Vasco elevou gastos em 2017 e agora vende ativos para equilibrar contas
Sábado, 13/01/2018 - 08:01
"Minha prioridade número um aqui é não atrasar salários, sempre pagar funcionários". O lema que norteou o início da gestão de Eurico Miranda voltou a ser repetido na última sexta-feira, durante entrevista coletiva do presidente do Vasco em São Januário. O objetivo principal do cartola, no entanto, não vem sendo alcançado há alguns meses. Em grave crise financeira, o Cruzmaltino deve salários a jogadores, funcionários e chegou a ficar nove meses sem depositar um centavo de direito de imagem do zagueiro Paulão, por exemplo.

O desenrolar dos fatos mostra que o desmanche promovido para apagar esse incêndio poderia ter sido evitado. Embora Eurico argumente que o Vasco precisa "honrar seus compromissos", esquece que foi a sua própria administração que colocou o clube nesse patamar. Depois de bater no peito para dizer que "estabilizou" o clube no pós-Dinamite, o dirigente perdeu o controle dos gastos, contou com receitas incertas e passou 2017 quase inteiro fazendo justamente aquilo que se propôs a não fazer - atrasar salários.

A dívida acumulada não preocupou Eurico até a semana em que a Justiça deu sinais de que seria Julio Brant, e não ele mesmo, o presidente do Vasco daqui em diante. Nos prováveis últimos dias de seu mandato, então, passou a correr para tapar o buraco que ele mesmo cavou, promovendo desmanche que compromete a participação do clube na Libertadores e até o próprio futuro financeiro, vendendo promessas a preço abaixo de mercado. Veja, abaixo, como cada etapa desse processo se deu.

Estabilidade, salários em dia e redução da dívida

De volta a São Januário, Eurico parecia seguir a receita de responsabilidade tão logo reconquistou a presidência do clube. Salários atrasados eram raridade até o fim de 2016. A dívida, de acordo com números do clube, foi reduzida em mais de R$ 120 milhões.

"Estamos arrumando a casa, a situação é estável", chegou a dizer o dirigente em uma de suas inúmeras entrevistas coletivas.

O colapso do fim da gestão de Roberto Dinamite parecia ficar no passado. Com investimento menor no futebol e priorizando o pagamento de débitos antigos, o cartola deu um mínimo de tranquilidade financeira ao Cruzmaltino.

Altos salários e venda travada de Coutinho ligam alerta

Em 2017, a estabilidade verificada até meados de 2016 já não existia mais. A cobrança por melhores campanhas no futebol e a promessa de uma classificação para a Libertadores fizeram Eurico abrir o cofre, mas ele não estava tão cheio.

Os altos salários pagos a medalhões como Luis Fabiano e contratações de peso como Anderson Martins ligaram o alerta. Os pagamentos começaram a atrasar e afetavam todos os setores do clube. O projeto de um time forte no basquete, por exemplo, projetava a entrada de quase R$ 8 milhões, o que não se concretizou e exemplifica a maneira como a diretoria geriu os recursos do clube.

Para salvar o ano, havia a esperança de uma luz no fim do túnel: a transferência de Philippe Coutinho do Liverpool (Inglaterra) para o Barcelona (Espanha) na janela de meio de ano. Mas as conversas travadas entre os clubes deixaram os cofres vazios no Vasco, que sonhava com os R$ 15 milhões do mecanismo de solidariedade aos times formadores.

Projeções de vendas de atletas ao longo da temporada também não se concretizaram. Tudo em nome do objetivo de conquistar a vaga na Libertadores. A classificação veio, mas o dinheiro, não. E aí o clube se enfiou em um buraco nas finanças.

Crise financeira e desmanche forçado

Faltava dinheiro em caixa para o Vasco de Eurico Miranda, mas ainda sobrava confiança de que o próprio poderia seguir no poder. Quando viu sinais de que a Justiça não iria reverter a decisão de anular a polêmica urna 7 da eleição e dar a vitória a chapa do opositor Júlio Brant, o cartola correu para tapar o buraco.

Em uma semana, o clube perdeu Anderson Martins, Madson e Mateus Vital. Ainda sinalizou que pode vender o jovem Paulinho, de apenas 17 anos e mais de 50 milhões de euros (quase R$ 200 milhões) de multa rescisória. E as negociações não devem parar por aí.

"Preciso de recursos para honrar meus compromissos", disse, se defendendo das acusações de que estaria entregando os ativos do clube para deixar um time mais fraco a Brant.

Joias perdidas

A consequência não poderia ser pior. Ainda que resolvesse parte dos problemas financeiros com o desmanche de urgência, Eurico se viu perto de perder os maiores ativos do clube. E sem a recompensa considerada ideal. Mateus Vital foi negociado para o Corinthians por R$ 8 milhões, valor considerado abaixo do esperado.

Como em 2008, quando deixou o clube para Roberto Dinamite assumir e vendeu Philippe Coutinho às pressas, Eurico Miranda ainda pode perder novamente sua maior joia. "Se tiverem uma proposta, me tragam. Se for vantajoso para o clube, vendemos", disse, sobre o jovem Paulinho, de apenas 17 anos e mais de 50 milhões de euros (quase R$ 200 milhões) de multa. "Ele vale um caminhão de dinheiro, mas posso vender por menos. Vamos ver", completou.

Em 2008, o hoje segundo jogador mais caro da história foi vendido por apenas R$ 10 milhões. Coutinho deixou o Vasco para jogar na Internazionale, da Itália, em negociação muito criticada pelos cruzmaltinos. A pressa em vender se repete, as críticas também. Resta saber o que os próximos meses guardam para um time em crise financeira e com um futuro político indefinido.



Fonte: UOL