Campello estaria tentando abrir diálogo com grupos de oposição
Sábado, 05/05/2018 - 07:07
Eleito o presidente do Vasco no próximo triênio graças a uma manobra nos bastidores do Conselho Deliberativo, Alexandre Campello terá de enfrentar uma nova e dura realidade no clube: em função de divergências administrativas, o dirigente perdeu a base aliada que justamente o ajudou a chegar ao poder e agora se encontra isolado e com sérias dificuldades para governar.
A saída de Fred Lopes – importante figura de articulação política na campanha – da vice-presidência de futebol expôs definitivamente as diferenças entre Campello e o grupo que o levou ao poder - "Identidade Vasco". E o racha promete ser ainda maior na nova diretoria vascaína:
Mentor do "Identidade", o presidente do Conselho Deliberativo, Roberto Monteiro, já não falava a mesma língua de Campello há tempos. Influente nos bastidores cruzmaltinos e com diálogo aberto com o ex-presidente Eurico Miranda e outras figuras importantes, ele já prometeu dificultar a vida do atual mandatário entre os conselheiros.
Com a ameaça de debandada, já há quem conte que Campello terá agora menos de 10% das cadeiras do Conselho (cerca de 20 num cenário de 300). Esta situação impacta diretamente na aprovação de propostas e sugestões criadas por ele.
Mais vices rompidos
Um dos pontos que causaram o estopim da crise no futebol - com Fred Lopes - foi a venda de Paulinho para o Bayer Leverkusen, quando o presidente vascaíno tratou individualmente a negociação com os alemães, algo que enfureceu não só o vice de futebol como também o vice de finanças, Orlando Marques, que ainda não teve acesso a maiores detalhes e documentos financeiros da transação.
Orlando ainda se revoltou com a decisão de Campello de divulgar o balanço patrimonial - e demonstrativos financeiros - de 2017 sem apresentá-lo ao vice de finanças antes. O relatório detalhado que expõe a gestão de Eurico Miranda caiu mal no grupo "Identidade Vasco" - do qual Orlando faz parte. A "independência" de Campello no caso incomodou.
"Sou o presidente, a negociação é importante e não vejo problema nenhum em encabeçá-la. Até porque a outra parte (Bayer) iria falar com o presidente do clube. Acho descabido, uma vaidade besta, não tive essa vaidade com uma série de outras negociações que ele (Fred) conduziu. Ele tinha carta branca para isso", argumentou Campello.
Os agora rivais políticos do presidente criticam também a relação à portas fechadas com o empresário Carlos Leite, que agencia Paulinho e outros atletas do elenco e que já emprestou cerca de R$ 30 milhões ao Vasco.
"É natural. O Carlos Leite talvez se sinta mais confortável de falar comigo. Ele tem uma lógica com todos os clubes de tratar com quem tem a caneta na mão, de quem tem a responsabilidade. Acho até que é natural você, numa negociação que trate de milhões, tratar com quem é o responsável", se defendeu Campello.
Além da saída de Fred do futebol e do incômodo explícito de Orlando nas Finanças, o presidente pode perder outro vice: Luiz Gustavo, de patrimônio. No meio da crise com o "Identidade Vasco", Campello tirou dele a autonomia nas operações dos próximos jogos.
Questionado se temia uma debandada da diretoria, o presidente do Vasco clamou pelo objetivo primordial de pensar no clube em primeiro lugar:
"Eu espero que as pessoas coloquem o Vasco em primeiro lugar. Tem muito trabalho a ser feito e nossa proposta é transformar o Vasco, devolver o equilíbrio necessário. Espero que não tenham só um projeto de poder os movendo".
Campello tenta se aproximar de grupos opositores
Ciente do seu isolamento da presidência do Vasco, Alexandre Campello nos últimos dias têm tentando abrir um diálogo com grupos de oposição numa busca por união. Porém, alguns opositores ainda magoados com a forma que o dirigente agiu na eleição, rompendo a aliança com Julio Brant para se aliar aos pares de Eurico Miranda, estão reticentes com a aproximação. Reuniões, no entanto, têm acontecido para avaliação da situação.
Campello tem pedido ajuda financeira e política com o argumento de "colocar o Vasco em primeiro lugar".
Mudanças no departamento de futebol
O primeiro nome que apareceu cotado para assumir o cargo de vice de futebol na vaga de Fred Lopes é o de Ercolino de Luca, que dirigiu a pasta no segundo mandato de Roberto Dinamite. Campello, porém, tratou o caso como uma "ciumada besta".
"Isso é uma ciumada besta. Lamentavelmente o Fred colocou isso na cabeça. Ercolino é um amigo meu pessoal. Viajamos para Angra (dos Reis) juntos. Ele não tem a menor vontade de assumir esse cargo e lamento que ele (Fred) tenha colocado isso na cabeça", disse Alexandre.
Um dos pontos que impedem um retorno de Ercolino é uma dívida que o Vasco tem com ele de cerca de R$ 700 mil, já que quando foi vice de futebol colocou tal dinheiro do próprio bolso.
Campello também foi questionado sobre uma possível troca na direção-executiva de futebol, saindo Paulo Pelaipe para a chegada de seu amigo particular Rodrigo Caetano, que recentemente foi demitido do Flamengo.
"Óbvio que o regimente é presidencialista. Se eu quisesse ter colocado o Rodrigo, eu teria feito, mas nenhuma atitude que eu fiz, nada que foi feito para o clube, foi feito sem uma conversa. As ideias que tive sempre conversei com ele (Fred). Me estranha muito esse comportamento dele", disse.
O Vasco recebe o América-MG, neste sábado, às 19h, em São Januário, pelo Campeonato Brasileiro, e o clima é de tensão. Alexandre Campello informou que pediu um reforço no esquema de segurança.
Fonte: UOL