Zé Ricardo fala sobre seu início como treinador, passagem pelo Urubu e trabalho no Vasco
Terça-feira, 22/05/2018 - 00:46
O técnico Zé Ricardo é um dos destaques da nova geração de treinadores brasileiros. Aos 47 anos, ele dirigiu o Flamengo e agora está à frente do time do Vasco. Nada mal para quem até meados de 2016 era apenas o treinador do time de juniores na Gávea. Há uma semana, no CT das Vargens, onde o Vasco treina, Zé Ricardo, sempre com a tranquilidade que demonstra nos jogos, falou sobre sua carreira, sobre o futuro e de como entende o futebol. Sabe que no Brasil só o resultado conta. Por isso, nunca se iludiu com os elogios que recebeu e ainda recebe. Mas não abre mão de suas convicções.

Os dois primeiros times profissionais que você dirigiu foram Flamengo e agora Vasco, dois gigantes do futebol brasileiro. As coisas não estão indo rápido demais na sua carreira?

No dia 28 de maio fazem dois anos que assumiu o Flamengo. Parece que foi há muito mais tempo. Realmente as coisas aconteceram de repente. Eu era técnico dos juniores do Flamengo quando o Muricy teve o problema de saúde. Sai da base diretamente para comandar o time profissional. Agora estou no Vasco, outro grande clube. Está indo rápido mesmo.

Em momento algum você teve receio de se queimar?

Claro que não é simples você assumir um grande time, um time de massa. Mas quando você está preparado, tem conteúdo e é sincero, as coisas fluem. Meu maior receio era como eu seria recebido por grandes jogadores no vestiário. Mas fui acolhido por todos e as coisas acabaram caminhando muito bem.

Você ficou 11 jogos como interino no Flamengo. Não é angustiante esta situação?

A indefinição cria sempre muita expectativa. Mas a verdade é que no Brasil, todo técnico é sempre meio interino. Tem demissão com menos de um mês de trabalho. No meu caso, já tinha ficado acertado que mesmo que o Flamengo contratasse outro técnico, eu não voltaria para os juniores. Se não tivesse dado certo, teria virado auxiliar do treinador que viesse. De qualquer maneira, seria uma promoção para mim.

Por falar em pressão, há pouco tempo torcedores do Vasco invadiram São Januário durante um treino para cobrar dos jogadores. Como lhe dar com uma situação como aquela?

Estas coisas acontecem em todos os grandes clubes do Brasil, mas não devia. Já tive que trocar o número do meu celular e o da minha mulher. Naquele dia, depois da confusão, perguntei aos jogadores como estavam e se tinham condições de treinar. Todos disseram que sim. O grupo do Vasco é de um caráter único. Aí vem torcedor dizer que o time não está correndo. Como o time não correria contra o Cruzeiro na Libertadores se ainda tínhamos chance de classificação?

Você trabalhou com Paulinho e Vinícius Júnior, duas das maiores promessas do futebol brasileiro. Eles são isso tudo mesmo?

Felizmente tive este privilégio. Paulinho é um fenômeno, jogador muito vertical, objetivo. Tenho certeza de que vai brilhar na Europa. Tem futebol e maturidade para isso. O Vinícius impressiona no um contra um. Não tem medo do confronto, seja ele qual for. Os dois se completam em campo. Não tenho dúvida de que Vinícius e Paulinho serão por muito tempo as referências ofensivas da seleção brasileira.

Os técnicos têm hoje uma importância muito maior no futebol do que antigamente. São estrelas como os jogadores. Qual o modelo de jogo que mais o agrada?

Sou um cara tranquilo, não gosto de me autopromover e hoje tudo tomou uma mega proporção. A pressão aumentou na mesma proporção da exposição que os treinadores passaram a ter. Eu entendo futebol a partir da posse de bola. Quero sempre o meu time tomando a inciativa. Mas nem sempre isso é possível. E não tem como negar que o Guardiola é uma referência, talvez a maior da minha geração. Ele mudou o cenário.

A seleção brasileira tem chance na Copa do Mundo?

A seleção é uma das favoritas, mas não a única. Para mim, a Alemanha é o adversário a ser batido. Mas não tem dúvidas de que esta será um a das Copas maios difíceis dos últimos tempos. Tem muita equipe de alto nível. Além de Alemanha e Brasil, tem a Bélgica, a França, a Inglaterra, a Espanha e a Argentina, que nunca pode ser desprezada.

O Tite te representa enquanto treinador brasileiro?

Totalmente. Ele conseguiu uma unidade que há muito tempo não víamos na seleção. Ele chegou onde chegou por méritos dele.

Você é contra ou a favor da concentração?

Com este calendário que nós temos, a concentração ainda é importante no futebol brasileiro. A recuperação do atleta é fundamental. A gente joga de três em três dias. Na concentração o atleta se alimenta corretamente, descansa. Mas quando dá acho mais salutar não concentrar. Fizemos isso no Campeonato Carioca.

Na Europa os times mais poderosos sempre se impõe diante de adversários com orçamento mais modestos. Por que os times brasileiros enfrentam tantas dificuldades na Libertadores, apesar de muito mais ricos e estruturados do que os adversários?

Isto é um fato, mas, para ser sincero, não sei a explicação. Acho, inclusive, que é motivo de reflexão. Nossos times tinham sim que ter uma aproveitamento melhor na América do Sul

Se você tivesse dinheiro para contratar quem quisesse, levaria Messi ou Cristiano Ronaldo?

Deve ser muito bom ter esta dúvida, poder escolher o jogador que você quer. Os dois são realmente fantásticos Mas se tivesse que escolher um, ficaria com o Messi. Para mim, futebol é fantasia e o Messi traz isso para o campo.



Fonte: Jornal do Brasil