Encerrada a reunião do Conselho Deliberativo da última terça-feira, em que teve de dar explicações a respeito do contrato do Vasco com a Lasa e do empréstimo com Carlos Leite, Alexandre Campello saiu para comer. Seguiu sozinho rumo à Pizzaria do Braz. Cercado por seguranças, comeu em silêncio em um lado do restaurante, enquanto que membros da oposição observavam de uma mesa distante. Longe dali, os principais líderes políticos do grupo que o elegeu se reunia para debater o saldo do encontro na Sede Náutica da Lagoa.
O cenário ilustra o distanciamento entre o dirigente e os caciques da Identidade Vasco, intensificado depois da venda dos direitos do atacante Paulinho para o Bayer Leverkusen, da Alemanha. A guerra fria entre Campello e seus dirigentes, iniciada na discussão a respeito do Balanço Financeiro do clube, teve mais um capítulo.
Fred Lopes, vice-presidente de futebol do Vasco, é um dos mais diretamente envolvidos nos atritos e o único a admití-los. Alexandre Campello foi quem tratou diretamente com Carlos Leite a respeito da saída de Paulinho. O fato de o grupo não ter participado mais das negociações incomodou. Internamente, reclamam do valor da transferência fechado pelo presidente.
— Divergências sempre vão existir, é normal em um trabalho. Mas entre isso e haver uma crise, há uma diferença — afirmou Fred Lopes.
Balanço pode confirmar atrito
A disposição mostrada por Alexandre Campello para produzir o balanço financeiro de 2017, com a contratação de auditorias e a recusa em permitir que Eurico Miranda preparasse a prestação de contas referente ao seu último ano de administração, foi lida como um sinal de transparência por aliados e oposição. Pessoas próximas ao presidente acreditam que um balanço duro com Eurico poderá provocar a represália do ex-presidente no futuro. Eurico Miranda dialoga com Roberto Monteiro, presidente do Conselho Deliberativo, a respeito, e nas conversas se refere a Campello como "seu menino".
— Não está havendo nenhum atrito na prática, é mais especulação — garantiu Monteiro, cabeça da Identidade Vasco e principal articulador para Campello assumir a presidência.
Com o balanço previsto para sair nos próximos dias, o posicionamento do parecer a respeito da aprovação ou não das contas de Eurico, em documento que precisará ser assinado por Campello, é tido como um movimento decisivo para deixar a relação entre o presidente e seu pares mais clara.
Troca de seguranças
Atualmente, Alexandre Campello se mantém mais próximo de três vice-presidentes: Sônia Maria Andrade dos Santos, 2ª vice geral, Rogério Fernandes, vice jurídico, e Bruno Maia, vice de marketing. Com outros vice-presidentes, a relação esfriou. A decisão de Campello de contratar seguranças próprios e dispensar os homens que o vice-presidente de patrimônio, Luiz Gustavo Pereira da Costa, havia disponibilizado para ele, ecoou internamente.
As correntes de oposição do clube observam as movimentações e algumas já sinalizaram apoio a Campello, em caso de problema com a Identidade Vasco. É o caso de Otto de Carvalho Júnior. O grupo Sempre Vasco, de Julio Brant, com quem Campello rompeu às vésperas da eleição, evita se manifestar. Procurado para comentar a reportagem, o presidente mandou seu recado via assessoria de imprensa:
— Reafirmo minha preocupação em gerir o Vasco acima de interesses pessoais.
Fonte: Extra Online