Três depoimentos de sócios da Urna 7 à Polícia Civil apontaram fraudes na eleição no Vasco que levaram à reeleição do atual presidente, Eurico Miranda. Entre outros pontos, afirmaram que foram abordados por pessoas ligadas a Eurico para virar sócios, que não pagaram mensalidades e que se associaram em datas diferentes das que constam na lista das urnas e ainda assim votaram. O UOL Esporte obteve a íntegra do documento.
Não serão revelados os nomes dos sócios depoentes para preservar suas identidades. Contatados, dois deles disseram não ter prestado depoimento, e não queriam se manifestar pelo sigilo de Justiça. O terceiro afirmou que não se manifestaria pelo sigilo de Justiça.
Mas o UOL confirmou a veracidade do documento da Polícia Civil com mais de uma fonte. O registro de ocorrência está no número 218-01422/2017, lavrado pela Delegada Daniela Campos Terra, titular da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática. A investigação é por infringir o artigo 299 do Código Penal, por falsidade ideológica. A assessoria da polícia informou que o caso já foi encaminhado para a Justiça.
Na terça-feira, dia 14 de novembro, os três sócios que estavam na lista dos 691 da urna 7 depuseram no inquérito para apurar fraudes na eleição. Constam nos depoimentos seus nomes, telefones e identidades, que batem com os da lista da Urna 7 conferidos pelo UOL. Dois deles negaram ter prestado depoimento em contato com a reportagem, um deles não quis confirmar o teor. Todos demonstraram medo e receio de falar do assunto.
A Urna 7 foi decisiva para determinar a eleição de Eurico Miranda no Vasco e está sub-judice por conta de suspeitas de fraudes nos cadastros dos eleitores. Sem a contabilização desta urna, o vencedor da votação será Julio Brant, de oposição.
No documento da Polícia Civil, um dos sócios afirmou: "Que em data não precisa, entre os meses de março e maio de 2017, foi procurado por Grilo que perguntou se o declarante gostaria de ser sócio do Vasco. Que para receber o título o declarante não precisaria pagar nada, apenas votar em Eurico Miranda, na data da eleição. Que além do declarante, outros familiares foram abordados por Grilo com a mesma proposta. Que Grilo estava com diversas fichas cadastradas e todas foram preenchidas no ato."
Em seguida, ele contou à polícia ter votado no dia da eleição: "Que Grilo afirmou que as mensalidades continuariam a ser pagas por sua equipe por um grande lapso temporal para não levantar suspeita." E afirmou que outros familiares votaram também, apesar de problemas no registro.
Em outro relato, um segundo sócio conta situação semelhante. Ele afirma ter sido abordado por Nilson Gonçalves, ligado a Eurico Miranda e que já foi funcionário do Vasco por anos. Seu relato é que isso ocorreu em evento em CT do Vasco.
"Que durante a confraternização Nilson chamou um grupo de participantes próximo a uma bancada e disse que tinha fichas de cadastro disponíveis para quem quisesse ser sócio do Vasco com direito a voto. Que em nenhum momento Nilson mencionou pagamento de mensalidades ou falou para votar em determinado candidato."
E prosseguiu no seu relato: "Que entre agosto e setembro de 2017, não sabendo precisar, o declarante foi até a residência de Nilson para retirar carteira de sócio". E completou: "Que desde o dia que preencheu a ficha cadastral até a data de hoje, o declarante nunca recebeu boleto de cobrança de mensalidade tampouco efetuou pagamento de qualquer quantia ao clube." O sócio afirma que nunca frequentou as dependências do Vasco e que só foi informado que tinha direito a votar. E foi votar.
Há ainda um relato de um terceiro sócio da urna 7. Esse também afirmou que fez sua associação por meio do funcionário Nilson Gonçalves. E relatou que sua data de admissão constou como anterior a verdadeira. Seu relato: "Que entre agosto de setembro de 2017, não sabendo precisar, o declarante foi até a residência de Nilson para retirar a carteira de sócio do clube com sua foto e constando número de matrícula xxx e admissão com data retroativa de 20/11/2015"
Em seguida, ele afirmou nunca ter recebido boleto de cobrança, nem ter frequentado o clube. Também não conseguiu comprar ingresso com desconto porque não constava como sócio, segundo informação da bilheteria. Mesmo assim, foi informado que teria direito a voto. O sócio informou ter ido a São Januário e votado na chapa de oposição de Julio Brant.
Há três ações na Justiça para discutir a validade da eleição do Vasco.
Fonte: UOL
Sócios depõem em delegacia sobre irregularidades; diretor da base é citado
A 17ª Delegacia (São Cristóvão) ouviu na noite de terça-feira três sócios do Vasco, todos presentes na lista de 475 nomes sob suspeita. Eles confirmaram que votaram na urna 7, admitiram irregularidades e deram detalhes do processo que fizeram para se associar ao clube. Nos relatos, um nome em comum aparece: o de Nilson Gonçalves, diretor da base do clube.
Nos três relatos, Nilson surge como aliado de Eurico Miranda, responsável por entregar as fichas aos sócios e orientá-los no preenchimento. Dois deles dizem ter ido à casa do dirigente, em Copacabana, para pegar suas carteirinhas. Uma delas estaria com um CPF inexistente, de acordo com o sócio.
Amigos viram sócios através de Nilson
Os dois associados que implicam diretamente Nilson são amigos. Um diz ter sido abordado pelo dirigente durante um evento no CT de Manguinhos, onde a base do Vasco costuma treinar, em dezembro de 2016. Depois, ligou para seu amigo oferecendo a ele a possibilidade de ser sócio também.
Diante da resposta positiva, ambos pegaram fichas cadastrais. Eles as preencheram sem colocar a data de admissão, conforme orientação de Nilson Gonçalves. Ambos retiraram a carteira de sócio entre agosto e setembro de 2017, na residência de Nilson.
Segundo os dois, eles nunca receberam boletos de cobrança de mensalidades desde que assinaram as fichas – tampouco pagaram qualquer valor à secretaria. Eles também garantem que nunca tiveram qualquer contato pessoal ou por telefone com funcionários ou representantes do Vasco, nem receberam dinheiro ou tiveram qualquer benefício por parte do clube.
Um dos sócios relata, inclusive, que tentou comprar ingresso como sócio para o jogo contra o Vitória, mas foi impedido:
"O declarante se dirigiu à bilheteria de sócio afim de comprar ingresso para o referido jogo, porém a atendente informou que o declarante não era sócio do Vasco e que, por isso, não lhe concederia desconto, tendo o declarante comprado o ingresso como torcedor comum."
Grilo e os sócios de Magé
Em outro relato, de um morador de Magé, a figura central é o mecânico de automóveis Claudio Marcelo de Oliveira, mais conhecido como Grilo. Ele concorreu ao cargo de vereador em Magé nas eleições do ano passado. Com o nome de "Grilo da Oficina", ele concorreu pelo PRTB e teria contado com apoio de Nilson Gonçalves.
O depoente afirma que foi procurado pelo mecânico entre março e maio de 2017 para saber se gostaria de se associar ao Vasco, "que para receber o título, (...) não precisaria pagar nada, apenas votar em Eurico Miranda na data da eleição.".
Além da testemunha, sua mãe e seu irmão também assinaram as fichas, mas não preencheram campo algum, "para posterior preenchimento". Meses antes da eleição, o sócio recebeu um telefonema de uma funcionária do Vasco que seria sobrinha de Nilson, cobrando a entrega de fotografias para a confecção da carteirinha.
O sócio afirma ainda que ele e seu irmão foram levados por Grilo para São Januário no dia da eleição. Sua mãe e sua irmã foram conduzidas por sobrinhos de Nilson Gonçalves. Segundo a testemunha, sua irmã, apesar de não ser sócia, também votou na eleição.
Em dado momento do relato, o sócio explica o procedimento para regularizá-lo:
"Ao chegar para votar, acompanhado de seu irmão e Grilo, o declarante foi encaminhado à urna sete(...). Diante disso, dez contato com Grilo e perguntou se haveria algum problema, sendo orientado por Grilo a ficar tranquilo, uma vez que a ficha já estaria sendo preenchida desde outubro de 2015 e com mensalidades pagas. Que Grilo ficou de enviar os boletos pagos posteriormente ao declarante por intermédio de X (funcionária do Vasco e sobrinha de Nilson), enviando, inclusive, os dos familiares do declarante. Que Grilo afirmou que as mensalidades continuariam a ser pagas por sua equipe por um grande lapso temporal, para não levantar suspeita. Que foi orientado por Grilo, caso questionado, a afirmar que pagou as mensalidades em dinheiro."
O caso
A Justiça determinou que 691 sócios do Vasco votassem numa urna separada na eleição - todos eles se associaram nos dois últimos meses de 2015, quando se registrou um número acima da média de adesões.
Na eleição, esta urna fez a diferença na vitória de Eurico: 90% dos votos foram a favor do presidente. A desembargadora Maria Cecília Pinto Gonçalves pediu que o clube comprovasse a regularidade dos 475 sócios que votaram - os documentos foram entregues na noite de terça-feira.
Agora, um perito judicial irá analisar os documentos e dar um parecer, para que a desembargadora tome uma decisão sobre anular ou não os votos da urna. Em caso de anulação, Julio Brant, candidato da oposição, ultrapassa Eurico na votação.
O GloboEsporte.com procurou a assessoria do Vasco para prestar esclarecimentos em relação ao tema, mas ainda não obteve retorno. A reportagem também fez contato com Nilson Gonçalves, mas não conseguiu uma resposta.
Um depoente foi procurado pelo GloboEsporte.com, mas negou que tivesse ido à delegacia. Com os outros dois, não foi possível fazer contato.
Fonte: GloboEsporte.com
Sem pagamento, carteirinha adulterada e aliado de Eurico: depoimentos confirmam acusação de fraude em eleição do Vasco
Três pessoas que votaram na polêmica urna 7 nas eleições do Vasco, na última semana, prestaram depoimento à Polícia Civil do Rio de Janeiro nesta terça-feira, em inquérito que apura o crime de falsidade ideológica no pleito do clube. Todos têm relatos semelhantes: se associaram depois de 2015, nunca pagaram mensalidades e apontam o envolvimento de Nilson Gonçalves, supervisor da base cruz-maltina e aliado do presidente Eurico Miranda.
As datas citadas pelos eleitores como de suas respectivas associações foram dezembro de 2016 e março e maio de 2017, todas posteriores a novembro e dezembro de 2015, que aparecem em suas carteirinhas. Essas datas eram limite para que novos sócios pudessem estar aptos a votar nas eleições do Conselho Deliberativo de 2017, segundo o estatuto do clube.
Um dos eleitores ouvidos disse ter se associado por intermédio de Cláudio Marcelo de Oliveira, conhecido como Grilo e suplente de vereador na cidade de Magé, no Rio. Segundo ele, as únicas condições para a inscrição eram deixar a data da ficha em branco e, nas eleições, votar em Eurico. Ele afirma que preencheu os papéis para associação entre março e maio de 2017 e que outros familiares fizeram o mesmo.
Em depoimento, esse eleitor diz também que nunca havia ido a São Januário antes da eleição e que, dias antes do pleito, recebeu uma ligação da funcionária do Vasco Ellen, que seria sobrinha de Nilson Gonçalves, cobrando o envio de uma foto 3x4. Segundo ele, outra familiar do supervisor foi responsável por levar sua mãe e irmã para votarem, embora a última sequer fosse sócia. Ele, por sua vez, foi levado por Grilo, que, segundo ele, é torcedor do Flamengo.
Outro eleitor ouvido, por sua vez, diz que se associou após conversa direta com Nilson, após um churrasco no CT da base do Vasco, em Manguinhos. Segundo ele, o supervisor "chamou um grupo de participantes próximo a uma bancada e disse que tinha fichas de cadastro disponíveis para quem quisesse ser sócio com direito a voto" e "em nenhum momento mencionou pagamento de mensalidade ou falou para votar em determinado candidato".
Esse encontro teria acontecido em dezembro de 2016 e já em 2017, entre agosto e setembro, retirou sua carteira de sócio com Nilson. O eleitor ouvido afirma ter estranhado o fato de o documento ter vindo com data de admissão retroativa de 26 de novembro de 2015 e seu CPF errado. Além disso, disse que nunca recebeu boleto de cobranças de mensalidades, efetuou qualquer pagamento ou recebeu dinheiro para se associar. Ele relata também ter tentado acessar o site de sócios do Vasco, mas que seu e-mail não apareceu como válido no sistema.
O último depoente também afirma ter recebido, por meio de um amigo, uma proposta de Nilson. Assim como os demais, não preencheu a data na ficha e retirou a carteirinha, já entre agosto e setembro, com data retroativa de 20 de novembro de 2015. Também nunca recebeu boleto ou realizou algum pagamento ao clube, segundo seu relato.
Esse último eleitor afirma, inclusive, que no último dia 5 de novembro, no jogo entre Vasco e Vitória, foi à bilheteria de sócio para comprar ingressos, mas "a atendente informou que não era sócio", portanto, sem direito ao desconto que sua carteirinha deveria garantir.
Com os votos da urna 7, sub júdice, Eurico venceu as eleições vascaínas, com 2111 votos, contra 1975 de Julio Brant. Sem a preferência dos eleitores sob suspeita, porém, o opositor teria levado a melhor, por 1935 a 1683. O resultado final das eleições do Vasco está nas mãos da Justiça, que ainda não tem data para uma decisão.
Procurado, o Vasco não respondeu a reportagem até a publicação desta matéria.
Após a publicação desta matéria, o Vasco divulgou uma nota se defendendo do caso e afirmou que o clube não tem "nenhuma responsabilidade nisso".
Leia a nota na íntegra:
RESPEITEM O VASCO E A JUSTIÇA
Como já dissemos, tudo tem limite. Passadas 24 horas desde a última manifestação, o Vasco da Gama vem a público novamente para pedir responsabilidade por parte dos meios de comunicação e adversários políticos, sem o que o único prejudicado será o clube.
Nos últimos dias, tem se repetido nos jornais um mesmo padrão: supostos sócios, falando em anonimato (portanto sem o peso da responsabilidade judicial de responderem pelo crime de calúnia) têm feito narrativas sobre supostas tentativas de aliciamento por parte da diretoria.
O próprio Vasco da Gama, o maior interessado na lisura do pleito, não foi procurado e nem tem conhecimento oficial dos fatos, o que revela parcialidade na ação de indivíduos que procuram primeiramente as autoridades sem cuidar de informar o clube, a comissão eleitoral ou o conselho deliberativo. Agora vão à delegacia informar fatos para colher um termo de declaração com o único objetivo de entregar aos jornais para criar uma aura de suspeição. A quem enganam?
Todos sabem que num colégio eleitoral limitado como um clube de futebol, o número de sócios votantes é uma preocupação de todas as chapas. É normal, portanto, que as chapas tentem fazer o maior número de sócios simpatizantes à sua causa. O Vasco da Gama não tem nenhuma responsabilidade nisso.
O Vasco não pode ser responsabilizado por nenhum desses movimentos que ocorrem por parte de todas as chapas. Há crime na obtenção de novos sócios? Não, desde que absolutamente dentro do que manda o Estatuto. Mas há crime na calúnia. Há crime na difamação. Há crime na tentativa torpe de travestir de ações ilegais o que na verdade são procedimentos lícitos, adotados por todos os envolvidos na disputa, dentro dos limites do estatuto do clube.
Tudo nas reportagens é feito para colocar uma capa de desconfiança, desonestidade e perigo onde há apenas uma disputa entre os que pretendem presidir o Vasco, o que é justo e lícito. Mas qual o interesse de jogar sobre a disputa uma aura de crime? A resposta é: querem criar uma onda fictícia na opinião pública com o objetivo de influenciar a Justiça.
Por isso, o Vasco da Gama, em nome de sua gigante tradição, vem a público pedir que cessem tais tentativas torpes e aparentemente orquestradas de difamação. Que se aguarde o resultado da decisão judicial nas ações em tramitação. E que se coloque a instituição acima de tudo e de todos.
Fonte: ESPN.com.br