Nascido em Montevidéu e goleiro da seleção uruguaia, Martín Silva chegou ao Vasco da Gama aos 30 anos, em janeiro de 2014, como a principal contratação do clube. Com passagens pelo Defensor (URU) e o Olimpia (PAR), aceitou o desafio de atuar pelo seu primeiro clube no Brasil.
Na bagagem, não faltavam títulos expressivos. Entre eles: Campeonato Uruguaio (2008), Campeonato Paraguaio Clausura (2011), Copa América (2011), além do vice-campeonato da Libertadores pelo Olimpia, sendo eleito o melhor goleiro da América pelo jornal El País.
A missão, aparentemente, não era nada fácil: solucionar uma das principais dores de cabeça da equipe, que contava com Michel Alves, Alessandro e Diogo Silva.
Não demorou muito para mostrar a que veio. A estreia com a camisa vascaína acontecia ao melhor estilo: goleada por 6 a 0 sobre o Friburguense. Disputando o seu primeiro Campeonato Carioca, foi o menos vazado, feito que garantiu o prêmio de melhor goleiro da competição e o vice-campeonato do Vasco.
Em março, porém, o primeiro de uns dos principais capítulos difíceis no clube. Sua filha Pilar nasceu prematura e com problemas respiratórios. Prontamente foi liberado para acompanhar de perto a situação. No retorno, sem sequer treinar, encarou o clássico contra o Fluminense, novamente eleito o melhor jogador da partida. Um motivo em especial emocionou Martín: ter o nome da pequena gritado pela torcida.
– A torcida cantou o nome da minha filha e foi muito emocionante. Tive até que respirar para me concentrar melhor na partida. Fiquei muito agradecido – disse o uruguaio na ocasião.
O Vasco voltava a ter um camisa 1 disputando uma Copa do Mundo, feito que não acontecia desde 1998, com o ídolo Carlos Germano. Para comemorar, o lançamento de uma camisa especial nas cores do Uruguai. Em agosto, foi o escolhido para entrar em campo com o uniforme de número 116, em homenagem ao aniversário da instituição.
Após um início marcante, no ano seguinte veio o primeiro título: o Campeonato Carioca (2015), novamente considerado o melhor goleiro. E foi nesse mesmo ano que o goleiro desfalcou a equipe por 17 jogos durante a disputa da Copa. O Almirante terminaria o Campeonato Brasileiro rebaixado.
Com sondagem de outros clubes para a disputa da Série A, decidiu seguir defendendo a meta vascaína. Não só renovou o seu contrato por mais três anos, como conquistou de vez o carinho da torcida.
A coroação veio com a marca de 100 jogos pelo Vasco, em triunfo por 3 a 1 sobre o Bonsucesso e, em seguida, a conquista do Bicampeonato Carioca, de maneira invicta.
No início de 2017, uma nova proposta, desta vez do Boca Juniors, um dos times mais tradicionais da Argentina. Na ocasião, o uruguaio foi taxativo, garantindo que não havia nenhuma possibilidade de deixar o Vasco, mas enxergava o interesse como um indicativo de que o trabalho estava dando certo.
– Na minha cabeça não passava sair do Vasco. Estou respeitando o contrato no clube, quero reforçar meu compromisso e estou tranquilo. Se estão me especulando fora do Vasco é porque estou fazendo o melhor possível, mas estou tranquilo. Agora não tem nenhuma proposta que possa me tirar do clube – garantiu Martín.
Mesmo não conseguindo o tricampeonato do torneio regional, o uruguaio levava para casa pela quarta vez o troféu de melhor goleiro. Ao fim da temporada, brilhou na partida contra o Cruzeiro, na qual o Vasco venceu por 1 a 0, quebrando um tabu de quase 20 anos sem vencer os mineiros no Mineirão. O resultado foi determinante para manter as chances de classificação para a Libertadores.
Apesar do desempenho dentro das quatro linhas, o ano terminava e começava de maneira conturbada nos bastidores de São Januário. Eleição polêmica, caso de urna 7 e salários atrasados. O clube chegou a não ter presidente, sendo administrado de maneira conjunta por três candidatos. A situação que já era delicada, teve o estopim com a declaração de Eurico Miranda de que o clube poderia não embarcar para a Libertadores, uma vez que as passagens não haviam sido compradas. Martín reagiu e não escondeu a insatisfação.
– Sim, estamos incomodados. Não ficamos sabendo das coisas. Não sabíamos se tinha jogo, se tem passagem. Isso dói. Estamos dando o máximo, estamos sendo profissionais mesmo com salário atrasado. Continua passando o tempo e não temos resposta – alegou o camisa 1.
Sob nova administração, o técnico Zé Ricardo teve grande participação para blindar a equipe e virar a página. Em busca da sua terceira conquista da América, o Vasco estreou com direito a goleada: 4 a 0 contra o Universidad de Concepción, no Chile. Era o jogo de número 200 de Martín Silva.
O capítulo mais especial, no entanto, ainda estava por vir. Depois de vencer o Jorge Wilstermann por 4 a 0, em São Januário, o Gigante da Colina foi até a altitude de Sucre. O que ganhava contornos dramáticos, com a vantagem revertida em tempo normal, se transformou em milagre graças ao heroísmo de Martín Silva. Em noite inspirada, o goleiro defendeu três penalidades e garantiu o Vasco na fase de grupos da competição continental.
Quatro anos depois da chegada, mais que o líder e capitão da equipe, Martín Silva conquista o status de ídolo, caminha para mais uma Copa do Mundo e segue escrevendo uma bela história que, se depender da torcida, está longe de ter um ponto final.
Fonte: Expresso 1898