Ex-vascaíno Guiñazú leva o Talleres-ARG à Libertadores após 17 anos
Sábado, 19/05/2018 - 04:19
Na última semana, Jorge Sampaoli divulgou a lista de pré-convocados da Argentina para a Copa do Mundo e nela não constava o nome de Pablo Guiñazú. Pode não ser notícia para a maioria, mas entre torcedores do Talleres certamente existe a convicção de que El Cholo era o único nome possível para escoltar Lionel Messi – e os outros nove nomes bem poderiam ser decididos por uma máquina de jackpot em algum cassino de Mar del Plata.
Com quase 40 anos, que serão comemorados em agosto, o meio-campista foi um dos grandes destaques da temporada argentina e conduziu o tradiconal clube de Córdoba a uma surpreendente quinta colocação no campeonato nacional, o que garantiu o retorno à Libertadores após 17 anos – na única vez que disputou, em 2002, não avançou além da fase de grupos. Conforme Frank Darío Kudelka, que treina o Talleres há mais de três anos, Guiñazú "tem as qualidades dos melhores de sua posição. Se jogasse no Boca ou no River, lhe davam a chave da AFA sem perguntar nada a Sampaoli".
A carreira de Guiñazú é um eterno retorno que obedece à sua filosofia na cancha: sempre é possível resgatar um último fôlego escondido debaixo da costela. Em 2012, quando saiu do Inter, onde conquistou muita coisa, inclusive a idolatria, para um inesperado retorno ao Libertad, e depois rumando ao Vasco, parecia que já começava a ensaiar uma retirada sem retorno dos vestiários. Chegou ao Talleres em 2016 para encerrar a carreira no clube do coração, como uma espécie de homenagem ao pai. O que viveria defendendo a camisa de La T, no entanto, seria forte o suficiente para que sua vontade de pendurar los botines se transformasse em um recomeço. Encontrou uma espécie de extensão da idolatria, agora em sua terra natal.
Em oito anos, o Talleres deixou a terceira divisão nacional para garantir vaga na Libertadores da América. Já na primeira temporada defendendo o clube, Guiñazú tornou-se nome fundamental para a equipe e estava no lugar certo e com o pé engatilhado para carimbar o histórico acesso à primeira divisão após doze anos: conhecido por sua incurável recusa em concluir a gol, El Cholo marcou uma bucha aos 50 minutos do segundo tempo contra o All Boys, em junho de 2016. Fazia SETE anos que Guiñazú não marcava um gol, e também não voltou a fazê-lo deste então. Que seu último tento no futebol profissional seja aquele, será menos um jejum do que uma caprichosa honraria do destino.
Nesse campeonato, em certo momento o Talleres chegou a ser o principal antagonista do Boca na disputa pelo título. A queda de desempenho nas últimas rodadas afastou a equipe da briga pela primeira posição, mas não foi capaz de manchar a histórica campanha que garantiu a vaga na fase preliminar da Libertadores, feito que passa muito pelos pés (e pelo pulmão) do veterano meio-campista. É opinião frequente na Argentina que Guiñazú é um dos jogadores com maior capacidade de enxergar as ações da partida atuando no futebol nacional. Seu nome aparece na seleção do campeonato da agência Opta, que levou em consideração a análise estatística de cada jogador – seus números são muito semelhantes aos do colombiano Wilmar Barrios, do Boca Juniors, tido como o melhor volante central do , pré-convocado por José Pekerman para a Copa do Mundo.
Entre os critérios mais relevantes, estão o número de bolas roubadas e o percentual de passes certos. Em uma equipe com esquema de jogo ofensivo, em que era necessário dominar os espaços, Guiñazú era senhor do campo e usava as quatro décadas de carrinho y correria como um trunfo muito peculiar para enquadrar a juventude afoita. E pensar que nos seus últimos tempos de Inter era considerado por alguns lunáticos como um dos problemas do time. Justamente ele, o único a alcançar aquele atacante maroto que adentra a área com a perícia dos ladrões, aquela bola que invariavelmente escapa pela lateral, aquele empate que talvez impedisse a tragédia
Pablo Guiñazu hoje é ídolo e referência máxima do Talleres dentro do campo. Estampa as campanhas de publicidade, é adorado pela torcida e serve de exemplo para os jovens valores tallarines. Fora do campo, diz que aprecia um fernecito e se dá ao direito de destrinchar dois churrascos por semana, pois "o assado alimenta outra parte do ser humano". Provavelmente, é exatamente em volta da churrasqueira que El Cholo estará enquanto assiste a seleção de Sampaoli tentar o tricampeonato na Rússia, talvez imaginando que Messi estaria muito mais tranquilo se, ao olhar para trás, enxergasse aquele último exemplar de volante forjado na trincheira do meio-campo e sua cabeça pelada, como um farol instransponível pronto para repelir qualquel bávaro disposto a destroçar o sonho argentino mais uma vez.