Mesada da família e incentivo de técnicos fizeram Philippe Coutinho arriscar mais chutes a gol
Bem antes de impressionar a Copa do Mundo com um golaço de fora da área, sem chances de defesa para o goleiro suíço Yann Sommer, Philippe Coutinho não gostava muito de ir às redes. Principal nome do Brasil na estreia do Mundial, o hoje meia do Barcelona precisou de um incentivo extra para pegar esse "gostinho".
Quando ainda jogava nas divisões de base do Vasco, entre o futsal e o campo, Coutinho tinha o hábito de dar assistências. A família pedia que ele tivesse mais fome de gol, mas finalizações cheias de ousadia como a que estufou a rede da Suíça eram coisa rara. Foi preciso, então, um incentivo extra. Uma espécie de mesada.
"Todos nós da família, ao assistir aos jogos, pedíamos para ele finalizar mais", brinca o irmão mais velho Cristiano. "E essa parte de dar um valor a cada gol era uma grande brincadeira entre nós para descontrair", recorda em conversa com o UOL Esporte.
Essa brincadeira, porém, cresceu de alguma maneira com o passar dos anos. Pelo menos outros dois treinadores de Philippe também precisaram incentivar as finalizações. No Liverpool, o desenvolvimento dele passou por trabalhos específicos com o então comandante Brendan Rodgers, que realizava uma cobrança em especial: nos metros finais do campo, de acordo com a proposta da equipe, toda jogada precisava de uma definição. Coutinho, então, sabia que era bater ou servir os colegas. Não tinha outra saída. Os gols, então, começaram a sair mais.
Nos seis meses finais da temporada 2012/13, quando chegou à Inglaterra, ele marcou três gols. Já no dobro do período, 2013/14, fez outros cinco. A partir disso, começou a marcar mais: oito gols na temporada 2014/15, 12 gols em 2015/16, 14 gols em 2016/17 e, só no breve semestre seguinte antes de se mudar ao Barcelona, impressionantes 12 gols.
No que diz respeito à seleção brasileira, Tite também teve sua parcela de contribuição. Em seus primeiros meses no cargo, pediu ao jogador que aproveitasse melhor sua capacidade de bater de longe. Uma conversa rápida chegou a ocorrer antes de Brasil x Paraguai, pelas Eliminatórias da Copa, em São Paulo, e reforçou essa orientação para que Philippe fosse mais confiante. O treinador gosta de usar o termo "bananinha" para descrever a curva que a bola faz nesse tipo de chute de Coutinho. Então, dito e feito.
O gol marcado naquele jogo contra os paraguaios engrossou a lista de bolas na rede que Philippe Coutinho já colocou de longe com a camisa da seleção principal. As estatísticas mostram que essa é uma arma letal do camisa 11: ele tem 11 gols pelo Brasil, e cinco foram de fora da área. Um deles, diante da Argentina, no Mineirão, ficou marcado. E o último deles, claro, contra a Suíça, pôs mais brilho nessa galeria.
"Realmente tenho gostado bastante deste tipo de lance. Abrir, chutar, procurar o espaço. Sempre que posso, busco este recurso. Já tinha sido assim em outras vezes. E sempre melhorando ao longo do tempo", frisou Coutinho depois de anotar.
Essa virtude, naturalmente, já foi notada pelos colegas. Em entrevista coletiva no mês de março, Willian chegou a brincar com a capacidade de Coutinho nesse tipo de lance. "Vocês sabem da qualidade dele, não à toa está num dos maiores clubes do mundo. Sou fã do futebol dele, gosto de vê-lo jogar. Além de habilidoso e técnico, me chama atenção quando ele abre pro meio, pode sair para o abraço que é caixa (risos)", comentou.
Fonte: UOL