Na temporada em que completa 20 anos de carreira, o ala-pivô Guilherme Giovannoni inicia sua jornada no Vasco. Reforçado, o time é um dos favoritos ao título do NBB, que começa em novembro.
Aos 37 anos, você jogará pela primeira vez num time carioca. Era um desejo?
Eu sempre tive muita curiosidade. Sempre vim visitando para jogar ou com a seleção, nem muito a turismo. A gente lê notícia ruim, mas eu tinha essa curiosidade. Logo que fui para a Espanha, eu jogava no Fuenlabrada, em 2000, 2001, quando tive uma proposta para vir ao Vasco. Por estar em contrato, era difícil sair para aquele time que fez muita história. Coincidentemente, mais de 15 anos depois, com o mesmo diretor, o Fernando Lima (vice-presidente do clube), a oportunidade veio a calhar, e aconteceu.
Neste ano, os clubes decidiram não disputar o Carioca por questões ligadas à segurança. A estrutura do basquete paulista é melhor do que a do carioca?
É tudo muito parecido. É lógico que a gente entende que foi uma situação do Gepe (Grupamento Especial de Policiamento em Estádios), uma questão de (falta) de contingente, e os clubes acharam melhor não ter (Carioca), mas a estrutura de ginásio está muito parecida com o que a gente vê Brasil afora.
Na temporada passada, a diretoria do Vasco não ficou satisfeita com a eliminação nas oitavas do NBB. O novo time foi montado para ser campeão em 2017/2018?
É um time para lutar pelo título. Foi montada para ser uma equipe muito competitiva, com plantel grande. A gente tem 11 jogadores, que conseguem inclusive aumentar a competitividade durante os treinos, o que é muito importante. É lógico que a gente sabe que o time foi montado para lutar pelo título, e vamos atrás disso.
Já existiu alguma conversa sobre a importância de vencer o Flamengo?
Já nos foi passado, sim. É lógico que mesmo de fora a gente já sabia dessa rivalidade. É uma coisa que temos que entender tanto pela diretoria quanto pelos torcedores, mas a gente tem que pensar no longo prazo também, que é lutar pelo título. É o grande objetivo nosso e vamos fazer por onde.
Seu ex-clube, o Brasília, que já foi quatro vezes campeão brasileiro e tem uma Liga das Américas, foi extinto. Ainda tem a receber? Qual é a lição deste episódio?
Ainda existem pendências, que estamos tentando resolver. A maior lição de todas é que a gente tem que ficar cada vez mais profissional, entender o basquete como negócio e não apenas como uma paixão. E temos que criar outras receitas para as equipes, não apenas os patrocínios, porque você pode ficar refém, como foi com o Brasília, um time com a história que tem.
Como ex-presidente da associação de jogadores, você aprovou seguidas contas da última gestão da Confederação Brasileira de Basquete (CBB), que terminou punida pela Federação Internacional de Basquete (FIBA) pela má gestão. Arrepende-se?
Isso é uma coisa que ninguém explica direito. O que é uma aprovação de contas da CBB? Lá, estamos aprovando o que uma auditoria externa fez. Obviamente que, em uma reunião de 15 minutos, a gente não tem tempo suficiente para ler um livro de 10 cm de altura com uma série de informações que provavelmente pouca gente entende. O fato de estar aprovando contas não quer dizer que estou aprovando como está sendo gasto o dinheiro. É assim: o cara comprou um computador e está aqui a nota. É isso. Não quer dizer que estou concordando. A aprovação foi para que se possa ter acesso a verbas que bancassem a modalidade junto ao ministério (do Esporte).
Essa função foi um peso para você na comunidade do basquete?
Foi um pouco sim, mas eu não fui obrigado a fazer. Acredito que com os jogadores unidos a gente pode ter representatividade grande, como tivemos em muitas oportunidades. A gente fez uma série de acordos com a Liga Nacional. Isso sem dúvida me dá orgulho, não existia. Erros aconteceram? Lógico, não é perfeito. A vitória especial foi a questão de calendário, que tinha muito confronto, especialmente no Campeonato Paulista.
E como vê os dirigente saindo pela porta dos fundos na CBB e no COB?
A gente olha com tristeza, mas vê que é resultado de um sistema ultrapassado e viciado do esporte em geral. A gente tem cada vez mais que democratizar o esporte para que jogadores, técnicos e árbitros tenham direito a voto e mais tomada de decisão para dividir a responsabilidade com dirigentes. Assim, não fica nas mãos de poucos. Quanto mais a gente conseguir pulverizar, mais vai ajudar a melhorar o sistema.
Como foi ver o Carlos Arthur Nuzman, agora ex-presidente do COB, preso?
É triste ver o comandante da nossa maior instituição esportiva sendo acusado de uns crimes graves. A gente começa a imaginar o que não tem para baixo daquilo ali. A gente fica triste, preocupado, mas até esperançoso, porque começa a ter punição em todos os níveis.
Quando encerrar a sua carreira, o seu futuro será na gestão esportiva?
É o que eu quero fazer, e continuar trabalhando no basquete. Já tenho estudado um pouco, fiz um curso no COB, estou vendo a possibilidade de outros, obviamente à distância, porque jogando é difícil fazer algo presencial. Mas a gestão é a área para onde quero ir.
E já tem ideia quando se aposentará?
Hoje eu me sinto competitivo. Estando numa equipe competitiva, eu vou querer continuar jogando.
Jogaria mais uma vez pela seleção brasileira, que vai começar em novembro as eliminatórias para o Mundial de 2019?
Anunciei minha retirada da seleção no último Jogo das Estrelas (do NBB). Foram 20 anos com a seleção, entre base e adulto. A gente tem que entender o momento de cada um. Minha contribuição foi dada. Estou muito contente pelo que vivi, mas agora é a hora dos garotos escreverem a história deles.
Como está vendo a organização para as eliminatórias, sem definição de treinador?
A gente tem que entender um pouquinho que a situação da CBB é delicada. Além de uma dificuldade financeira muito grande, o tempo está contra eles. Daqui a menos de 40 dias já tem o primeiro compromisso (o Brasil estreia contra o Chile, em 24 de novembro). Está na hora das definições. Se vai continuar ou não com quem está, para que o treinador tenha tempo hábil para classificar a seleção.
Quem deveria assumir?
É difícil dar um nome, são colegas de trabalho. Acho que hoje temos técnicos brasileiros capacitados para dirigir a seleção. Independentemente de quem for o nosso técnico, terá a nossa torcida, seja o Cesinha (César Guidetti, que comandou a eliminação precoce na Copa América, em agosto) ou quem quer que seja.
Após o caso de indisciplina na Copa América, Bruno Caboclo, do Toronto Raptors, foi defendido por Marcelinho, do Flamengo. Ele deve ser convocado?
Ele é só um garoto, muto novo ainda (22 anos). Ele tem potencial, mas precisa de tempo de jogo para ganhar a experiência necessária no Toronto, na seleção, ou onde quer quer seja. É importante explicar onde ele está, o que é a seleção, e o que a atitude dele pode representar para a nossa modalidade. A gente tem que entender o menino. Foi um erro grave, mas pode-se dar uma segunda chance.
Fonte: Extra