Técnico do Irã, Carlos Queiroz lembra que quase treinou o Vasco durante a gestão Dinamite
Carlos Queiroz desembarcou na Rússia no início da semana para a disputa da Copa do Mundo. Será a terceira de sua carreira. Anteriormente, ele comandou Portugal, em 2010, na África do Sul, e o Irã, no Brasil, em 2014. Agora, novamente à frente da seleção asiática, ele terá uma dura missão: superar Espanha, Portugal e Marrocos no Grupo B da competição.
A missão não será fácil. Conterrâneo de Cristiano Ronaldo, o treinador terá o craque do Real Madrid pela frente na terceira rodada de sua chave, no dia 25 de junho, em Saransk. E Carlos Queiroz diz que só existe uma maneira de parar CR7.
- O Cristiano Ronaldo não é um jogador que se para. Se ele fosse um jogador que pudesse parar, certamente as equipes do Barcelona, do Bayern de Munique, outras equipes, o Manchester, fariam isso. O Cristiano para-se ele próprio. É a única maneira, tenho certeza. No dia que jogarmos contra ele, que ele não esteja inspirado, não esteja nos melhores dias.
O treinador foi além:
- Nossa equipe precisa conseguir responder as qualidades geniais desse jogador com sentido coletivo de cobertura, de marcação e esperar que a equipe do Irã consiga com muita atenção, com duplas marcações, com sentido de cobertura, minimizar os efeitos de um jogador que nos últimos anos têm marcado a diferença a nível mundial, não só nas suas exibições como nos resultados que têm trazido para a sua equipe.
Na conversa com o GloboEsporte.com, Queiroz ainda elogiou os adversários do Grupo B. Para ele, o Irã é a quarta força na chave.
- O nosso grupo é muito difícil. É um grupo considerado o grupo da morte, o mais competitivo da Copa do Mundo. Tem três candidatos à segunda fase. Os favoritos são Marrocos, Espanha e Portugal. Portugal e Espanha, pelas razões óbvias, não precisamos elogiar e exaltar. São dois candidatos para ganhar a Copa do Mundo. Marrocos, que é rotulada como seleção africana, eu digo isso como homenagem, tributo a eles. Mas no fundo é uma seleção africana com raízes europeias. Todos os jogadores praticamente nasceram na Europa, cresceram na Europa, desenvolveram-se na Europa. Portanto, talvez seja a equipe africana mais europeia que existe nesse momento.
O treinador do Irã ainda fez uma revelação. Antes de acertar com a Federação Iraniana de Futebol, ele quase comandou uma equipe do futebol brasileiro.
- Pelas razões tradicionais. Houve uma altura na minha vida, antes do Irã, que quase fui treinador do Vasco. Era o Roberto Dinamite o presidente e chegamos a negociar. Não acertamos por alguns detalhes que não vem ao caso.
Confira abaixo outros trechos da entrevista:
Onde o Irã pode chegar na Copa?
Nosso papel não é vir aqui e fazer um favor. Mas é estarmos em cada jogo com o sentido de querer ganhar. Temos que jogar com honestidade pelos nossos adversários, com respeito por nós próprios, por nossos torcedores. Temos que jogar os 90 minutos tentando ganhar. O Irã tem uma grande tarefa pela frente, que é a Copa da Ásia, para ganhar. Nós aqui temos só dois resultados. Ou ganharmos ou aprendermos. Portugal, Marrocos e Espanha têm três resultados: empate, vitória ou derrota. Então vai ser engraçado. Vai ser muito divertido para nós.
Essa será a sua terceira Copa do Mundo. Como se sente?
Sinto-me orgulhoso e satisfeito. Não é fácil no mundo do futebol se manter por mais de 30 anos no topo da carreira, em seleções, em clubes. Não foi uma tarefa fácil, foi um imenso sacrifício. Vivo isso com dois sentimentos: um sentimento de muito orgulho e satisfação pessoal e um sentimento de gratidão de todos os jogadores e dirigentes que confiaram no meu trabalho e me trouxeram até aqui. Sinto isso com mais responsabilidade, com mais humildade, pelo sentido de gratidão e orgulho por ter qualificado duas seleções para as Copas do Mundo. Está é a minha terceira como treinador e mais duas como observador técnico da Fifa. É uma longa carreira que eu me orgulho bastante.
Você brincou outro dia sobre os centros de treinamentos em que o Irã ficou no Brasil e agora na Rússia. Como isso funciona?
Verdade. Em 2014, nós ficamos no Corinthians e eles foram campeões . Agora, em 2018, o Lokomotiv. Na próxima Copa do Mundo, se for na Inglaterra, tenho que escolher as instalações do Manchester para ele voltar a ser campeão europeu. Será o próximo objetivo.
Ainda pensa em trabalhar no Brasil?
Sempre foi uma aspiração e um sonho meu treinar no Brasil desde muitos anos. Tivemos um jogador português da minha geração, o Fernando Peres. Creio que ele tenha sido o único jogador português que foi campeão no Brasil. Eu sempre tive uma atração porque o Brasil permite um treinador começar num patamar elevado. No Brasil, a técnica nasce com os jogadores e é um ponto de partida fantástico para irmos para patamares estratégicos e técnicos fantásticos.
Algum clube especial?
Para mim, os clubes especiais, as seleções especiais, são aqueles que me tratam bem, que me respeitam e ajudam a minha família e eu próprio a me sentir em casa. São os clubes e as seleções que foram mais especiais para mim. Uns locais foram melhores, outros piores.
Você já falou de Portugal e do Marrocos. E a Espanha com jogadores brasileiros naturalizados...
São jogadores fantásticos. A Espanha, por si só, é uma nação com potencial enorme para ser campeã do mundo. E quando se reforça com jogadores do Brasil fica ainda mais forte, fica diferente, com um tom diferente. Mas temos que jogar o jogo e não há vencedores antecipados no futebol. O mais importante para nós é saber respeitar os adversários que teremos pela frente.
E qual é o objetivo do Irã?
O Irã não comprou este lugar. Não foi oferecido. Como vocês sabem, pela comunidade internacional, se fosse possível o Irã não estaria aqui. Eles fariam isso. Conseguimos um lugar por mérito próprio e merecemos estar aqui. Portanto, agora nós temos que desfrutar essa oportunidade de estar ao lado dos melhores jogadores do mundo, as melhores equipes do mundo e ter a convicção que o mais importante para nós é levar o sentido de orgulho, dignidade e respeito. E, principalmente, sair da Copa do Mundo com uma equipe mais forte porque seis meses depois esses rapazes vão jogar a Copa da Ásia. Aí sim as coisas vão mudar de figura porque o Irã irá se apresentar como candidato ao título.
Fonte: GloboEsporte.com