Local do 1º gol de Romário, Nova Venécia (ES) é a região com maior densidade de vascaínos, segundo estudo
Quinta-feira, 21/12/2017 - 15:47
Colonizado por imigrantes italianos e emancipado nos anos 1950, o município de Nova Venécia não é só conhecido pelas suas jazidas de granito. De acordo com o levantamento do Mapa de Curtidas do GloboEsporte.com em parceria com o Facebook, a microrregião veneciana é a que possui a maior densidade de torcedores vascaínos do Brasil - 21,71% do total de curtidas (veja os números completos).

Além da paixão de parte da população pelo clube, a cidade tem uma relação com a história do Vasco. Em 1985, o Gigante de Colina fez dois amistosos no estádio Zenor Pedrosa. Na época reserva de Roberto Dinamite, o jovem Romário aproveitou a chance de jogar os amistosos e fez dois gols na goleada de 6 a 0 - Silvinho, Nilmar e Geovani completaram o placar (assista no vídeo abaixo).

Vinte e dois anos depois, quando fez o milésimo, a partida em Nova Venécia foi lembrada por ter sido onde o Baixinho fez o seu primeiro gol.

Torcedor fanático do Vasco e do Nova Venécia, o empresário José Renato Ferrari foi um dos organizadores daqueles jogos. Ele acredita que o grande número de vascaínos na sua cidade pode ter origem na repercussão das partidas.

- Tradicionalmente, em Nova Venécia sempre teve muito vascaíno, mas com certeza esses jogos que aconteceram em 85 contribuíram para esse número expressivo de torcedores. Eu tenho certeza que a maior faixa etária da torcida é de 25 a 35 anos. Foi um pequeno intervalo de três meses que o clube veio duas vezes aqui. A vinda do Vasco foi um dos fatos mais marcantes na história da nossa cidade, na época, e depois ganhou mais importância quando o Romário marcou o seu gol mil.

José Renato Ferrari também conta que a mobilização na cidade foi grande principalmente no primeiro jogo, quando as arquibancadas do Zenor Pedrosa não comportariam todos os torcedores. Como solução, os organizadores foram a uma escola nas proximidades e conseguiram uma solução curiosa.

- Quando trouxemos o primeiro jogo, a capacidade do Zenor Pedrosa Rocha era de três mil pessoas. Mas não tinha lugar para todo mundo acompanhar o jogo. Então, fomos a uma escola da cidade, pegamos 300 daquelas antigas carteiras que serviram como assentos no estádio.

As lembranças daqueles jogos históricos são muitas para o empresário Ferrari, hoje proprietário do Jornal A Notícia. Mas até a confirmação do primeiro jogo, o vascaíno viveu momentos de ansiedade. Ele lembra que ficou sabendo que o Vasco jogaria em Nova Venécia apenas após o noticiário da rádio.

- Eu estava em negociações com o Calçada (Antônio Soares, presidente do Vasco na época) para trazer o clube para fazer um jogo na nossa cidade. Chegou um dia que o acordo foi fechado e, na época, a gente usava o telex. Momentos após a confirmação eu ainda não acreditava que o Vasco viria a Nova Venécia. Mas, à noite, durante um programa da Rádio Globo, foi que a ficha caiu quando foi noticiado que o clube faria um jogo no Espírito Santo.

Na segunda partida amistosa, que também aconteceu em 1985, o Vasco venceu por 5 a 1, com gols de Nilmar, Romário, Heitor (2) e Mazinho. Anselmo descontou para o AA Nova Venécia (assista abaixo).

Venecianos da Colina

Desde a virada do século, os torcedores vascaínos tiveram mais motivos para sofrer do que sorrir, com três rebaixamentos. O último em 2016, quando a equipe disputou a Série B pela terceira vez. Um grupo de moradores vascaínos de Nova Venécia, entretanto, criou uma torcida organizada chamada Venecianos da Colina.

O eletricista Weliton Bonomo, de 40 anos, um dos fundadores da torcida, disse que tudo começou num grupo de WhatsApp. Após algum tempo no aplicativo de celular, ele teve a ideia de fundar a organizada.

- Começou num grupo do WhatsApp. Meu primo fez um grupo de torcedores vascaínos e nós falávamos do time. Então eu tive a ideia da gente criar uma torcida organizada do Vasco em Nova Venécia. O pessoal achou a ideia boa. O Vasco até estava na Série B do Brasileiro. Nós demos o pontapé inicial na torcida no dia 30 de março de 2016.

De acordo com Bonomo, centenas de vascaínos aderiram à ideia. O fundador explicou como funciona o andamento do Venecianos da Colina. Os torcedores são cadastrados e possuem uma carteirinha, paga pelo próprio torcedor. Ele afirmou que não existe mensalidade.

- A nossa torcida tem uma lista de cadastrados e uma lista de torcedores com carteirinha. Nós não cobramos mensalidade, mas temos a carteirinha de sócio. Porque, às vezes, a gente faz alguns eventos, então, o cara que tem carteirinha ganha desconto. Ele não paga mensalidade, mas pagou a produção da carteirinha. Ao todo, 299 torcedores têm carteirinha.

A primeira e única experiência do Venecianos da Colatina em São Januário ocorreu no início do ano passado, meses após a fundação da torcida. Alguns torcedores realizaram uma excursão para assistir ao duelo do Vasco contra o Paysandu, pela Série B do Brasileirão. Os capixabas não tiveram sorte e viram os paraenses ganharem dos cariocas por 2 a 0.

- Mas a experiência foi boa. Foi muito legal.

Médico garante ter feito mais gols que Romário, Pelé e Dinamite

Na história do futebol, apenas Pelé e Romário conseguiram a façanha de balançar as redes mais de mil vezes. Um vascaíno de Nova Venécia, porém, garante ter feito mais gols que os dois gênios do futebol brasileiro, juntos. Trata-se do médico Antônio Sarin, de 74 anos. Ele afirma ter feito 3.681 gols em peladas.

Nascido em 1943, Sarin não gostava de futebol quando criança e adolescente. O morador de Nova Venécia começou a contagem de todos os seus gols em 1973. Foi em 1970, entretanto, que o amor pelo futebol e pelo Vasco aflorou. Naquele ano, a Seleção Brasileira conquistou o tricampeonato Mundial e o Vasco saiu de uma fila de 12 anos no Campeonato Carioca.

- Eu não gostava de futebol até 1970, mais ou menos. Não torcia para nenhum time. Em 1970, o Brasil foi tricampeão da Copa do Mundo e o Vasco também foi campeão, conquistando o Campeonato Carioca. A partir desse título eu virei vascaíno.

Mal sabia o capixaba que Roberto Dinamite surgiria com a camisa cruz-maltina no ano seguinte. Para Sarin, o jogador mais impressionante que ele viu defender as cores do Gigante da Colina. Ele, inclusive, relembra com muito carinho o fato de ter visto o atacante na sua amada Nova Venécia. O capixaba era o médico do Leão de São Marcos, equipe adversária do Vasco na ocasião. A partida entrou para história, porque Romário marcou os dois primeiros gols da sua carreira.

- Se juntar o número de gols do Romário e do Roberto Dinamite não dá o mesmo tanto que tenho, porque eu já fiz 3681 gols (risos).

Fã da cruz de malta, veneciano tem nome em homenagem ao Baixinho

"Eu levo a Cruz de Malta no meu peito desde que eu nasci". Essa frase compõe uma das principais músicas cantadas pelos vascaínos. E mostra o quão valoroso é a Cruz de Malta para o torcedor do Gigante da Colina. Para Romário Moreira, agricultor de 25 anos e morador de Nova Venécia, foi o principal motivo de ter virado torcedor do clube.

Segundo Moreira, quando criança, havia um navio de brinquedo na sua casa, que tinha uma Cruz de Malta desenhada. À medida que os jogos do Vasco passavam na TV, ele via o símbolo do brinquedo no uniforme da equipe, então, ao fazer a associação, a torcida pelo Vasco foi ganhando força.

- Até porque o nome do time é Club de Regatas Vasco da Gama, então tinha o navio com o símbolo e eu achava o símbolo bonito.

Outro aspecto que liga Romário Moreira ao Vasco é o porquê do seu nome, em homenagem ao Baixinho, ídolo cruz-maltino. A ideia foi do seu pai, torcedor do Fluminense.

- Meu pai gostava do Romário e colocou meu nome em homenagem a ele. E eu sou vascaíno. Ele não concorda com isso, mas eu fico contra ele até hoje (risos).







Fonte: GloboEsporte.com