Expirado o prazo para publicação dos balanços financeiros dos clubes, quem entra em campo para analisar os dados e verificar se documentos e finanças estão de acordo com a Lei do Profut é a Autoridade Pública de Governança do Futebol (APFut). O órgão do governo federal não faz a "execução sumária" das entidades de prática do futebol, retirando-as imediatamente do parcelamento para pagar as dívidas com a União. Mas já prevê a abertura de processos administrativos contra os clubes que não cumprirem as contrapartidas impostas pela legislação vigente.
- Vamos analisar os balanços para ver o cumprimento ou não. Temos até dois meses para as análises. Se o clube não cumprir, vamos abrir processos administrativos. Por análises iniciais, deveremos ter na Série A. Isso quer dizer que o clube terá que mostrar como vem melhorando ao longo do ano. A partir do momento que o processo administrativo for aberto, vamos pedir para que o clube apresente um plano de ação de 180 dias para termos noção de como o clube vai andar em 2018. Ninguém exclui os clubes de primeira. Tenho que abrir um processo e, até por uma questão legal, vamos apresentar os indícios - explicou ao GLOBO o presidente da APFut, Luiz André Mello.
Ele não cita casos específicos, mas já é possível verificar, por exemplo, alguns clubes que desrespeitaram o requisito de não superar em até 10% da receita bruta o déficit no exercício de 2017. O Vasco fechou o ano passado com uma receita operacional bruta de R$ 191,5 milhões. Dentro desse cenário, o limite, pela lei, que o clube poderia ter de déficit seria R$ 19 milhões. Mas a conta vascaína teve um rombo de R$ 22 milhões, apenas em 2017. No caso do Fluminense, o balanço nem teve os dados completos a ponto de se identificar a receita bruta. Só está disponível a receita líquida (já com o desconto de impostos, foi de R$ 212 milhões). E o cenário é ruim: déficit de R$ 79,4 milhões.
- Queremos que, para 2018, esse clube realmente reduza de forma drástica o déficit. Estamos querendo mudança de mentalidade, dentro dos parâmetros permitidos pela lei. Vamos atuar de maneira mais próxima dos clubes que não cumpriram algum dos requisitos - comentou Luiz Mello, ainda sem direcionar a frase a qualquer entidade específica.
Na Série A, 17 clubes estão submetidos às regras do Profut porque aderiram ao parcelamento. Apenas Palmeiras, Chapecoense e Sport não estão no projeto. No momento da adesão, outros 14 clubes estavam na Série B, seis na Série C e 13 na Série D. Ao todo, 137 entidades entraram no projeto, mas, atualmente, pouco mais de 10% já deixaram o Profut, por diversos motivos - desde problemas de documentação, falta de cumprimento de contrapartidas e até mesmo vontade própria.
Dentro deste cenário, há dirigentes que, após a divulgação dos balanços, cita os contatos recentes com a APFut como uma eventual garantia de falta de punição, algo totalmente rechaçado pelo presidente do órgão. O intercâmbio, segundo Luiz, existe, mas não com intuito de anistiar clubes.
- O que temos feito, e isso é público, é que estamos conversando de forma sistemática com os clubes. Já tínhamos indícios de que alguns poderiam não cumprir há algum tempo e vinhamos alertando sobre o risco. De maneira sistemática venho reunindo com os clubes, tentamos passar nossa maneira de trabalhar para que ela seja de forma técnica e objetiva, sem segundas interpretações - completou.
SEM INTERFERÊNCIA NAS DECISÕES
Embora pretenda fazer um acompanhamento próximo aos clubes dos planos de ação eventualmente apresentados durante o período probatório de 180 dias, após a instauração de processo administrativo, a APFut assegura que não irá interferir em decisões estratégicas de cada clube.
- O clube vai nos passar e vamos discutir os termos apresentados. Mas a gestão é do clube, eu não vou me meter. Só que, se ele tem expectativa de receita com venda de jogadores maior que o histórico recente, vou pedir mais dados para que ele não dependa da "bala de prata" no final da janela. Temos que trabalhar na linha do que é orçado do que é o realizado - comentou.
Fonte: O Globo Online