Paulinho é o representante vascaíno da 'geração 2000' que começa a aparecer no Brasileiro
O tempo tem que ser bem dividido: lições de casa, cursinho de inglês e preocupações normais de adolescente em parte do dia. No restante, preleções, concentrações, jogos e até mesmo uma pressão de torcida para já pegar o costume... Em 2017, oito adolescentes que administram o tempo entre a escola e o futebol despontaram na elite do Campeonato Brasileiro. São seis nascidos em 2000 e dois nascidos no ano de 2001 que representam uma nova geração em campo no futebol nacional.
A "geração 2000" é simbolizada por Brenner (São Paulo), John Kléber (Ponte Preta), Luanzinho (Avaí), Paulinho (Vasco), Vinícius Júnior (Flamengo), e mais recentemente Lincoln (Flamengo), que estreou no último domingo, por 25 minutos, na vitória contra o Corinthians pelo Brasileirão. Ainda há mais dois jogadores nascidos no terceiro milênio, idade "desbravada" exclusivamente pelo Santos na elite do Brasileirão: Yuri Alberto e Rodrygo, quinto e nono jogadores mais jovens a entrarem em campo na centenária história do Peixe.
A invasão destas promessas no futebol brasileiro já é uma realidade notada por treinadores, observadores, dirigentes e empresários, e a perspectiva é que haja novas estreias e promoções, especialmente depois da Copa São Paulo de Juniores do ano que vem. Na maioria das vezes, são jogadores que "pularam" a categoria sub-20, o que gera o dilema: a transição para o futebol profissional está sendo forçada ou o talento justifica a decisão?
"Vem sendo uma tendência, ultimamente tem acontecido isso. Eu não acho que seja o ideal. Naturalmente o jogador está crescendo muito mais jovem hoje em dia, mas o ideal seria que cumprisse todo esse período de formação, até para que não queimasse etapas. É um risco muito grande, ainda que as coisas estejam acontecendo em todos os clubes do futebol brasileiro", alerta, ao UOL Esporte, o técnico do São Paulo, Dorival Júnior, um dos profissionais responsáveis por colocar em campo um garoto de 17 anos.
"Está existindo uma pressão muito grande, porque o garoto quando desponta e tem qualidade o próprio empresário começa a manipular as diretorias de clubes, dirigentes das categorias de base, pressionando de tal forma que quer ver rapidamente o garoto em campo para que ele possa também ter resultados mais rápidos financeiramente falando. É um problema que estamos atravessando. É uma tendência, mas que tem que ser estudada porque fatalmente podemos perder muita gente pelo caminho. Espero que nós corrijamos tudo isso, acredito que abrindo um pouco mais o espaço e aí sim que todos os clubes mantenham suas equipes sub-23 em atividade, porque diferentemente de alguns que iniciam precocemente há outros que maturam mais tarde e de repente saem de seus clubes de origem para despontar em outros", diz o treinador de Brenner.
Claudinei Oliveira, técnico do Avaí e responsável por acionar o meia-atacante Luanzinho em 16 partidas no Brasileirão, também considera o uso de jogadores da geração 2000 como queima de etapas de formação, mas entende a realidade financeira do futebol brasileiro como razão do processo.
"O Brasil continua sendo um grande formador de atletas, de muita qualidade técnica e com drible. Esses atletas também acabam saindo cedo do país. Você botou, lançou, jogou um pouquinho, eles já buscam na Europa, principalmente esse jogador de drible, que ultrapasse linhas de marcação. Alguns de 18, 19, 20 anos já saíram precocemente e aí você começa a olhar para os mais novos, a categoria de baixo. Isso faz com que esses jogadores queimem uma etapa. Mas acima disso, só joga nessa idade quem tem qualidades", diz o treinador, que acumulou experiências em cinco anos nas categorias infantil, juvenil, júnior e profissional do Santos antes de entrar de vez no mercado.
O jogador mais jovem a entrar em campo neste Brasileirão é justamente do Santos: Yuri Alberto, que jogou pela primeira vez aos 16 anos, seis meses e 25 dias e só perde para Coutinho, Pelé, Gabigol e Edu como os mais precoces da história do Santos. De acordo com a promessa, a entrada dos garotos é justa e não vai parar nele e em outros nomes como Rodrygo, seu companheiro no clube praiano.
"Estão aparecendo muitos bons jogadores e ainda tem outros na fila. Sei que às vezes é uma necessidade, mas os próprios clubes gostam de lançar os jovens. Todos esses que já jogaram são caras de seleção, que já se destacam nos clubes há muitos anos".
Conheça os oito nomes da geração 2000 no Brasileirão:
Brenner (São Paulo)
Atacante, nascido em 16 de janeiro de 2000.
Defendeu a seleção brasileira sub-17 nos torneios mais importantes da categoria. Como profissional, estreou pelo São Paulo em 21 de junho, acionado pelo então técnico Rogério Ceni aos 30min do segundo tempo de uma partida contra o Atlético-PR. Sob o comando de Dorival Júnior voltou a jogar na derrota por 2 a 1 contra o Bahia, pela 19ª rodada. Ele atuou cerca de 45 minutos nas duas oportunidades, mas é um nome bem avaliado internamente e deve ganhar mais chances no futuro, assim como outras promessas de Cotia.
"Não só o Brenner, mas os garotos da seleção, Antony, Helinho, Weverson e outros mais que temos aqui, de excelente nível, mas que precisamos ter esse cuidado para que não antecipemos, não queimemos essas etapas. Com o Brenner estamos tendo um cuidado, ele já teve oportunidade de atuar e está sendo preparado. Eu espero que ele sinta um pouco menos a partir do momento em que tenha novamente uma oportunidade. Mas são garotos promissores, precisam ser lapidados e trabalhados um pouco mais para que sintam menos a transição. Seria importante que fosse de maneira natural e não forçosamente", relata Dorival Júnior.
John Kléber (Ponte Preta)
Atacante, nascido em 27 de janeiro de 2000.
Artilheiro do Campeonato Paulista sub-17 empatado com Brenner, estreou como profissional da Ponte Preta em 5 de novembro. Ele entrou no intervalo para substituir Maranhão, mas se lesionou e foi substituído aos 14min do segundo tempo. De nome em alta com o técnico Eduardo Baptista ao departamento médico: o jovem da Ponte precisou passar por uma cirurgia no joelho direito que o afastará dos gramados entre seis e oito meses. Trajetória interrompida.
"É um sonho desde pequeno, quando iniciamos no futebol, de chegar ao profissional um dia. E fazer isso com 17 anos é um feito e tanto, porque nem todo jogador consegue isso. Foi um momento muito emocionante, estava preparado, mas nem tudo ocorre da forma que a gente pensa. Alguns têm a felicidade de iniciar sua carreira profissional fazendo gols, eu tive a infelicidade de começar machucando. Mas vi por um lado positivo também. Foi difícil a primeira semana, mas agora está tudo tranquilo e vou encarar da melhor forma possível a recuperação", desabafa o jogador.
Lincoln (Flamengo)
Atacante, nascido em 16 de dezembro de 2000.
Presente na seleção brasileira campeã sul-americana e terceira do mundo na categoria sub-17, o jovem goleador da base ganhou a primeira chance como profissional do Flamengo no último domingo, acionado pelo técnico Reinaldo Rueda aos 19min do segundo tempo da vitória por 3 a 0 sobre o Corinthians. Precoce, estreou na seleção sub-15 aos 13 anos e chegou aos profissionais do Fla aos 16.
"É um garoto com muito futuro, com boa técnica e muito cerebral, centrado. Fez poucas sessões de treinamento conosco, mas as fez muito bem", relatou o técnico colombiano.
Luanzinho (Avaí)
Meia-atacante, nascido em 21 de abril de 2000.
Já convocado para compromissos da seleção brasileira sub-17, começou a ganhar espaço entre os profissionais do Avaí nesta temporada, sob o comando do técnico Claudinei Oliveira. Ele disputou 16 partidas no Brasileirão, ainda não fez gols, mas já chega a quase 800 minutos jogados na elite nacional. Está no Avaí desde 2014, quando foi puxado de uma escolinha oficial do clube, e estreou como profissional em agosto, durante o segundo tempo de uma partida contra o São Paulo.
"Eu conheço muito bem o elenco sub-20 e a gente sempre traz os meninos para trabalhar com a gente. Trouxemos o Luanzinho, jogador convocado para a seleção, que conhecemos a qualidade. Ele fez um treinamento tático e vimos a qualidade dele, achando passe entre as linhas e com movimentações interessantes. Pedi para ele treinar mais e depois optamos pela permanência dele no profissional. Ele vem comprovando que é útil, último terço no campo é muito bom e estamos inserindo nele uma questão tática muito importante. Nenhum jogador de 17 anos está pronto, mas ele tem espaço para evoluir e temos esperança que se tornará um grande jogador", elogia o técnico avaiano.
Paulinho (Vasco)
Atacante, nascido em 15 de julho de 2000.
Um dos garotos da geração 2000 que mais atuou e rendeu frutos no Campeonato Brasileiro. Pelo Vasco foram 16 partidas, quase mil minutos em campo e dois gols marcados, ambos na partida contra o Atlético-MG, em 23 de julho, quando se tornou o mais jovem a marcar pelo clube na história. Ele havia estreado no início daquele mês e dividiu atenções entre o clube e a seleção brasileira sub-17, pela qual fez boas campanhas no Sul-americano e no Mundial.
"Ele é um jogador que vem se desenvolvendo, muito inteligente e está cada dia melhor, ainda vai dar muita alegria para a torcida vascaína. É um jovem que não foge do pau em nenhum momento e tem muita potencialidade", identifica o técnico vascaíno, Zé Ricardo.
Rodrygo (Santos)
Atacante, nascido em 9 de janeiro de 2001.
Primeiro jogador nascido em 2001 a atuar profissionalmente no futebol brasileiro. Ele marcou 24 gols em 22 partidas pelo Campeonato Paulista sub-17 e vinha sendo observado por Elano, que foi de auxiliar a técnico do Santos na reta final e promoveu a estreia da promessa em uma partida contra o Atlético-MG, no início de novembro. Ele foi o jogador mais jovem a assinar um contrato de fornecimento de material esportivo na história, aos 11 anos, e jogou quatro minutos na estreia profissional, aos 16.
"Aposto nos meninos por conta do DNA do Santos. E eles são bons", diz Elano, responsável pela estreia da dupla nascida em 2001.
Vinícius Júnior (Flamengo)
Atacante, nascido em 12 de julho de 2000.
É quem tem mais partidas, gols e projeção entre os jogadores de sua geração. Atuou na Primeira Liga, na Copa do Brasil, na Sul-Americana e no Brasileirão, somando 39 partidas como profissional e oito gols marcados. Não à toa, é o único entre os nomes que já tem destino traçado: foi vendido ao Real Madrid (ESP) por R$ 164 milhões, em maio, e ainda não tem data certa de apresentação ao novo clube. Brilhou no Sul-americano sub-17 pela seleção no início do ano, mas não esteve no Mundial por opção própria, em nome da evolução como profissional.
"Penso que é um jogador que tem grande potencial e vai seguir crescendo. É muito positivo para o time, então creio que há um futuro grande para ele, o Flamengo e o futebol brasileiro", elogia Rueda.
Yuri Alberto (Santos)
Atacante, nascido em 18 de março de 2001.
Importante nas campanhas da seleção brasileira no Sul-Americano e no Mundial sub-17, o atacante também fazia sucesso nas categorias de base do Santos antes de ser integrado por Elano ao elenco profissional. Alto (1,80m) mesmo aos 16 anos, o jogador estreou em partida contra o Bahia no último dia 16, substituindo Renato aos 29min do segundo tempo em uma derrota da equipe no Brasileirão.
"Foi uma experiência única e me fez lembrar muito dos sonhos da minha família. Ainda tenho um caminho a percorrer de aprendizado e crescimento, mas com 16 anos estou tendo uma experiência que poucos tiveram até hoje. E isso vai me ajudar muito na carreira", conta o jovem.
Na Série B, só um representante da geração 2000 - Apenas o Paraná escalou um jogador nascido em 2000 na Série B do Campeonato Brasileiro. Em setembro, na vitória por 3 a 0 sobre o Náutico, o meia Jhonny Lucas atuou por seis minutos na vaga de Renatinho e marcou a campanha que rendeu o acesso à elite nacional.
Fonte: UOL