Em entrevista, Zé Ricardo revela que Vasco tem 'três nomes muito perto de um acordo' para reforçar o time
Quinta-feira, 7 de dezembro, 13h45, Praça Varnhagem. Em uma tarde abafada, típica de verão, Zé Ricardo chega com apetite ao bar Garota da Tijuca para almoçar uma bela picanha. Mas, parado pelas pessoas na rua, nem todas torcedoras do Vasco, este carioca da gema, de 46 anos, nascido e criado em Vila Isabel, atende a todos com um sorriso no rosto. Tira fotos, dá autógrafos e agradece o carinho. Feliz com a boa fase, projeta uma Libertadores vitoriosa com o cruzmaltino e revela: a fome é de títulos.
O DIA: Você assumiu o Vasco em 14º lugar no Brasileiro, há cinco jogos sem vencer e flertando com a zona de rebaixamento. Imaginava desfecho tão diferente?
ZÉ RICARDO: Na verdade, não. A gente teve a felicidade de vencer o primeiro jogo depois que fui contratado, contra o Fluminense, um resultado fundamental. Eu não fiquei no banco nesse clássico, o time foi dirigido interinamente pelo Valdir, mas vencemos (1 a 0) e depois tivemos 15 dias para trabalhar a equipe, devido à pausa no Brasileiro em razão de uma data Fifa. Aquela vitória nos deu duas semanas de tranquilidade para conhecer os jogadores, que compraram minhas ideias.
Qual foi o segredo para levar o Vasco à Libertadores?
Não teve segredo. O que teve foi a união de todo mundo em busca de um objetivo, sinceridade no trabalho e um bom ambiente, de muita confiança. A partir daí, as coisas aconteceram.
Como foi lidar com o fato de ter vindo do Flamengo? Sofreu algum preconceito?
Não. Foi uma transição tranquila. Fui bem recebido no Vasco e hoje ganho o carinho de torcedores não só do Vasco, mas do Flamengo. Fico feliz com as manifestações de respeito de todos comigo. A mudança de clube foi melhor do que eu esperava.
O que foi mais emocionante, levar o Flamengo, ano passado, ou o Vasco, este ano, à Libertadores?
São emoções diferentes, mas igualmente intensas. Ano passado, por ter sido meu primeiro trabalho no profissional, em um clube com a dimensão do Flamengo. Este ano, pela situação difícil em que o Vasco, com sua grandeza, se encontrava, pelas dificuldades ao longo do caminho. Eu me sinto muito recompensado com as duas situações.
Vai torcer para o Flamengo ser campeão da Sul-Americana?
O possível título do Flamengo vai melhorar a nossa condição de trabalho, visando à Libertadores, no que diz respeito a planejamento. É racional pensar que, se o Flamengo for campeão, o Vasco vai se beneficiar e entrar na fase de grupos, com seis jogos pela frente. Na pré-Libertadores, teremos duelos eliminatórios, nos quais uma derrota pode pôr tudo a perder precocemente. Além do mais, torço para o futebol brasileiro. Onde há um clube brasileiro, eu torço, pois sou brasileiro e vivo do futebol.
Até que ponto a ida à fase de grupos da Libertadores facilitaria o trabalho do Vasco?
Muito. Será um fator fundamental para o nosso planejamento. Teremos mais tempo para reformular o elenco e formatá-lo, além de um maior período de treinos.
Caso o Vasco tenha que jogar a pré-Libertadores, terá pouco tempo para treinar, pois a competição começa em janeiro. Como será o planejamento?
Primeiro a gente terá que definir quem fica e quem sai, onde será a pré-temporada e trabalhar algumas questões específicas em relação ao diferente condicionamento dos atletas. Se tivermos que jogar as fases de mata-mata, vamos nos concentrar nelas. Com isso, podemos disputar o Carioca com uma equipe alternativa, usá-lo como preparação para a Libertadores.
A possível saída de Nenê te preocupa?
Sem dúvida. Ele é nossa referência técnica. Contar com o Nenê será fundamental, um cara experiente e de muita qualidade.
Já tem algum reforço em vista para 2018?
Sim. Temos três nomes muito perto de um acordo e que virão para reforçar a defesa, o meio de campo e o ataque. Mas prefiro não falar em nomes.
Você tem 16 jogos, com sete vitórias, sete empates e duas derrotas. Qual te marcou mais?
A estreia contra o Grêmio foi importante, pois tivemos uma sequência difícil contra o então vice-líder do Brasileiro e o líder, Corinthians. Nós tínhamos que pontuar contra o Grêmio e conseguimos (vitória por 1 a 0). Caso contrário, ficaríamos perto da zona de rebaixamento. Contra o Corinthians, por pouco não empatamos (derrota por 1 a 0, gol de mão de Jô). A vitória sobre o Botafogo, um adversário forte, também foi importante e nos mostrou que estávamos no caminho certo. O triunfo sobre o Santos, na Vila Belmiro, foi especial. Jogamos bem e batemos outra equipe forte.
O momento político conturbado no clube atrapalhou?
Em momento algum. Conseguimos separar muito bem as coisas e contamos com um trabalho bem feito pela diretoria. Não sofremos qualquer tipo de interferência.
Como é trabalhar com Eurico Miranda?
Muito tranquilo. Tudo o que as pessoas que trabalharam com ele me disseram se confirmou. É direto e sincero na relação com os funcionários.
Que análise você faz da temporada de 2017?
Muito positiva. Minha passagem no Flamengo me deu experiência e 'casca' para superar adversidades. Minha ida para o Vasco foi um acerto, mostrei meu valor e levar o time à Libertadores foi recompensador.
Você se espelha em algum treinador?
Um dos que tenho como referência é o Paulo Autuori, mas admiro outros treinadores de muita capacidade, como Abel e Oswaldo de Oliveira. O Muricy Ramalho, dono de um currículo vitorioso, é outro. Nos demos muito bem com quando trabalhamos no Flamengo.
Algum estrangeiro?
Pep Guardiola e José Mourinho. O estilo do futebol alemão também me agrada muito. A Itália, onde vivi uma fase de minha vida, tem alguns bons treinadores.
Tite elogiou seu feito de ter levado o Vasco à Libertadores...
Fico lisonjeado. É outra grande referência para um treinador que está começando como eu. O sucesso da Seleção se deve ao trabalho incansável dele. Dentro e fora de campo. Eu me sinto muito bem representado por ele na Seleção e feliz com seus elogios.
O que espera do Brasil na Copa da Rússia?
É um dos favoritos ao título, mas não o único. Vejo a Alemanha como a principal força a ser batida. Mas o Brasil possui tradição e futebol para mudar isso e ser campeão. Temos qualidade técnica, Neymar e a força da Amarelinha.
Sonha dirigir a seleção brasileira?
É um sonho que tem que ser alimentado sempre. Ainda tenho muita coisa para aprender, para conquistar, mas a Seleção está nos meus planos. Será uma grande honra.
Como analisa o momento atual da Seleção?
Vive um momento muito positivo. Acredito que o Tite já tenha 80% do grupo que irá ao Mundial da Rússia definido, mas o fato de ele estimular os jogadores a lutar por um lugar na convocação final é muito importante.
Vai viajar nas férias?
Estou fazendo o curso da CBF, para a formação de treinadores, na Granja Comary, até o dia 17. Depois vou descansar, viajar com a família para a Região dos Lagos. Uma ida ao exterior não está descartada.
Qual a sua maior virtude como treinador?
Sou um técnico agregador, que cria um bom ambiente de trabalho, de convívio, e um estudioso do futebol.
E como pessoa?
Um cara honesto, amigo e justo nas decisões que tomo. Levo isso para o campo. Comigo, joga quem estiver melhor.
Que recado daria para a torcida do Vasco?
Que contamos com o seu total apoio. Que confie no nosso trabalho e no Vasco, uma equipe solidária, organizada e que vai em busca de muitas conquistas em 2018.
Fonte: O Dia