Nova diretoria do Vasco se assemelha ao grupo que dá sustentação ao presidente do Urubu
Eduardo Bandeira de Mello vive os últimos meses da sua administração. Alexandre Campello, os primeiros. Os presidentes se veem neste sábado, no Maracanã, às 19h (de Brasília), no clássico entre as duas equipes - os rubro-negros defendem a liderança contra os vascaínos, na sétima posição (com um jogo a menos) - numa mistura de cenários em preto e vermelho, preto e branco.
Após duas rupturas e reorganizações políticas - primeiro, na eleição, quando terminou vencendo Julio Brant; depois, na debandada de dirigentes do "Identidade Vasco" -, novos quadros vascaínos foram elevados ao primeiro escalão do clube. Alguns deles, com perfil de carreira semelhante aos rubro-negros que venceram as eleições em 2013, no início da era Bandeira, já participavam de grupos de estudo e auxiliavam Campello.
Novo vice-presidente de controladoria, uma das pastas criadas por Campello, Adriano Dias Mendes, de 46 anos, foi um dos responsáveis pela confecção do balanço patrimonial e administrativo de 2017 - documento que contribuiu para rachar a aliança com Roberto Monteiro e o grupo político que elegeu Campello.
Contador de formação, Mendes foi colega de Bandeira no BNDES (o presidente do Flamengo foi da Área de Meio Ambiente até se aposentar antes de entrar no clube) e ainda convive com Rafael Strauch, ex-vice-presidente do clube da Gávea, na Área de Crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.
No dia a dia do banco, as conversas, em cafés e almoços, sobre futebol e administração de clube eram corriqueiras. As dificuldades, as peculiaridades, os riscos... enfim, um cenário bem diferente do que se vê no mundo corporativo, cheio de armadilhas no meio do turbilhão político que envolve a paixão pelo clube de coração.
- Sempre tivemos conversas de cortesia. Falava com os rubro-negros como com os botafoguenses, tricolores. Mas a veia é a mesma. Em qualquer corporação existem exemplos a serem seguidos - diz Adriano Mendes.
Bandeira ainda sem sucessor
No início, antes da separação entre azuis e verdes (quando Bandeira venceu Wallim Vasconcellos nas urnas), o Flamengo também se organizou com grupo de colegas do Banco Nacional, tal qual Bandeira e Wallim, além de Rafael Strauch, que deixou a diretoria da Gávea, mas segue próximo dos antigos pares do clube.
A seis meses do fim da gestão, Bandeira vive situação inusitada na Gávea. Com recordes de faturamento e diversificação de receitas, a gestão é bem avaliada, mas os resultados do futebol - até agora - impõem dificuldade de lançar um sucessor. O vice de futebol Ricardo Lomba e o de gabinete Pedro Almeida são possibilidades.
Além da separação do grupo original de 2013 - Rodolfo Landim é cotado como forte candidato na chapa verde -, a má fase do futebol impactou na votação das contas de 2017, que terminaram aprovadas duas semanas depois da sessão suspensa no Conselho Deliberativo.
Anistia de sócios em São Januário
Com apelos constantes por união política, Campello sofre para comandar o Vasco. Procura no grupo de apoio, formado por Adriano Mendes e outros pares do BNDES (além da "PetroVasco" e outros quadros que estavam na oposição à gestão Eurico), sustentação para tocar o clube.
O "BNDES Vasco", por sinal, agora se chama "Desenvolve Vasco" - para desvincular o banco da corrente política do clube de São Januário. Foi criado em 2013, com participação de Isaac Zagury, ex-vice-presidente do banco nacional.
- São pessoas de bem, sérias, executivos muito bem avaliados no banco - comenta Rafael Strauch, ex-vice-presidente do Flamengo e que trabalha também com Carlos Fonseca, um dos novos quadros e também funcionário de carreira do BNDES, novato no auxílio da administração de Campello.
- Foi um contato normal. Falamos mais das dificuldades que iriam enfrentar. Questões contábeis, assuntos com a Receita, essas coisas. Existe uma exposição muito grande, brigas políticas, vazamentos de informações... É como se o escritório fosse dentro de um aquário num shopping center, com todas as pessoas olhando – lembra Strauch.
"Compramos esse risco pelo clube"
Um dos sete novos vice-presidentes escolhidos por Campello – que vêm de origens diversas em grupos políticos vascaínos -, o novo vice-presidente de controladoria do Vasco, que participou de grupo de estudos ainda na campanha de Julio Brant em 2014, diz que sabe dos riscos e das críticas que vêm naturalmente quando a bola não entra ou quando as coisas não saem da maneira planejada.
- Futebol tem dessas coisas muito particulares, específicas. Que há um risco pessoal é evidente, como tudo na vida. Há o aspecto político do clube, a carga emocional, coisas muito diferentes de uma empresa, ainda mais pela repercussão nacional de um clube como o Vasco. Compramos esse risco pelo clube. Estamos aqui para ajudar – afirma Adriano Mendes.
Além da divulgação de "conceitos da administração" Campello, a administração vascaína prepara para os próximos dias anistia de sócios - tanto estatutários como antigos associados do extinto programa "O Vasco é meu". Ao lado de novos quadros, que provocaram notas oficiais de lado a lado, de situação a oposição - com críticas à distribuição de cargos para ganhar apoio político -, a aposta é em recuperar boa parte dos cerca de 50 mil cadastrados à época do contestado plano de sócios da gestão Dinamite.
Fonte: GloboEsporte.com