugiu de polêmicas.
Confira abaixo o excelente bate-papo:
Como você enxerga antigos aliados estarem ocupando cargos na atual gestão? A Sempre Vasco está enfraquecida no atual cenário político do clube?
Julio Brant: O Vasco é gigante. É natural que as pessoas tenham a ansiedade, a vontade de participar. É compreensível que fiquem envaidecidas com o convite, até porque o Vasco foi por muitos anos um clube muito fechado aos vascaínos "comuns", e isso mudou depois da nossa chegada. Nós somos parte desse processo. Então, não entendo que houve enfraquecimento, apenas algumas pessoas se sentiram atraídas para exercer cargos no clube. E nós não iremos impedir a participação de ninguém. Cada um tem seu julgamento de valor. A Sempre Vasco prefere manter a coerência com o caminho que pensa ser o certo.
Você chegou a receber algum convite oficial por parte da administração Campello?
Julio Brant: Não, nunca!
O que já tinha de efetivamente fechado às vésperas da frustrada posse como presidente?
Julio Brant: Praticamente tudo definido, estávamos muito avançados em todas as frentes. Por isso digo que a traição não foi ao Julio, foi à instituição. As pessoas sabiam como estavam as coisas: empresas de consultoria já estavam trabalhando nos meus escritórios, tive reuniões na Europa com fundos que já estavam definidos, empresa de material esportivo, atleta, clube parceiro na Europa. Tudo pronto para ser apresentado no dia da posse. Um pacote de entrada para dar estabilidade e credibilidade.
Como vê a atuação do advogado Alan Belaciano, membro do seu grupo? E como seria essa relação se você fosse presidente?
Julio Brant: Ele está no papel profissional dele. Ninguém pode contestar isso. E se ele vence a maioria das ações, significa que a gestão do Vasco precisa ser corrigida. A questão é: trabalhar versus atuar politicamente? Colocamos isso para ele e ele preferiu retirar todos os processos do clube e atuar no grupo político.
O que pode falar do misterioso projeto citado em entrevista ao youtuber Mario Coelho, quando você disse que um plano estaria sendo desenvolvido para ajudar o clube, independentemente da gestão?
Julio Brant: Não podemos falar do que se trata um projeto que ainda não foi lançado. Não lançamos pela instabilidade política gerada, pelo racha do grupo que elegeu o Campello. Estamos aguardando para observar, entender o cenário, para aí então saber como agir. O projeto ainda existe, mas não podemos queimá-lo com essa crise política e o clima de incerteza vivido no clube. Não podemos dispor tempo, aportar dinheiro e colocar nossa credibilidade em xeque numa situação dessas.
A perícia do HD está próxima do fim e foi decidido que ela poderá ser usada como prova. Você acredita na possibilidade de novas eleições?
JB: Nossa função não é comentar sobre a justiça. Nós confiamos na interpretação e coerência da justiça. O que posso falar é que o caso está seguindo o curso natural e ao fim do processo iremos respeitar a decisão, pois não esperamos algo a nosso favor, e sim a favor daquilo que é certo. Óbvio que queremos o mais rápido possível mas o tempo da justiça é imprevisível.
Por que o documento em que você colheu 60 assinaturas para pedir explicações ao ex-presidente Eurico Miranda sobre o balanço de 2017 ainda não foi protocolado?
JB: Entendemos que aquele momento era inapropriado, esperamos passar o recesso de Copa do Mundo e as coisas voltarem ao normal. Assim que eu voltar ao Rio, iremos protocolar e cobrar essas explicações ao Eurico.
Como você julga sua participação enquanto oposição? E o que acha da fama de "só aparecer nas eleições"?
JB: Ser oposição em clube de futebol é complicado. Quando não se pronuncia é ausente, e quando resolve falar, quer tumultuar. Nós tentamos ser, e somos, responsáveis, vigilantes e atuantes dentro e fora do clube. Principalmente fora. Foi assim que conseguimos evoluir o processo eleitoral do clube nas duas últimas eleições. Mas não iremos fazer pirotecnia, nem politicagem para parecer que estamos fazendo algo. Se o presidente está no cargo até hoje é graças a nossa atuação responsável e decisiva na questão jurídica do processo eleitoral. A nossa prática é manter o equilíbrio e a estabilidade do Vasco da Gama. Não é discurso, nós já fizemos isso.
O que achou da parceria GPI e o Colégio Vasco da Gama?
JB: Acho positivo, mas longe de ser algo do tamanho da grandeza do Vasco. Vai ajudar bastante, mas esse modelo com o GPI já existe com outros clubes. Não é um grande projeto, uma exclusividade. Nossa ideia era deixar a cargo do presidente do Ibmec. A gente iria estruturar um projeto a longo prazo, uma parceria estrutural e não pontual. Formaríamos profissionais técnicos (atleta sem sucesso), para o clube ou para o mercado em si.
Como você enxerga a política de anistia concedida aos sócios? Se fala em cerca de 110 mil pessoas aptas a participar do programa
JB: Acho muito positivo existir a anistia, mas acredito que pelo alto número de sócios o tempo deveria ser mais longo. E me preocupo também, principalmente com os sócios suspeitos pelo mensalão, mas fora isso, é um processo para aumentar o quadro social, então é extremamente positivo.
E o preço da jóia para sócios com direito a voto? 2000 reais para ser sócio geral não é lá um valor muito acessível
JB: Fomos contra o aumento exorbitante. Quem fez isso antes foi o presidente, então quem tem que fazer agora, também é o presidente. Não entendo porque não faz! Sabemos da situação atual do país, e sabemos também que o Vasco é um clube popular. Isso se torna uma grande barreira para o torcedor. Certamente ele contará com apoio do Conselho, mas não é preciso, pois é uma decisão administrativa. Temos que nos adequar a realidade do nosso cliente (torcedor).
Por curiosidade, você tem opinião formada sobre os seguidos problemas de ordem física que o elenco vem sofrendo?
JB: A minha opinião é que é surpreendente vindo da gestão de um médico. Mas as razões eu não posso falar pois não sou médico. Não tenho base para isso.
O Vasco está prestes a completar oito meses sem patrocínio master? Como enxerga essa situação dramática vivida pelo clube?
JB: É um resposta do mercado. É como enxergam o Vasco e quem representa o clube hoje. Não é um acordão político que vai te legitimar perante o mercado. É necessário ser legitimado pelo torcedor, pelo sócio, para que o mercado te reconheça. Já estamos entrando em agosto. Nesse aspecto, é praticamente um ano perdido para o clube. Não aproveitamos o recesso da Copa para negociar, fechar nada. Perdemos a oportunidade da Libertadores, agora da Copa do Brasil. Nós esperamos pelo bem do clube que consigam acertar, mas é um ano desperdiçado. As grandes empresas se preocupam em se aliar a alguma marca que esteja com uma imagem ilibada. Trata-se do tangível (dinheiro) e intangível (marca, imagem, credibilidade etc).
Apostando alto na força da sua torcida, o Vasco vem fazendo promoções de ingressos nos últimos jogos. Acha que é uma boa medida?
JB: Para o momento que o Vasco vive, é o melhor a se fazer. Baratear o preço para levar o torcedor ao estádio. Mas me preocupa o ticket médio tão baixo. Mostra a incapacidade de levar diferentes segmentos de público ao estádio. Não se consegue agregar valor à experiência de ver o time jogar, de estar em São Januário. O ingresso barato tem que ter, mas o ticket médio precisa aumentar, até porque a conta não vai fechar. Diminui a arrecadação, receita e o custo de manutenção e operação permanecem os mesmos.
Os painéis com foto dos ídolos tem feito muito sucesso. Você gostou?
JB: Achei incrível. Muito bom, lindo. Parceria positiva. Sugiro, inclusive, uma rotatividade dos painéis para podermos homenagear o maior número possível de ídolos.
Qual seria o seu balanço da administração Campello até o momento?
JB: Uma gestão que ainda não conseguiu produzir nada de efetivo. Qual é a marca da gestão? Não sei. Eliminação precoce na Libertadores e Copa do Brasil. Campanha mediana no Brasileiro. Não consegue patrocinador, não consegue consolidar posição de liderança no mercado do futebol (TV, CBF, Federação). Existem ações positivas, como embelezar nossa casa. Além disso, na gestão passada, muitos contratos foram mal feitos no apagar das luzes, com salários altos e incompatíveis com o que o clube pode pagar. Então toda tentativa de otimizar isso é positiva (sobre a reformulação do elenco e a saída de jogadores com altos salários). Mas será, como vem sendo, uma gestão fraca e frágil politicamente até o final. A gestão Campello se resume ainda a uma sucessão de fatos reativos pouco significativos. A parte mais relevante, infelizmente, tem sido a crise e o racha político.
Depois das manobras sofridas na eleição no Conselho em janeiro, a Sempre Vasco, embora tenha sido vítima de um grande golpe, ainda assim saiu fortalecida, garantido boa parte das cadeiras no Conselho Deliberativo. Para as próximas eleições, seria a intenção do grupo uma candidatura mais pura, sem alianças?
JB: A Sempre Vasco é em sua concepção feita por aliados. Sempre buscamos trazer grupos que pensam parecido com a gente para se unir, como a VascoMed, Confraria Vascaína, Guardiões da Colina. Nós já somos um grupo, em essência, formado pela união e vamos continuar sendo. Ninguém faz nada sozinho.
Fonte: NewsColina