Candidato da chapa Sempre Vasco, Julio Brant fala sobre reforma de São Januário e outros assuntos
Sexta-feira, 13/10/2017 - 12:54
Reforma profunda em São Januário, parceria para o futebol profissional e promessa de modernização na gestão do Vasco. Essas são as principais propostas do empresário Julio Brant, 41 anos, candidato pela segunda vez à presidência do clube carioca. Apoiado por ídolos como Edmundo, Mauro Galvão, Pedrinho e Felipe, o opositor de Eurico Miranda concedeu entrevista para falar sobre sua plataforma de governo.

Nas eleições presidenciais do dia 7 de novembro, concorrerão também Fernando Horta e Alexandre Campello, além do atual presidente Eurico Miranda. O ESPN.com.br fará pedido de entrevista para todos os presidenciáveis.

Procurado por meio da assessoria do Vasco, Eurico Miranda não quis falar com a reportagem.

Leia abaixo a entrevista com Julio Brant:

ESPN - Fale sobre os planos de vocês para o Vasco

Julio Brant - Queremos uma mudança radical do ponto de vista gerencial. O futebol deixou de ser indústria do esporte para ser indústria do entretenimento. As cifras são completamente diferentes. Não é mais só esporte. Os jogadores têm esse perfil hoje de popstar. Você precisa do popstar para alavancar a atenção do público. Houve uma mudança grande que ainda não chegou ao Brasil, mas irá chegar. Nos Estados Unidos já é um fato e na Europa também. Em termos de patrocinador começou a competir. Queremos uma mudança de lógica com uma gestão que perceba e entregue o que o mercado quer.

ESPN - Quais os planos do seu grupo para São Januário?

Julio Brant - A gente entende que São Januário é um estádio muito bucólico e diferente dos outros. Ele tem uma arquitetura e uma aura de saudosismo que deve ser mantida. Nós fizemos uma parceria com uma empresa portuguesa chamada Tecnoplano, que construiu e projetou os principais centros de treinamento e estádios da Europa. Eles desenharam para gente uma reforma que manterá as características charmosas do estádio, mas ao mesmo tempo dando acessibilidade, mais conforto e fazendo uma cobertura integral. Queremos fechar o anel para aumentarmos a capacidade e com isso recebermos jogos internacionais. Queremos melhorar acesso, entrada, banheiros e sala de imprensa. Não é a construção de uma arena. Mas uma reforma no novo estádio de São Januário. A gente quer garantir a presença do vascaíno que pode pagar de R$ 8 ou R$10 até o que pode pagar R$700. O estádio irá refletir isso. A ideia é ter um setor que lembre as tradicionais e inesquecíveis gerais. E o camarote será extremante confortável e luxuoso se o torcedor quiser pagar mais caro. Queremos garantir que todas as classes sociais possam ser contempladas no estádio. A bilheteria precisa voltar a remunerar o clube e seja uma fonte de receita fixa do Vasco, mas não queremos que isso seja a custo da participação do vascaíno mais modesto.

ESPN - Qual valor seria gasto nessa obra?

Julio Brant - Nós temos uma previsão de orçamento que está de R$109,8 milhões para reforma do estádio hoje. A gente tem que buscar no projeto para aumentar a capacidade do estádio e vender cinco mil cadeiras especiais a R$ 20 mil. Elas serão confortáveis, com local privilegiado e terão o nome do sócio. Isso dará direito por 15 anos para o torcedor ver jogos por lá. Isso garantirá R$100 milhões de receita para o projeto. Vamos fazer uma parceria com uma instituição financeira e estruturar com o banco para anteciparmos essa receita para começar a obra. Temos conversas com patrocinadores de fora do Brasil com projetos de mais longo prazo, cerca de 6 a 10 anos para o clube. Mais do que um patrocinador, será um parceiro que irá casar com o Vasco por esse período. Irá trazer recursos para o clube que a gente imagina no mínimo em torno de R$300 milhões a R$350 milhões por esse período.

ESPN - Seria uma parceria em que tipo de modelo?

Julio Brant - Seria uma parceira com modelo de integração de direitos de uso de imagem que vai desde ativos nossos até jogadores. Uma parceria com a base também para rentabilizar os interesses do parceiro. E também de patrocínio, exposição de marca. Além disso, uma série de ações promocionais, de marketing com a realização de jogos de interesse do patrocinador fora do Brasil. Também poderemos fazer uma estruturação de escolas e outro time Vasco da Gama no país de origem deste patrocinador para estimular o desenvolvimento do futebol neste país. A ideia é fazer uma parceria binacional, quase uma parceria de estado. Isso teria como objetivo de desenvolver o futebol em um determinado país que é interesse do parceiro, que tem interesse no Brasil e neste país também.

ESPN - Qual seria esse parceiro? Pode falar nomes?

Julio Brant - Não posso. É totalmente sigiloso. Essa é uma condição para podermos explorar na nossa campanha. Eu não posso quebrar essa confiança.

ESPN - Como você avalia atual gestão do Vasco?

Julio Brant - Se eu tivesse que dar uma nota de zero a dez é zero. Não tem condições de fazer com que o Vasco dê a virada necessária para voltar a ser um grande clube. Sair da faixa média e voltar a ser grande clube. Eurico não tem condições de fazer isso. É um fato.

ESPN - O que você pretende mudar na gestão do Vasco?

Julio Brant - Tudo. Hoje temos uma grande consultoria como parceira nossa. O diretor dessa empresa apresentou o projeto no dia da nossa candidatura. A encomenda que dei para eles é começar do zero. Precisa redesenhar todos os processos de gestão do clube. Desde a rotina financeira, controladoria, contabilidade, logística, comercial e marketing até a relação com os sócios. Tudo isso a partir da nova realidade. Isso se reflete no planejamento estratégico de onde se quer chegar, que recursos você precisa e como você os utiliza. Eu disse: ‘Esquece o que esta lá. Nos primeiros meses vamos ter que trabalhar da forma como está. Mas não vamos remendar, nós vamos construir uma nova realidade'.

ESPN - De que forma?

Julio Brant - Temos que implementar uma gestão corporativa que faça gestão financeira, estoque, fluxo de aprovação de compras. Colocar isso para funcionar. São coisas que não aparecem. Nós queremos a gestão atuando diretamente com o futebol. Não adianta o torcedor chegar no bar e falar assim: 'Esse ano eu clube teve R$350 milhões de lucro'. Mas quantos títulos ganhou? No final, o clube tem que trabalhar com alegria. Só que também você não chega nesta alegria neste momento sem um processo ou gestão e organização. Sabe por que? Porque o jogador não vem pra clubes assim mais. Eles têm uma visão extremamente profissionalizada. Eles não vem mais para clubes que não oferecem um mínimo de estrutura e organização para poder jogar. E estão certos. Virou uma relação profissional de fato. Como é o centro de fisiologia e recuperação do atleta? Como vão ser tratados para melhorar a performance? Ele não só olha o aspecto da marca do clube, que o projete, mas também a estrutura. Se você não tem isso, não atrai os melhores jogadores. E se você não tem os melhores, não chega a lugar algum. É uma mudança completa do que é feito hoje. O Vasco comemora hoje o Caprres. Mas o Caprres é medíocre pelo ponto de vista do mercado brasileiro e mundial. Estou falando dos cinco melhores do Brasil e do mundo. É bom perto do que tinha antes? É. Mas o que isso visualiza ao mercado? Nada. O Vasco tem atletas se lesionando e na metade do segundo tempo está com dificuldades para correr. Não é desta temporada. Você vê claramente essa dificuldade dos jogadores em manterem o ritmo no segundo tempo. O time fica lento. Isso é trabalho físico. Se não consegue uma profunda reforma nisso não consegue atrair o melhor. E não consegue o melhor resultado.

ESPN - O que vocês pretendem fazer com as categoria de base do Vasco?

Julio Brant - Nosso primeiro foco é a construção de um centro de treinamento. Isso é a prioridade número um. É estruturar isso até o final do primeiro mandato. A ideia é ter um ct da base integrado ao profissional. Ao invés de trazer meia dúzia de cabeças de bagres do mercado que ganham R$70 mil, R$80 mil ou R$100 mil que não fazem a menor diferença, queremos colocar atletas que são realmente diferenciados e preencher a parte periférica do elenco com os meninos da base. Dando suporte para eles com os nosso profissionais de alta performance. Precisamos reformular os sistema de peneiras do Vasco. Ter uma estrutura para manter esses meninos, que em sua grande maioria vem de uma realidade difícil, para que possam desde o começo ter alimentação, instrução e a parte psicológica para serem atletas de alta performance. Queremos melhorar os salários dos funcionários que trabalham na base. As comissões técnicas têm que ter um salário compatível com os profissionais. Eles têm salários muito baixos e viram agentes do empresário. Queremos dar todo apoio para base.

ESPN - Fale sobre sua trajetória profissional

Julio Brant - Eu sou formado em jornalismo e trabalhei no jornal "O Dia" por muito pouco tempo. Depois, fiz mestrado em administração de empresas em Portugal. Trabalhei nesta área e me especializei ao longo da carreira em empresas como Vale do Rio Doce, Odebrecht, Andrade Gutiérrez e na Suíça também. Fiz uma carreira na área executiva e de consultoria.

ESPN - Qual a sua relação com o Vasco? Como surgiu a ideia de se candidatar a presidente?

Julio Brant - Minha história começou desde que nasci porque minha família é toda sócia do Vasco. Quando foi em 2013 eu estava morando em Portugal e o Edmundo me ligou para participar de um projeto de revisão do modelo de gestão do Vasco. Ele sabia da minha especialização de modelo de gestão e reestruturação de grandes empresas. Eles estavam montando uma turma de executivos do Ibmec de amigos do Edmundo. Eu não conseguia participar porque estava em Portugal e como era responsável por países da África vivia viajado.

Eu contribuí no projeto com meu conhecimento e na minha relação com o pessoal do futebol, principalmente com Benfica e Porto. Eu comecei a trazer conceitos do futebol português, francês e alemão para o Brasil. Em 2014, começamos a buscar durante a Copa fazer um projeto para entregar a algum candidato. Nós percebemos que não tínhamos candidato. É uma estrutura muito fechada em política e viciada do clube. Todos tinham a mesma visão e o mesmo modelo de atuação. Uma visão muito singular do Vasco. Tipo: ‘Vamos lá, cada um coloca um dinheiro, faz um fundo para ajudar Vasco'. Esse dinheiro não resolve os problemas do Vasco.

Precisa fazer um projeto que o mercado compre e que entenda que o Vasco é uma excelente oportunidade para desenvolver marcas e produtos, ou esquece. Não vai resolver o problema do Vasco tornando o time competitivo diante situação caótica que o clube se meteu nos últimos 20 anos. São 20 anos de queda e de crise. Não se reverte isso de uma hora para outra porque neste tempo o mercado de futebol mudou muito. As cifras cresceram muito. Como se resolve isso de uma hora para outra? Não se resolve com o dinheiro dos portugueses da padaria. Esquece. A gente percebeu que iam colocar o projeto na gaveta e esquecer. Precisávamos mudar e politizar o grupo. Fizemos uma pesquisa para ver que tipo de candidato que a torcida queria e elencamos os candidatos. Nisso, o Edmundo me convidou e eu aceitei.

ESPN - Quem são seus principais apoiadores?

Julio Brant - Temos apoio de grandes beneméritos, grupos políticos do Vasco e ex-jogadores. Grandes ídolos da história recente como Edmundo, grande liderança que juntou esse processo, Pedrinho, Felipe e Mauro Galvão. Esses são os nossos grandes apoios. Nelson Sendas é o nosso vice, que tem uma família muito relevante na história do clube. O pai dele fundou uma rede de supermercados aqui no Rio que foi vendida ao Pão de Açúcar.



Fonte: ESPN.com.br