Na véspera da corrida eleitoral, a Expresso 1898 lança, a partir de hoje, a sua série de entrevistas exclusivas com os candidatos ao posto máximo do Vasco da Gama. O objetivo é informar com imparcialidade a você, sócio, que decidirá no dia 07 de novembro o destino da nau vascaína.
O primeiro entrevistado é o candidato Julio Brant, da chapa Sempre Vasco. Formado em Jornalismo e Administração, aos 40 anos chega para a sua segunda disputa ao cargo de presidente, cercado de ídolos e ex-jogadores do clube, como Edmundo, Pedrinho, Felipe e Mauro Galvão.
Compondo a ala de oposição, Brant se aliou, na última segunda-feira (30), ao então candidato Alexandre Campello, da Frente Vasco Livre e, na sexta (2), a Antônio Monteiro, da Novos Rumos, selando desta forma a união das chapas. Entre os temas abordados nesta entrevista, as principais propostas, a situação financeira do clube e os temas polêmicos que cercam as eleições vascaínas, entre perguntas específicas e comuns aos candidatos. As respostas você confere a seguir.
O que motiva a Sempre Vasco a estar disputando esta eleição?
A gente começou esse projeto lá em 2014, com o objetivo de transformar a realidade do clube. Desenvolvemos o projeto e o que aconteceu de lá pra cá foi que tudo piorou, então decidimos fazer uma reunião com o nosso grupo e relançar a candidatura com as mesmas bases da anterior, ou seja, transformação e renovação, mudar de uma forma radical, profunda. Queremos uma nova cara para o Vasco, uma nova maneira de se relacionar, não só com os sócios, mas com o futebol, o mercado como um todo e a imprensa. Não só renovar a gestão, mas renovar a imagem, como se coloca diante da opinião pública. Nossa motivação é recolocar o Vasco no topo, voltar a ser campeão Brasileiro, da Libertadores e até disputar o Mundial.
Há algum contraste daquele cenário eleitoral para este, quando novamente postulante?
O que mudou é que são três anos de Eurico, uma mudança para pior, infelizmente. Tivemos mais uma queda, um fechamento ainda maior do clube. Falta de transparência para o sócio e para a torcida. Vamos fazer justamente o contrário de tudo o que vem sendo feito. Em termos de finança, o saldo é negativo. O Vasco, por exemplo, tinha um contrato assinado com a Caixa Econômica por R$ 15 milhões e o Eurico renovou por R$ 7,5 milhões. Os custos também aumentaram muito em função das contratações descontroladas e as receitas foram diminuindo, não só pelo péssimo trabalho feito de marketing, mas pela própria situação que o Brasil vive. Já está difícil ser um patrocinador, se você não tem um projeto consistente, se torna mais difícil ainda, é o que está acontecendo hoje.
Ser considerado por alguns como um "aventureiro" te incomoda de alguma forma?
De forma alguma, vejo isso como um orgulho. Vasco da Gama era um aventureiro. O aventureiro é aquele cara que vê o desafio e se lança para chegar ao objetivo dele. Então não há nada de demérito, pelo contrário, a gente se inspira na história do nosso nome para nos lançar ao mar revolto, que é uma eleição em São Januário, e vamos ter sucesso. Vasco da Gama traçou o caminho para as Índias, a nossa meta é colocar o Vasco no topo do futebol mundial.
Qual a expectativa para o clima no dia da eleição, diante de alguns episódios conturbados que já a antecedem?
Espero uma eleição pacífica, tranquila. Tive uma reunião com o Eurico sobre isso e falamos sobre a eleição especificamente. Espero que ele faça o que tem que fazer: garanta a segurança do sócio dentro de São Januário, para votar, e a Polícia Militar garanta a segurança do nosso público no entorno, para que tudo transcorra da maneira mais tranquila possível. Espero que seja assim.
O candidato afirmou por vezes que, caso eleito, pretende mudar o estatuto. Qual a ideia?
Nós precisamos mudar o estatuto do Vasco, que não é ruim, mas precisa de algumas transformações. Por exemplo: aumentar o número de membros do Conselho Fiscal, passando de três para cinco, talvez sete. Outro ponto é reduzir o poder do presidente, para evitar que tenhamos presidentes como esse último, que se acha dono do Vasco. Queremos figuras democráticas, que respeitem o equilíbrio entre os poderes. Pretendemos também que o torcedor possa votar pela internet, pelo celular. Isso deve levar um ano, o que acontece hoje é que o Conselho é manobra para votar o que o presidente quer. A reunião não deve ser um evento, mas algo que aconteça várias vezes ao ano. O Vasco tem pressa, precisamos colocar essa urgência na cabeça dos conselheiros.
Falando sobre o lado econômico, de que forma será trabalhado o valor de mercado do Vasco e a consequente captação de parceiros e patrocinadores?
Este é um processo que chamo de reconstrução de reputação. Isso passa por ter pessoas de credibilidade, executivos que tenham competência, transparência na prestação das contas e um trabalho de reformulação estratégica do produto que, no nosso caso, o principal é o futebol. Você precisa fazer isso tudo para que o mercado olhe e diga: "Eu acredito no que esse cara fala, sei de onde vieram e sei do que são capazes de fazer". A partir daí, reconstruir a imagem do clube. A marca Vasco precisa voltar a ter valor, a ter peso. Se a marca tem atributos positivos, como inovação, inclusão e superação, conseguimos. Da mesma forma, a marca que se une com a gente precisa ter esses atributos positivos para se ter uma parceria de sucesso. Os especialistas fazem esse estudo o tempo todo, das menções. E se hoje você olhar as do Vasco, hoje, são todas associadas a pancadarias em São Januário, Eurico Miranda, queda para a segunda divisão, ausência de CT, jogadores que dizem não ao Vasco, só coisas negativas. Precisamos reverter isso para trazer o parceiro a um projeto de resgate e renovação.
Um dos questionamentos do torcedor é sobre a possibilidade de se montar uma equipe competitiva e equilibrar os cofres do clube. Como a sua gestão analisaria este ponto?
O Vasco tem uma musculatura financeira. O trabalha que estamos fazendo é identificar as fraquezas que tem hoje, o elenco que temo. Já conversamos para trazer alguns jogadores de outros clubes para o Vasco, queremos liberar outros que não nos interessa e trazer da base aqueles que vemos como diferenciado para o profissional. Dá para montar um time competitivo, esse é o desafio. O futebol não pode parar, tem que ganhar.
Como o candidato espera encontrar as finanças do clube e quais as primeiras medidas efetivas, caso assuma?
Esperamos encontrar um caos. Sabemos que o Vasco vive à beira de um precipício, então precisamos segurar a carruagem. A primeira medida é tomar pé da situação, sentar em cima do cofre, pegar a chave e falar: "Só pago agora com ordem da presidência". Você precisa ter noção de fato de quais são as obrigações financeiras, não as de fulano e beltrano, que a gente não sabe quais são as intenções. Uma vez feito isso, estamos com uma consultoria, que é uma das maiores na área de gestão, e vai fazer um trabalho nestes primeiros cem dias. Uma revisão completa dos processos de todo o clube, desde a área financeira até o RH, marketing, comercial, logística, departamento médico e social. Precisamos fazer um novo sistema de cargos de salário e ver como cada profissional que entra vai ter esse desenvolvimento, como em qualquer lugar que tenha um gestão profissional. Isso é base, é só para funcionar o clube. Depois vem o futebol, em paralelo a esse trabalho. Sem gestão, não se faz um bom futebol, moderno é campeão.
O candidato afirmou já dispor de alguns parceiros. Quais são e como estes atuarão na prática?
Temos a Supervia, que além da parceria, já temos um projeto finalizado com eles. O que falta é ganharmos a eleição e podermos assinar o contrato. Além da logística, queremos trazer esses sócios e acionistas para participarem do Vasco. A TMC, por exemplo, queremos buscar sócios ou parceiros que se adequem a cada um dos nossos esportes. Nós temos uma ideia que é retomar os esportes amadores ou olímpicos. Se tiver um parceiro pra investir R$ 1 milhão no remo, faço o melhor do Brasil. Se colocar R$ 5 milhões no basquete, faço o melhor do Brasil. No futebol isso é muito pouco dinheiro, mas para outros esportes esse seria o patrocinador principal. Para o futebol R$ 15 milhões não resolve o problema do Vasco. Precisamos de uma parceria grande.
Como serão conduzidos os demais esportes do clube?
Pretendemos trazer o Patriotas de volta ao Vasco, que a diretoria nunca ajudou em nada. Antes cediam apenas a marca, hoje nem isso. O Patriotas é um projeto vencedor, tem que voltar. Em relação ao basquete, queremos fazê-lo campeão, mas de forma sustentável, não como vem sendo feito hoje. Sabemos que o Vasco está com os salários atrasados e contratando a torto e a direito, isso é dívida trabalhista para o futuro, e isso a gente não quer fazer. Não queremos usar o esporte como ferramenta política, mas que seja um canal de desenvolvimento do clube. É outra forma de ver. Sair contratando jogador em ano eleitoral, sabendo que não tem dinheiro para pagar, é plataforma política. O remo é estatutário. Podem se acabar todos os esportes, menos o remo. Futebol é o carro chefe. Futsal existe uma sinergia muito grande com o futebol, temos o Pedrinho e o Felipe que são apoiadores nossos e vieram do futsal. Natação não só vemos pelo lado histórico, com o Parque Aquático que o Vasco tem, mas a parte social. Então são esportes que a gente entende que dá para entrar, dá para trabalhar, com cada um tendo o seu centro de custos e caminhando com as próprias pernas.
A construção do CT e a reforma de São Januário são anseios do torcedor. Há uma estimativa de custo e de que forma esse valor pode ser angariado?
O CT temos uma estimativa de R$ 18 milhões, o projeto já está pronto e queremos fazer no dia seguinte que a gente entrar em São Januário. É possível. O estádio a gente tem um orçamento da Tecnoplano, que é uma empresa portuguesa que está nos ajudando, e está em torno de R$ 108 a 109 milhões. Temos um projeto para aumentar a capacidade, com a venda de cinco mil assentos ao preço de R$ 20 mil, isso faremos como contrato de um período específico, de mais ou menos 15 anos, não é vitalício, antecipando esse recurso para fazermos uma restruturação financeira e arcar com a obra. Queremos terminar a gestão com a construção do CT pronta.
O Vasco sempre foi reconhecido pelo seu potencial de fabricar talentos. Como dar sequência a esse trabalho?
O Vasco tem uma tradição se formar jogadores, essa tradição precisa ser resgatada. A primeira coisa é darmos um tratamento diferenciado para a base, isso selecionando e pagando melhor os profissionais que trabalham na base. A gente entende que a diferença salarial da base para o profissional não pode ser tão grande, senão você tem o pessoal trabalhando para o empresário e não para o clube. A segunda coisa é a filosofia de trabalho, que coloque o pessoal da base dentro do profissional. Vamos colocar uma estimativa para os nossos executivos que, pelo menos 33% da nossa base, tem que estar mesclada com o profissional para, no dia que ele tiver que jogar, já tenha essa exposição e esteja efetivamente pronto.
O CAPRRES surgiu no Vasco com uma proposta tida como inovadora. Como enxerga este projeto?
Já começa com a mentira do inovador. O CAPRRES não tem nada de inovador. A gente tem que olhar o seguinte: se você tem uma bicicleta e te dão um Fusca, você vai achar aquilo maravilhoso. Agora, se você tem uma Mercedes e te dão um Fusca, você não vai gostar. A situação do Vasco é que não tinha nada e colocaram alguma coisa. Quando você compara o que o Vasco tem com os outros times brasileiros que estão no topo, estamos no mínimo dez anos atrás. Por isso que o trabalho do CAPRRES é muito questionado na prática. Você vê que o elenco tem uma curva de performance. O time corre, corre, corre e no segundo tempo para. Além das lesões recorrentes dos jogadores. Isso mostra que uma coisa é o discurso e outra é a prática. Queremos fazer o que de fato o Vasco precisa, e outra, isso não precisa ter nome. É o lugar onde os jogadores se recuperam. Como não tem nada pra fazer e para mostrar, inventam um nome que nem do Vasco é. O CAPRRES não é do Vasco. O clube vende um negócio. Agora, isso estará dentro do nosso CT, como um departamento. O que acho é que é um trabalho medíocre. Foi bom para o que tínhamos? Foi. Mas na realidade do mercado está muito aquém dos outros clubes do Brasil e do mundo.
Uma ampla parcela dos torcedores está fora do Rio de Janeiro. De que forma esse vascaíno poderá se sentir representado, participando ativamente do clube?
Queremos usar a Embaixa do Almirante para isso, um formato feito com uma franquia, que são lojas no formato de bares, com televisão, arquibancada, espaço português, venda de material do Vasco, explorar o viés empreendedor da nossa torcida. Vejo aí um monte de sede de torcida Brasil a fora, a ideia é formatar isso em um padrão único. O sócio poder assistir aos jogos, consumir produtos portugueses, ter prioridade, descontos. O formato maior ter um campo society, para jogar a pelada, o baba de fim de semana, dentro da embaixada, ao invés de um campo de várzea. Fazer a peneira também nesse espaço, usar os ídolos para frequentarem e assistirem também aos jogos. Pegar o Pedrinho e levar para acompanhar em uma cidade do Nordeste, por exemplo. É usar a embaixada par a integrar, trazer para dentro do universo Vasco da Gama esse sócio que está fora. Fazer instrumentos como votar para a escolha de uma nova camisa, a contratação de um ídolo, com isso você faz uma participação dentro daquilo que é possível. Se ele não pode vir a São Januário, ele pode entrar na internet e dessa forma democratizamos.
Para finalizar, qual recado deixa ao torcedor e ao sócio vascaíno?
Meu amigo vascaíno, minha amiga vascaína, dia 7 de novembro é o dia da grande virada. Quero ver você lá em São Januário, votando e fazendo parte da transformação que vai acontecer. O Vasco começará uma nova história e você vai ser parte dela. Vem ser Sempre Vasco.
Fonte: Expresso 1898