Ex-vascaíno Patric relembra passagem pela Colina e fala sobre sonho de defender o Japão
Apesar de não ter conseguido fazer muitas partidas em sua passagem pelo Vasco, Patric se encontrou no Japão. Conquistou respeito, virou ídolo e hoje é o artilheiro da J-League, com 10 gols. O sucesso é tão grande que o atacante sonha até mesmo em defender a seleção japonesa.
Antes disso, porém, o brasileiro teve uma trajetória cheia de percalços. Natural do Amapá, ele praticamente não fez categorias de base em clubes.
"O treinador da minha escolinha assumiu o profissional do Esporte Clube Macapá e me levou para completar o time. Nesse tempo eu trabalhava em um lava-jato também. Naquela época eu saía de noite do colégio, ia para o lava-jato lavar uns carros de madrugada e dormia por lá. No dia seguinte, acordava cedo e ia treinar", disse, ao ESPN.com.br.
O atacante fez vários gols, chamou a atenção do time profissional e assinou seu primeiro contrato para jogar o Estadual de 2005.
"Nesta época eu não conseguia viver do futebol e ainda tirava meu sustento do lava-jato. Eu não ganhava quase nada e os clubes atrasavam salários. Mas foi uma experiência muito boa porque depois fui chamado para jogar a Copa São Paulo de juniores do ano seguinte pelo Trem Desportivo Clube", recordou
Após o torneio, ele foi para o time profissional, largou o lava-jato e virou jogador em tempo integral.
"Conquistei meu primeiro título na carreira e passei a ganhar dinheiro. Mas é muito complicado no Amapá porque o campeonato dura só três meses e depois não tem mais calendário. Fui jogar futebol amador em Afuá [cidade do Pará] e ganhava R$ 300 por jogo", relatou.
A carreira de Patric mudou no dia em que o Paysandu foi fazer um amistoso contra a seleção da cidade. "O prefeito pediu para eu jogar e topei. Era uma chance de me destacar, fui bem e fiz um gol. Nem imaginava que o Paysandu ia atrás de mim!", disse.
Pouco depois, o atacante fechou um contrato com o Papão por dois anos, em 2007. "Naquele tempo o treinador era o Givanildo Oliveira e tinham muitos atacantes. Eu vi que não ia ter espaço e fui emprestado para jogar", afirmou.
Patric passou por Vila Rica, Santa Cruz, Salgueiro, Democrata-MG, Icasa, Vera Cruz, São José-AP, Americano-RJ e Mixto-MT. Após se destacar no Mato-Grossense, ele foi para a equipe sub-23 do Vasco.
VASCO
Após passar um tempo entre os aspirantes, Patric estreou pela equipe principal do time carioca em 2010, mas encontrou forte concorrência no ataque.
"Naquele tempo tinha o Alecsandro, Élton e o Marcel. Eu era a quarta opção. Como os atacantes estavam bem, não tinha como atuar. Eu joguei na Copa Sul-Americana contra o Aurora e contra o Flamengo. Não consegui fazer gol, mas foram jogos bem marcantes", contou.
O jogador fazia parte do elenco que venceu a Copa do Brasil, mas não conseguiu atuar.
"Eu era um sonhador e não imaginava jogar um dia com essa camisa. Convivi em um grupo muito experiente de grandes jogadores. Recebia muitos conselhos do Juninho Pernambucano, Leandro Guerreiro, Élton e do Alecsandro. Foi bem marcante porque fomos campeões da Copa do Brasil e até hoje colho os frutos dessa passagem", analisou.
Após oito partidas pelo profissional do Vasco, ele foi para o Vila Nova e sagrou-se artilheiro do Campeonato Goiano de 2012. Logo em seguida, jogou o Brasileiro da Série A pelo Atlético-GO, quando chamou atenção de olheiros japoneses.
"Um scout viu um jogo meu contra o Santos lá em Brasília e acabou gostando. No começo do ano seguinte eu me mudei para o Japão", recordou.
AVENTURAS NO ORIENTE
Em 2013, Patric foi defender o Kawasaki Frontale, que estava na 2ª Divisão do Japão. No começo, sofreu para se adaptar ao frio do país e aos costumes orientais. "Eu saí de 35 graus em Macapá para pegar menos dois aqui. No primeiro treino eu ficava com a mão no bolso e levei uma bronca do treinador porque era falta de respeito. Foi o maior mico' (risos)".
"Fui depois correr e perguntei ao tradutor se poderia cuspir na grama ou também era falta de respeito. Ele deu risada. Eu não conhecia a cultura japonesa", comentou.
Dentro de campo, o centroavante demorou um tempo para entender que não deveria participar bastante da marcação e não ficar somente dentro da área.
"Japonês gosta que o atacante se movimente na frente e não fique só esperando a bola. Por isso, o treinador começou a me tirar dos jogos e virei reserva. Mas eu botei na minha cabeça que iria dar certo e estava focado", relatou.
Após seis meses, ele foi para o Ventforet Kofu e ajudou a equipe a evitar o rebaixamento para a 2ª divisão japonesa. Além disso, conseguiu assimilar o jeito de jogar no país.
"O time estava na zona de rebaixamento e 8 jogos sem vencer. Seria um desafio para poder mostrar meu futebol também. Fiquei seis meses, marquei seis gols e livramos o time da degola com três rodadas de antecedência".
Como não renovou contrato, voltou ao Brasil e passou cinco meses desempregado. Seu pensamento era voltar à "Terra do Sol Nascente", mas como não aparecia nada, ele foi para o Fortaleza. Apenas dois meses depois de chegar ao time cearense, ele foi ao Gamba Osaka, do Japão.
"O clube também estava na zona do rebaixamento, mas eu não pensei duas vezes. Nem queria saber quanto eu ia ganhar, só queria voltar para o Japão. Eles pagaram a multa ao Fortaleza. Como jpá conhecia bem não tive muita dificuldades
"Eu encaixei no time e deu tudo certo. Conquistamos três títulos em seis meses. Em 2015, fiz outra ótima temporada, mas em 2016 me lesionei, rompi os ligamentos", lamentou.
Após voltar da lesão, Patric perdeu espaço no time e acertou com o Sanfrecce Hiroshima no ano passado.
SONHO DE JOGAR A COPA
A ideia de jogar pela seleção japonesa surgiu em 2016, após Patric passar férias no Brasil e dizer em entrevistas que gostaria de se naturalizar. Isso repercutiu bastante no país asiático em sua volta.
"A seleção japonesa têm muitos jogadores bons em outras posições, mas é carente na minha característica. Não tem um centroavante alto e forte", comentou.
Para que o processo ocorresse, o jogador precisaria permanecer por cinco anos morando sem interrupções no Japão.
"Eu acabei me machucando e voltei ao Brasil para me tratar. Nisso, o meu visto ia vencer em janeiro. Eu conversei com o pessoal do clube para poder prolongar isso, mas infelizmente o diretor do clube não quis aceitar porque os japoneses são muito corretos".
"Eu fiquei quase cinco meses no Brasil e perdi o meu visto e tive depois que fazer um novo. Então, não poderia mais me naturalizar", lamentar.
Com a ótima fase que vive neste ano, ele é o artilheiro da J-League pelo Sanfrecce Hiroshima com 10 gols marcados, começaram novamente os pedidos pelas redes sociais para que ele jogasse pelo Japão.
"A torcida mandou um monte de mensagem para me apoiar e me pedindo para jogar. Fizeram até uma montagem minha com a camisa da seleção japonesa camisa. Nossa equipe lidera a competição e vivemos uma fase muito boa".
Pelas regras do Japão, Patric não pode defender a seleção na Copa do Mundo de 2018, mas não descarta defender no futuro o país que o adotou.
"Eu não vou desistir do meu sonho e vou tentar a minha naturalização. Seria ótimo por tudo que já conquistei no Japão e pela história que eu tenho aqui. Sou querido por torcedores não somente da minha equipe. Se tivesse a naturalização poderia ter ido para a Copa da Rússia. Mas quem sabe no futuro?", finalizou
Fonte: ESPN.com.br