Fora da Ponte Preta, ex-vascaíno Rodrigo fala sobre 'dedada' e chora; veja vídeos
A cena de Rodrigo "introduzindo o dedo médio nas nádegas de Tréllez" rodou o Brasil - e até o mundo. Foi vista por milhões de pessoas e ficou marcada como a imagem do rebaixamento da Ponte Preta no Brasileirão. Mas o próprio protagonista, em entrevista exclusiva ao GloboEsporte.com, disse ainda não ter assistido ao lance novamente.
Até porque Rodrigo não precisa de um replay para lembrá-lo do seu erro. O jogador se recusa a rever o gesto que lhe custou a expulsão aos 19 minutos do jogo contra o Vitória, quando a Macaca ganhava por 2 a 0 - com um a menos, o time levou a virada e teve a queda sacramentada. As lembranças daquele dia ainda incomodam o veterano de 37 anos.
"Foi o pior momento da minha carreira, sem dúvida nenhuma. Minha vida no dia a dia está difícil. Eu saio na rua e sinto vergonha do que fiz", Rodrigo.
Foram mais de dois meses até decidir se pronunciar. O silêncio foi quebrado nesta segunda-feira, quando recebeu a reportagem em sua casa disposto a falar sobre a polêmica. Mesmo ainda depois de tanto tempo de reflexão, ele não consegue explicar o motivo de ter dado a "dedada" em Tréllez.
- Eu provoquei muitos jogadores e por fim fui provocado, acabei me prejudicando, prejudicando a equipe em um momento delicado. Não sei nem te falar porque fiz aquilo. É a primeira vez que estou falando disso. Nunca comentei com amigo, nem com esposa. Estou até emocionado. Foram dois meses muito complicados, guardando tudo isso. O que mais me doeu foi a responsabilidade em cima de mim, o peso de um rebaixamento todo. Um clube não é apenas um jogador. Ainda está difícil para mim - disse Rodrigo, que recebeu a reportagem na sua casa, em Campinas, três dias depois de ter o contrato rescindido pela Ponte sem acordo financeiro entre as partes.
Falar do ocorrido naquele 26 de novembro de 2017 mexe com Rodrigo. Em quase uma hora de conversa, o zagueiro ficou com a voz embargada por diversas vezes e não segurou as lágrimas em dois momentos: ao assumir o erro e também ao lembrar da mãe, falecida em 2010. Nem parecia aquele zagueiro que por anos, principalmente na reta final da carreira, distribuiu provocações em campo e também nas entrevistas.
Ao passar o episódio a limpo e pedir desculpas à torcida da Ponte, Rodrigo se despiu do personagem que criou no Vasco e mostrou um outro lado. Sem fugir da responsabilidade pelo que aconteceu contra o Vitória, Rodrigo abriu o jogo, revelou detalhes dos bastidores após a expulsão, criticou o planejamento da Ponte e também a postura da diretoria durante as negociações para rescindir. Como tem valores a receber do clube, o atleta deixou claro que vai entrar na Justiça em busca dos seus direitos.
- É muita gente se escondendo atrás das minhas costas, do que realmente aconteceu. Muita gente que estava na antiga administração e continua trabalhando lá. Eu não queria que isso tivesse acontecido, peço desculpas do fundo do meu coração. Não queria entrar na Justiça, a Ponte não tem nada a ver com as pessoas que administram o clube. A partir do momento que falaram que não teria acordo, vou atrás dos meus direitos na Justiça.
Apesar de ter saído em baixa da Macaca, Rodrigo pretende continuar jogando justamente para apagar a última impressão deixada. O primeiro passo para virar a página é enterrar o personagem que ele mesmo alimentou por anos, com polêmicas com Guerrero e Fred, por exemplo, mas que acabou lhe traindo no momento em que a Macaca mais precisava do seu capitão.
- É legal até um certo momento. Quando todo mundo começa a imaginar que o Rodrigo de campo é o mesmo fora dele, acho que não fica legal. Na hora que dá errado, você para e pensa que não vai fazer mais. Hoje morreu esse Rodrigo, de provocar, dar entrevista provocando o adversário. Não vou mais. Foi a gota d´água em termos de conduta assim. Não quero terminar minha carreira desse jeito.
Atitude inexplicável
- Antes disso, ele já estava me provocando, pisando no meu pé. Eu provoquei muitos jogadores e por fim fui provocado. Acabei caindo na provocação e fui expulso. Não sei nem te falar porque fiz aquilo. Não estou me defendendo. Mas se for colocar trinta e poucos jogos nas minhas costas... Um erro seu pode ser fatal em qualquer momento. Eu não assisti ao lance de novo. Uma vez sequer.
- Eu poderia, com o time gahando de 2 a 0, ficar na minha. Aconteceu. Ele vinha me provocando desde que quando fizemos 1 a 0, pisando no meu pé e tudo mais. Quando fui expulso, fui reclamar com o juiz que não fui só eu. De tudo, nunca imaginei que a equipe sofreria três gols em pouco tempo no segundo tempo. Deu um baque.
Saída às pressas do estádio
- Eu estava no vestiário, estava isolado no departamento médico. Lembro quando um segurança chegou e falou que me levaria embora. Eu quis ficar, mas ele insistiu, e acabei saindo com ele assim que o time levou o terceiro gol. Depois desses dias, encontrei todo mundo nos Estados Unidos, como o Wendel, o Yago me ligou. Foi uma ligação que eu nunca esperava. Não estava para falar com ninguém, não queria ver ninguém.
Personagem criado pelo próprio zagueiro
- Eu criei esse personagem. É como em um time de futebol. Se está dando certo, não vai mudar. Mas uma hora acabou acontecendo comigo. Provoquei muita gente, e hoje fui expulso. Esses três pontos podem colocar na conta do Rodrigo, de boa. Agora colocar um rebaixamento nas minhas costas, foi muito difícil. Por mais que eu tenha 37 anos, não estou conseguindo lidar com isso.
- É lega até a hora que dá certo. Não quero terminar minha carreira desse jeito. Minha vida no dia a dia está difícil. Eu saio na rua e sinto vergonha do que fiz. Ser expulso é uma coisa. Do jeito que foi, que colocaram... Que ele estava me provocando antes ninguém mostrou.
- Foi o pior momento da minha carreira. Tá todo dia comigo isso. Se você faz alguma coisa que gosta e outra pessoa vem e começa a te criticar... Hoje não estou bem comigo mesmo. Mas esse tempo foi bom para dar uma refletida. Esse personagem foi legal até um certo momento. Quando começa a misturar o que você é em campo com o que é fora, não é legal. Hoje morreu esse Rodrigo, de provocar, de dar entrevista provocando o adversário. Não vou mais, porque o pessoal não consegue separar muito isso. Foi a gota d´água em termos de condutas assim.
Apoio da família e dos amigos
- Veio muito a imagem da minha mãe, que faleceu em 2010. Eu sinto muito a falta dela. Tá ruim, cara (pausa). É muita gente falando. É como se você levantasse um castelo, com muita gente destruindo, e você não conseguindo manter o castelo de pé. Tá difícil. Se não fosse meu filho, minha esposa, não sei...
Planejamento da Ponte
- Quando cheguei, achei que dava para ir mais longe, buscar algo como a Libertadores. Mas começamos a perder peças principais para o time. Começamos a ter derrota atrás de derrota, e eu falei: "Está muito errado". Eu via no dia a dia que não fluía. Mandou pessoal embora, como o Negueba, Xuxa, João Lucas, e não repôs.
- Deu até dó do Eduardo, coitado. Quando ele chegou, eu olhava e imaginava: "O que ele vai ter para trabalhar?". A Ponte não tinha a estrutura para os profissionais, para a recuperação adequada dos jogadores. Isso em um campeonato longo como o Brasileiro conta muito.
- Isso é culpa dos profissionais que contratam, que comandam um clube importante como a Ponte. É isso que eu lamento.
Processo da rescisão
- É muita gente se escondendo atrás das minhas costas, do que realmente aconteceu. Muita gente que estava na antiga administração e continua trabalhando lá. Eu não queria que isso tivesse acontecido, peço desculpas do fundo do meu coração. Não queria entrar na Justiça, a Ponte não tem nada a ver com as pessoas que administram o clube. A partir do momento que falaram que não teria acordo, vou atrás dos meus direitos na Justiça.
Arrependimento
- Eu peço desculpas por não ter ajudado mais. Peço desculpas pelo que aconteceu no jogo. Esses três pontos podem colocar na minha conta, mas não o rebaixamento. Até falando isso agora, fico com a minha consciência tranquila. Só estava precisando colocar isso para fora. Tenho certeza que vou arrumar um clube agora. Eu ficaria com o maior prazer na Ponte e daria a volta por cima aqui.
Futuro da carreira
- Eu quero ser o que sou dentro de casa, na minha rua, com o pessoal que me conhece, que eu brinco aqui. É essa pessoa que agora eu quero passar para as pessoas. Chega. Se todo mundo fala que eu sou um cara bacana, vamos ser bacana em campo, um pouco mais leve, deixar fluir mais naturalmente.
- Eu estava querendo jogar até meus 40 anos. Acho que tenho condições para isso, de continuar jogando para isso. Até porque o nosso nível também não está aquelas coisas.
Fonte: GloboEsporte.com