Há 60 anos, Brasil ganhava sua 1ª Copa do Mundo com 3 vascaínos no time titular
Sexta-feira, 29/06/2018 - 03:40
Há 60 anos, no dia 29 de junho de 1958, o Brasil começava a ser reconhecido como o país do futebol. O marco foi a vitória na decisão da Copa do Mundo da Suécia, contra os próprios donos da casa, por 5 a 2. Era o primeiro título mundial da Seleção Brasileira. E, não é exagero dizer, o Club de Regatas Vasco da Gama foi um dos clubes que mais contribuíram - se não o que mais contribuiu - para a conquista canarinho nos gramados suecos. Tudo graças a três craques vascaínos, que nos 60 anos deste feito histórico são homenageados pela NETVASCO:
Hideraldo Luiz BELLINI - Zagueiro, tinha 28 anos na época (nasceu em 7 de junho de 1930 em Itapira, SP). Participou de todas as partidas e foi o capitão do time. Foi o primeiro brasileiro a tocar a Taça Jules Rimet e o primeiro jogador de futebol a levantar a taça de campeão acima da cabeça com as duas mãos, imortalizando o gesto que acabou transformado numa estátua que fica à frente de uma das entradas do Maracanã. Faleceu em 20 de março de 2014, aos 83 anos.
ORLANDO Peçanha de Carvalho - Zagueiro, tinha apenas 22 anos na época (nasceu em 20 de setembro de 1935 em Recife, PE). Participou de todos os jogos, sendo dúvida apenas para a final devido a dores na virilha. Formou com o também vascaíno Bellini a defesa menos vazada da Copa do Mundo, sofrendo apenas 4 gols em 6 partidas. Há 60 anos, o Vasco tinha a melhor dupla de zaga do mundo. Faleceu em 10 de fevereiro de 2010, aos 74 anos.
Edwaldo Izídio Netto (VAVÁ) - Atacante, tinha 23 anos na época (nasceu 12 de novembro de 1934, em Recife, PE) e sua coragem na Suécia lhe valeu o apelido de "Leão da Copa". Também era chamado de "Peito de Aço". Nos 4 jogos que disputou marcou 5 gols, todos eles decisivos. Contra a URSS, Fez os dois gols que classificaram o Brasil às quartas-de-final; na semifinal contra a França, fez o gol que abriu o caminho para a goleada brasileira; na decisão contra a Suécia, fez os dois gols da virada canarinho de 1 a 0 para 2 a 1. Foi o quarto artilheiro da Copa do Mundo, atrás apenas de Fontaine (França, 13 gols), Rahn (Alemanha Ocidental, 6 gols) e Pelé (6 gols). Devido ao seu sucesso no Mundial, no mesmo ano foi vendido ao Atlético de Madrid-ESP (eram raras as transferências para a Europa naquela época). Faleceu em 19 de janeiro de 2002, aos 77 anos.
Não podem deixar de ser mencionados os vascaínos que chegaram a ser convocados para a Seleção Brasileira, mas que acabaram não figurando no grupo que viajou à Suécia: o atacante Almir Pernambuquinho, craque explosivo que chegou a ser chamado de "Pelé Branco" e morreu assassinado em 1973; e o goleiro Carlos Alberto Cavalheiro, que, mais tarde, foi presidente do Conselho de Beneméritos do Vasco da Gama, e faleceu em 2012.
Confira abaixo um resumo das partidas disputadas pelo Brasil - e da participação dos vascaínos - desde a estreia até a final:
1º jogo: BRASIL 3 X 0 ÁUSTRIA (1ª fase)
Estréia do Brasil na Copa do Mundo, em 8 de junho de 1958, em Uddevalla. Pelé [Santos] estava machucado, mas era reserva de Dida [Flamengo]. Vavá [Vasco] era reserva de Mazzola [Palmeiras]. Zito [Santos] era reserva de Dino Sani [São Paulo]. Garrincha [Botafogo] era reserva de Joel [Flamengo]. A Seleção jogou, portanto, com 3 jogadores do Flamengo, 2 do Vasco, 2 do Botafogo, 2 do São Paulo, 1 do Corinthians e 1 do Palmeiras:
Gilmar [Corinthians]; De Sordi [São Paulo], Bellini (cap) [Vasco], Orlando Peçanha [Vasco] e Nílton Santos [Botafogo]; Dino Sani [São Paulo] e Didi [Botafogo]; Joel [Flamengo], Mazzola [Palmeiras], Dida [Flamengo] e Zagallo [Flamengo]. Técnico: Vicente Feola.
Bellini [Vasco] era o capitão do Brasil, o que se repetiria em todas as partidas. Os gols foram marcados por Mazzola [Palmeiras] aos 38 minutos do 1º tempo, Nilton Santos [Botafogo] aos 4 minutos do 2º tempo e Mazzola [Palmeiras] aos 44 minutos do 2º tempo.
A Áustria jogou com Rudolf Szanwald; Paul Halla e Franz Swoboda; Gerhard Hanappi (cap), Ernst Happel e Karl Koller; Walter Horak, Helmut Senekowitsch, Hans Buzek, Alfred Körner e Walter Schleger. Técnico: Karl Argaüer. O público foi de 25.000 espectadores e o árbitro foi o francês Maurice Guigue, auxiliado por Albert Dusch (Alemanha Ocidental) e Jan Bronkhorst (Holanda). No outro jogo do Grupo 4, Inglaterra e União Soviética empataram por 2 a 2.
No dia 11 de junho de 1958, em Gotemburgo. Dida [Flamengo] foi barrado por Vavá [Vasco]. Mazzola [Palmeiras], que havia se contundido no jogo contra a Áustria, atuou sem estar 100% recuperado. Pelé [Santos], ainda machucado, e Garrincha [Botafogo], continuavam na reserva. O Brasil jogou, portanto, com 3 jogadores do Vasco, 2 do Flamengo, 2 do Botafogo, 2 do São Paulo, 1 do Corinthians e 1 do Palmeiras:
Gilmar [Corinthians]; De Sordi [São Paulo], Bellini (cap) [Vasco], Orlando Peçanha [Vasco] e Nílton Santos [Botafogo]; Dino Sani [São Paulo] e Didi [Botafogo]; Joel [Flamengo], Mazzola [Palmeiras], Vavá [Vasco] e Zagallo [Flamengo]. Técnico: Vicente Feola.
O jogo terminou num empate sem gols. Foi o primeiro 0 a 0 da história das Copas do Mundo. Vavá [Vasco], considerado pela imprensa o melhor jogador brasileiro em campo, foi quem chegou mais perto do gol ao chutar uma bola na trave aos 30 minutos do primeiro tempo.
A Inglaterra jogou com Colin McDonald; Don Howe e Tommy Banks; Eddie Clamp, Billy Wright (cap) e Bill Slater; Bryan Douglas, Bobby Robson, Derek Kevan, John Haynes e Alan Court. Técnico: Walter Winterbottom. O público foi de 30.000 espectadores. O árbitro foi Albert Dusch (Alemanha Ocidental), auxiliado por Bertil Loeoew (Suécia) e Istvan Zsolt (Hungria). No outro jogo do grupo, a União Soviética venceu a Áustria por 2 a 0.
Disputado no dia 15 de junho de 1958, em Gotemburgo. O Brasil entrou em campo com três alterações: Zito [Santos] no lugar de Dino Sani [São Paulo], Garrincha [Botafogo] no lugar de Joel [Flamengo] e Pelé [Santos], então com 17 anos, no lugar de Mazzola [Palmeiras]. A Seleção Brasileira jogou com 3 jogadores do Vasco, 3 do Botafogo, 2 do Santos, 1 do Flamengo, 1 do São Paulo e 1 do Corinthians:
Gilmar [Corinthians]; De Sordi [São Paulo], Bellini (cap) [Vasco], Orlando Peçanha [Vasco] e Nílton Santos [Botafogo]; Zito [Santos] e Didi [Botafogo]; Garrincha [Botafogo], Vavá [Vasco], Pelé [Santos] e Zagallo [Flamengo]. Técnico: Vicente Feola.
O Brasil deu um show contra o time do goleiro Yashin, o "Aranha Negra", até hoje considerado o melhor arqueiro de todos os tempos. Somente nos dois primeiros minutos de jogo houve uma bola na trave de Garrincha [Botafogo], uma bola no travessão de Pelé [Santos] e finalmente o gol de Vavá [Vasco]. No segundo tempo, Vavá [Vasco] voltou a balançar as redes aos 20 minutos. No lance do gol, o artilheiro vascaíno sofreu uma entrada dura do soviético Boris Kuznetsov em seu tornozelo direito e passou a preocupar a comissão técnica para os jogos seguintes da Copa do Mundo.
A URSS jogou com Lev Yashin; Vladimir Kessarev e Boris Kuznetsov; Juri Voinov, Konstantin Kriglevski e Viktor Tsarev; Alexander Ivanov, Valentin Ivanov, Nikita Simonian, Igor Netto (cap) e Anatoli Ilin. Técnico: Gavril Katchalin. O público foi de 50 mil espectadores. O árbitro foi Maurice Guigue (França), auxiliado por Carl Jörgensen (Dinamarca) e Birger Nielsen (Noruega). No outro jogo do grupo, Inglaterra e Áustria empataram por 2 a 2. O Brasil ficou com a primeira colocação do Grupo 4. Num jogo-desempate, a URSS venceu a Inglaterra por 1 a 0 e ficou com a segunda vaga.
4º Jogo: BRASIL 1 X 0 PAÍS DE GALES (quartas-de-final)
No dia 19 de junho de 1958, em Gotemburgo. A única alteração na Seleção foi a entrada de Mazzola [Palmeiras] no lugar de Vavá [Vasco] devido à contusão do vascaíno no tornozelo direito, fruto da entrada de um zagueiro adversário no lance do segundo gol contra a URSS (após a partida, o jogador, Boris Kuznetsov, foi à concentração do Brasil pedir desculpas pela entrada). O Brasil jogou, portanto, com 3 jogadores do Botafogo, 2 do Vasco, 2 do Santos, 1 do Flamengo, 1 do São Paulo, 1 do Palmeiras e 1 do Corinthians:
Gilmar [Corinthians]; De Sordi [São Paulo], Bellini (cap) [Vasco], Orlando Peçanha [Vasco] e Nílton Santos [Botafogo]; Zito [Santos] e Didi [Botafogo]; Garrincha [Botafogo], Mazola [Palmeiras], Pelé [Santos] e Zagallo [Flamengo]. Técnico: Vicente Feola.
A seleção do País de Gales, mesmo cansada por ter enfrentado um jogo-desempate contra a Hungria (venceu por 2 a 1) dois dias antes, pela 2ª colocação do Grupo 3, enquanto o Brasil teve quatro dias para descansar, resistiu bravamente ao poderoso ataque brasileiro. Mas caiu aos 21 minutos do 2º tempo com um gol do garoto Pelé [Santos]. O Brasil estava na semifinal da Copa do Mundo.
O País de Gales jogou com Jack Kelsey; Stuart Williams e Melvyn Charles; Melvin Hopkins, Derek Sullivan e David Bowen (cap); Terence Medwin, Ronard Hewitt, Colin Webster, Ivor Allchurch e Clifford Jones. Técnico: Jimmy Murphy. O público foi de 25.000 torcedores. O árbitro foi Friedrich Seipelt (Áustria), auxiliado por Albert Dusch (Alemanha Ocidental) e Maurice Guigue (França). Os resultados das outras quartas-de-final foram: Suécia 2 x 0 URSS, Alemanha Ocidental 1 x 0 Iugoslávia e França 4 x 0 Irlanda do Norte. A França seria a adversária do Brasil na semifinal.
Em 24 de junho de 1958, em Estocolomo, capital da Suécia. O Brasil teve uma única alteração no time: a saída Mazzola [Palmeiras] para a volta de Vavá [Vasco], que, no entanto, ainda não estava totalmente recuperado da contusão sofrida no jogo contra a URSS. A Seleção jogou, portanto, com 3 jogadores do Vasco, 3 do Botafogo, 2 do Santos, 1 do Flamengo, 1 do São Paulo e 1 do Corinthians:
Gilmar [Corinthians]; De Sordi [São Paulo], Bellini (cap) [Vasco], Orlando Peçanha [Vasco] e Nílton Santos [Botafogo]; Zito [Santos] e Didi [Botafogo]; Garrincha [Botafogo], Vavá [Vasco], Pelé [Santos] e Zagallo [Flamengo]. Técnico: Vicente Feola.
O Brasil não se intimidou com o melhor ataque da Copa (15 gols em 4 jogos até então) nem com o artilheiro Just Fontaine (que já tinha assinalado 7 gols até o momento e chegaria a 13, sendo até hoje o maior goleador de uma edição da Copa do Mundo) e deu outro show, vencendo por 5 a 2. Aos 2 minutos, Vavá [Vasco] matou a bola no peito dentro da área e fuzilou, abrindo o placar. Fontaine empatou aos 9. Aos 26, Vavá [Vasco] dividiu com o capitão francês Jonquet, que se machucou e teve que deixar o campo. Como na época não havia substituições, a França ficou com um homem a menos. Didi [Botafogo], aos 39, fez 2 a 1 para o Brasil. No segundo tempo, Pelé [Santos] fez 3 gols - aos 7, 19 e 30 minutos - e começou a se tornar o Rei do Futebol. Piantoni, aos 37, deu números finais ao jogo. Manchete do jornal francês "L'Equipe" no dia seguinte: "Brasileiros parecem ter vindo de outro planeta!".
A França jogou com Claude Abbés; Raymond Kaebel e Robert Jonquet (cap); André Lerond, Armand Penverne e Jean-Jacques Marcel; Maryan Wisniewski, Just Fontaine, Raymond Kopa, Roger Piantoni e Jean Vincent. Técnico: Albert Batteux. O público foi de 27 mil pagantes. Benjamin Mervyn Griffiths (País de Gales) apitou a partida, auxiliado por Reginald Leafe (Inglaterra) e Raymond Wyssling (Suíça). Na outra semifinal, a Suécia derrotou a Alemanha Ocidental por 3 a 1 e se credenciou para enfrentar o Brasil na decisão.
No dia 29 de junho de 1958 o Brasil parou para ouvir, pelo rádio, a final da Copa do Mundo, que seria disputada no Estádio Rasunda, em Estocolmo, contra os donos da casa. Era a primeira vez que uma Copa era decidida entre uma equipe europeia e uma sul-americana. A partida estava marcada para começar às 19 horas locais, 15 horas de Brasília. Vavá [Vasco], com dores musculares, e Orlando [Vasco], com problemas na virilha, só foram confirmados no time na véspera da decisão. Já De Sordi [São Paulo] não conseguiu se recuperar de uma contusão e cedeu lugar a Djalma Santos [Portuguesa]. Trajando camisas azuis e calções brancos, pois os uniformes principais dos dois finalistas eram idênticos, Brasil foi a campo com 3 jogadores do Vasco, 3 do Botafogo, 2 do Santos, 1 do Flamengo, 1 do Corinthians e 1 da Portuguesa:
Gilmar [Corinthians]; Djalma Santos [Portuguesa], Bellini (cap) [Vasco], Orlando Peçanha [Vasco] e Nílton Santos [Botafogo]; Zito [Santos] e Didi [Botafogo]; Garrincha [Botafogo], Vavá [Vasco], Pelé [Santos] e Zagallo [Flamengo]. Técnico: Vicente Feola.
Foi a consagração definitiva do futebol brasileiro no cenário mundial. A Suécia começou na frente logo aos 4 minutos com um gol de Liedholm, mas Vavá [Vasco] marcou duas vezes, aos 9 e aos 32 minutos, ambas em cruzamentos de Garrincha [Botafogo], e virou o jogo para o Brasil ainda no primeiro tempo. No segundo tempo, Pelé [Santos] fez o terceiro aos 10 minutos e Zagallo [Flamengo] fez 4 a 1 aos 23. Simonsson descontou aos 35 e Pelé [Santos], de cabeça, aos 45 minutos, encerrou a goleada: Brasil 5 x 2 Suécia. Brasil, campeão do mundo! Até hoje esta é a maior goleada numa final de Copa do Mundo. Também foi a primeira e até agora única vez que uma equipe da América do Sul conseguiu ser campeã na Europa.
A Suécia jogou com Karl Svensson; Orvar Bergmark e Sven Axbom; Reino Börjesson, Bengt Gustavsson e Sigvard Parling; Hurt Hamrin, Gunnar Gren, Agne Simonsson, Nils Liedholm (cap) e Lennart Skoglund. Técnico: George Raynor (Inglaterra). O público foi de 51.800 espectadores. O árbitro foi Maurice Guigue (França), auxiliado por Albert Dusch (Alemanha Ocidental) e Juan Gardeazábal (Espanha).
Após a partida, o capitão Bellini [Vasco] recebeu a Taça Jules Rimet e a ergueu com as duas mãos, acima da cabeça, atendendo a um pedido dos fotógrafos que buscavam um melhor ângulo para focalizá-la. Com a ajuda dos vascaínos, o mundo do futebol tinha um novo dono: o Brasil.