Márcio Cazorla relembra falhas que tiraram o Vasco da Libertadores em 1999
Quarta-feira, 29/11/2017 - 22:21
Se o embarque do Flamengo para a Colômbia, onde enfrentará na quinta-feira o Junior de Barranquilla na partida de volta das semifinais da Copa Sul-Americana, servir de algum parâmetro para o técnico Reinaldo Rueda decidir sobre qual goleiro deve escalar, não há dúvida. Alex Muralha foi o único jogador vaiado pelos torcedores que foram ao Aeroporto Tom Jobim incentivar a delegação rubro-negra. Escoltado por seguranças e policiais, Muralha ouviu xingamentos e chegou a parar para olhar o grupo que o hostilizava.
Pressionado pela torcida e aparentemente abatido, Muralha viajou com o grupo, mas dificilmente será escalado. Por outro lado, se César for confirmado no gol do Flamengo, terá pela frente também um grande desafio: superar a falta de ritmo, pois está sem jogar uma partida oficial há dois anos.
A evidência de que o treinador já pode ter tomado sua decisão aconteceu horas antes no Ninho do Urubu. César treinou entre os titulares, enquanto Muralha completou os reservas. César teve ainda uma conversa à parte com o preparador de goleiros Victor Hugo e o gerente de futebol Mozer após a atividade. Além dos dois, Rueda levou na delegação o goleiro Thiago, recém-recuperado de lesão.
Funcionou com Cantarelli
Não será a primeira vez que um goleiro rubro-negro será escalado sem ritmo de jogo ideal. Já aconteceu por exemplo com Cantarelli, que teve idas e vindas nos anos 80, enfrentando disputas internas no Flamengo com Raul, Fillol e Zé Carlos. Cantarelli nem sabe qual foi seu maior jejum. Mas guarda como troféu a lembrança da boa atuação na vitória por 3 a 0 sobre o Atlético-PR, no Maracanã, na semifinal do Brasileiro de 1983, que seria conquistado pelo Flamengo:
— Passei o campeonato inteiro sem jogar. Na véspera daquela partida, o Raul teve um problema na coluna. Entrei e me saí bem.
Há outros exemplos, como Márcio Cazorla, ofuscado no Vasco pelo ídolo Carlos Germano no fim da década de 90; e Bosco, que foi banco de Rogério Ceni no São Paulo entre 2005 e 2011. Márcio ficou um ano sem jogar e, quando teve sua chance graças a uma lesão de Carlos Germano, pagou o preço da eliminação da Libertadores de 1999: em São Januário, o Palmeiras venceu o Vasco por 4 a 2 nas oitavas.
— Germano ficou um ano sem me dar brecha. Quando chegou minha vez, faltou ritmo de jogo. Falhei. Nessa hora, a confiança vai embora — lembra, ainda remoendo o passado. — Depois de tudo, até assisti ao vídeo do jogo. Mas não gosto de ver, não.
Como superar
Já Bosco teve seu maior jejum em 2007: seis meses sem jogar.
— Não era qualquer dor que tirava o Rogério do jogo. E dificilmente tomava cartão. A dificuldade que você encontra é no início, nos 15 primeiros minutos. Você tem que se adaptar ao jogo, adquirir ritmo, mas tudo depende muito da primeira bola. Se pegar firme a primeira bola, isso dá confiança para o resto do jogo — ensina Bosco, treinador de goleiros do Fortaleza.
Cada um com suas lembranças do passado, amargas ou não, Márcio, Bosco e Cantarelli estão na torcida por César.
— Se chegou ao Flamengo é porque tem virtude e pode fazer sucesso — diz Bosco. — Não é fácil jogar em um momento como este. César deve estar já pensando em muita coisa, estudando o adversário e o posicionamento de sua equipe. Tomara que dê certo, que o Flamengo tenha mais uma opção de goleiro.
Cantarelli apela para que César tenha pensamento positivo:
— Quem escolhe essa posição tem que estar sempre preparado e não pensar que vai dar errado.
Já Márcio não tem dúvida de que, apesar da falta de ritmo, César é a melhor opção:
— Ele vai sentir. Mas tem que encarar como grande oportunidade. Muralha chegou a uma situação que não dá mais. Tem que dar oportunidade a outro.
Fonte: O Globo Online