Na véspera da corrida eleitoral, a Expresso 1898 lança, a partir de hoje, a sua série de entrevistas exclusivas com os candidatos ao posto máximo do Vasco da Gama. O objetivo é informar com imparcialidade a você, sócio, que decidirá no dia 07 de novembro o destino da nau vascaína.

Empresário, português, foi na Unidos da Tijuca que Fernando Horta construiu boa parte do seu legado profissional. Agora, aos 65 anos, o objetivo é outro: a presidência do Vasco da Gama. Há cerca de três meses, o candidato deixou a atual administração, para lançar a chapa Mudança com Segurança. Ao seu lado, Otto Carvalho, da então Ao Vasco Tudo, presidente do Conselho Fiscal.

Em entrevista exclusiva à Expresso, Horta fala sobre a sua trajetória, os principais objetivos, caso eleito, e o processo de rompimento, entre perguntas específicas e comuns aos candidatos. Tudo isso você confere na íntegra, a seguir.

O que motiva a Mudança com Segurança a estar disputando esta eleição?

Por ser um vascaíno e acompanhar o Vasco ao longo dos anos, diante desta situação que está, talvez eu seja o mais corajoso para assumir esta responsabilidade e o nome foi este porque eu conheço muito o Vasco, não dependo do Vasco para viver. Com os parceiros que estão à minha volta e vão me ajudar nesta tarefa, o Vasco não será "eu", mas será "nós". Achamos que o Vasco é viável, uma potência, mas que está se afrouxando. Vamos retomar isso e pode ter certeza que voltará a ser um grande candidato em qualquer campeonato que disputar.

Por que sair da atual administração? Em que ponto tomou esta decisão?

Muitos pontos. Para ser franco, nunca fui inimigo do Eurico como pessoa, mas sempre fui contra a sua administração, isso desde os anos 80. Ele assumiu um compromisso comigo na última eleição, que ia praticamente deixar a administração e iríamos fazer uma gestão de maneira compartilhada, isso não aconteceu. Houveram muitas falhas, tanto é que o Vasco está onde é que está. Não é o Eurico que administra isso mais, são os filhos. O Eurico só administra dívidas, mas quem monta aqueles times são os filhos, que não têm a experiência que ele tem. Não estou aqui para falar mal, acho que o Vasco é uma potência, um dos maiores clubes do Brasil mas, infelizmente, desde 2000 pra cá, a gente não disputa nada, isso é muito pouco para o vascaíno. O Eurico tem uma política de afastamento das pessoas, é completamente diferente. O sócio me conhece e sabe que sou um cara de paz, aceito críticas. Vou abrir o Vasco.

Frequentemente o senhor é apontado como candidato de situação. Como recebe isso?

Canso de falar que o Vasco tem grandes homens, com capacidade, às vezes, até maior do que a minha, mas sou o único nessa eleição, pelo que se apresentou dos candidatos que temos. Sou o candidato mais forte, o que mais conhece e que não precisa do Vasco. Os outros são jovens. A minha situação financeira já está definida. Um está procurando emprego, até agora não mostrou o espelho do imposto de renda e o outro sei que é dono de uma clínica, bom médico. Meu negócio é paz, conversei muito com os grupos de oposição, mas acho que eles estão olhando muito para o lado pessoal, muita vaidade. Meu pensamento é outro. Acho que o Vasco, no momento, é cedo para eles, não estão preparados para assumir esta responsabilidade. Primeiro, tinham que participar, conhecer mais. União por cargos compartilhados não quisemos.

Qual a expectativa para o clima no dia da eleição, diante de alguns episódios conturbados que já a antecedem?

Sobre aquilo em São Januário, já sabia que ia acontecer. O Eurico não aceita candidato que vá lá dentro fazer campanha. Ele está olhando o lado dele, para ficar mais fácil de ganhar a eleição com esse mensalão que montou. Brigou o tempo inteiro para que os jogos fossem em São Januário, gastou dinheiro para reformar o estádio, e não tirou aquele Vasco x Flamengo dali. Aconselhei e não me ouviu. Agora tem medo de perder os jogos e a torcida se voltar contra ele. Tirar esses jogos dá um prejuízo enorme ao cofre. O Maracanã é muito caro. Mas tudo será tranquilo e, a partir das eleições, pode ter certeza que os jogos voltarão a ser em São Januário.

O candidato afirmou por vezes que, caso eleito, pretende mudar o estatuto. Qual a ideia?

Justamente. Ele (Eurico) está tentando encaixar lá alguns no Conselho, achando que tem todos os beneméritos com ele, mas não tem. É um estudo que será feito por uma comissão. Queremos fazer eleições diretas e dar mais facilidades para o sócio do Vasco, para que possa votar em qualquer lugar que esteja no Brasil. Isso é uma das coisas que vou exigir que tenha na reforma do estatuto. Também tirar mais poder do presidente, o estatuto do Vasco dá poder demais ao presidente. Não pode ser tão presidencialista como está. Se não tiver chance agora de virada, a administração será de pai para filho.

Falando sobre o lado econômico, de que forma será trabalhado o valor de mercado do Vasco e a consequente captação de parceiros e patrocinadores?

A dificuldade é só para o Vasco. Você vê que os grandes clubes não têm essa dificuldade. Se tiver um bom time, vai da pessoa que está na frente. Somos o único que não tem nenhum patrocínio. Só o da Caixa Econômica que, mesmo assim, foi reduzido pela metade. Tem agora da TIM, que fizeram com os quatro clubes e não arrumou nem um guaraná para colocar na manga da camisa. É o marketing que é fraquíssimo, dirigido por uma pessoa que é fraca. Por isso as pessoas não acreditam.

Um dos questionamentos do torcedor é sobre a possibilidade de se montar uma equipe competitiva e equilibrar os cofres do clube. Como a sua gestão analisaria este ponto?

O lado econômico você tem que começar a administrar de baixo. Acho a questão dos salários grandes para o futebol nacional, principalmente no nosso carro chefe, que é o futebol. Você vê aí quantos jogadores o Vasco pagava e nem jogaram. Salários altíssimos. Pra se ter uma ideia, no ano de 2016, quando estávamos disputando a segunda divisão, o Vasco tinha uma folha de pagamento que era a quinta mais cara do Brasil e tu vê a dificuldade que foi o acesso. Um presidente que começa a encher de expectativa a torcida, que vai dar um presente de Natal e no dia 24 anuncia lá no site oficial o Escudero, você vê como é a administração. Isso aí eu não preciso dizer mais nada. O sócio do Vasco ele não é burro, ele que vai fazer a análise. Não vou ficar aqui metendo sarrafo, porque a nossa imagem já não está legal.

O candidato afirmou já dispor de alguns parceiros. Quais são e como estes atuarão na prática?

Já tem candidato prometendo aí, tenho a certeza que vou arrumar pessoas que já me prometeram que vão ajudar o Vasco nesse sentido. Mas não vou dar aqui nomes ou valores. Isso vai muito da pessoa que está lá. Alguém faz negócio com o Temer? A mesma coisa acontece no Vasco. A empresa não quer vincular o nome dela numa coisa que não é transparente, que é bagunçada, que tem aquela guerra como teve lá em São Januário. Isso eu garanto que acabo, até porque não tenho medo. Vou acabar com essa bagunça.

Como serão conduzidos os demais esportes do clube?

O fundamental é fazer o Vasco voltar a disputar campeonatos, minha prioridade número um é o futebol, mas vou dar toda a assistência à base e não acabar com nenhum esporte amador, como já estão dizendo os boatos aí. O basquete e o remo, por exemplo, terão todo o meu apoio. Mas não estou afim de me eleger com mentiras.

A construção do CT e a reforma de São Januário são anseios do torcedor. Há uma estimativa de custo e de que forma esse valor pode ser angariado?

Não sou homem de promessas. Não vou dizer aqui que vou fazer reforma de São Januário. CT é um compromisso que vai ser obrigatório. Vamos trabalhar em cima disso o mais rápido possível. Vamos primeiro estudar, ver os projetos e fazer uma consultoria com os sócios do Vasco, pelo fato de que uns querem que feche o anel, tem a questão da capela, outros já não querem. Não vou dizer que vou fazer um grande CT, uma grande reforma, contratar Cristiano Ronaldo. Vou fazer um time que acho que é possível pagar e disputar sempre os campeonatos.

De que forma a experiência da Unidos da Tijuca pode contribuir no seu mandato, caso eleito? E como conciliar esta rotina administrativa?

A minha experiência com a Unidos da Tijuca é considerada não só dentro na escola, mas no mundo. Logicamente que ficará complicado conduzir as duas coisas, mas a Tijuca está muito bem encaminhada, o Carnaval já está praticamente pronto, agora é só cumprir o trabalho. A escola tem eleições em março e, logicamente, deixarei de ser o presidente. A minha bagagem é a experiência de vida. Já sofri muito e também acertei muito. A gestão tem números diferentes, mas a escola também é grande, então não tenho dificultar em administrar verbas e também a vaidade do ser humano, sabendo colocar ele no seu melhor lugar. Sou craque em lidar com profissionais, tenho um olho mágico para isso, tanto é que o sou o maior lançador de talentos dentro do samba.

O Vasco sempre foi reconhecido pelo seu potencial de fabricar talentos. Como dar sequência a esse trabalho?

Não vou dizer que o clube não tem a necessidade, por vezes, de vender um atleta, só que como vice-presidente geral nunca soube por quanto o Douglas foi vendido, por exemplo, cada um diz um valor. Uma coisa que acho muito estranha é que ficou 30% no caminho, não entendo como alguém pode ter isso, se o atleta foi formado ali. As coisas não são transparentes. Jamais vou deixar ter uma dúvida dessa na minha administração. Projeto é lógico que tem, vamos tentar melhorar isso aí. Fazer com que a base tenha lá o apoio logístico para o seu treinamento. Vai ser um negócio mais sério, mais claro. O trabalho está legal, mas só depois que entrar vou saber como aquilo está fatiado, porque ninguém diz. Há um motivo grande de desconfiança.

O CAPRRES surgiu no Vasco com uma proposta tida como inovadora. Como o candidato enxerga este projeto?

Vamos encarar isso com a maior tranquilidade, mas nós vamos ver como é que está essa situação. Não sei se é do Vasco ou de alguém que está lá. Mas a instalação é excelente. Lá a gente não tinha acesso a isso, é tudo blindado. O trabalho vem sendo questionado e sendo motivo de reclamação, com jogadores desde o ano passado. Outra coisa que não entendo é o que foram fazer lá naquele campeonato lá da Flórida Cup e ainda levaram o rapaz para passear lá em Orlando. Então você vê que a pré-temporada do Vasco foi um fracasso. Começou lá atrás com a contratação do Cristóvão e já trocamos de técnico várias vezes. Então o planejamento vai mal.

Uma ampla parcela dos torcedores está fora do Rio de Janeiro. De que forma esse vascaíno poderá se sentir representado, participando ativamente do clube?

Isso é um compromisso meu de campanha. Já dei essa ideia lá atrás. Tenho as ideias e passo para alguém fazer. Quero fazer em todo o Brasil a Casa do Vasco, vamos ter um representante com sede, isso sem custos, só com arrecadação. Igual existe a Casa do Benfica, a Casa do Barcelona, não estou inventando nada. Vamos ver como vai melhorar o esquema do Vasco. Vamos ter muito mais adeptos, o sócio vai se juntar para ver os jogos. O projeto não está fomentado e nem no papel, mas está na minha cabeça. Vou passar pra quem entende, mandar viajar para se aprofundar mais nisso aí e ter um regulamento em todas que forem montadas pelos estados do Brasil.

Para finalizar, qual recado deixa ao torcedor e ao sócio vascaíno?

Minha principal meta é administrar um Vasco com transparência, fazer do Vasco o que ele é. Prometo que vou fazer. Se não sentisse que teria essa capacidade, não entraria. Não estou entrando no Vasco por vaidade, até porque a minha vida está definida, realizada. Sou uma pessoa altamente considerada dentro dessa cidade do Rio de Janeiro e até agora ninguém nunca apontou nada para mim ou para a Unidos da Tijuca, a empresa que administro. Nome e trabalho no Brasil já tenho, reconhecidos pelas autoridades brasileiras. Tenho todas as condecorações. Quero passar no Vasco para fazer a diferença, não para ser mais um.



Fonte: Expresso 1898‏