Mauro Galvão relembra passagem pela Seleção e fala sobre carreira, conquistas pelo Vasco e antigos companheiros
Terça-feira, 10/10/2017 - 15:01
Quando trocou o Estádio Olímpico pelo Beira-Rio, ainda aos 15 anos, Mauro Galvão era movido por um sentimento que o acompanhou durante toda a carreira: desafio. Além da procura por mais espaço no novo clube, o jovem zagueiro começava a trilhar um caminho de inúmeros títulos pelos clubes por onde passou.

Ainda aos 17 anos, Mauro Galvão chegou ao profissional do Internacional. No Colorado, logo em sua primeira temporada, conquistou o Campeonato Brasileiro de 1979. Não parou mais. Em 23 anos jogando futebol, Galvão levantou praticamente um troféu por ano, foram incríveis 22 canecos. Em 2001, no Grêmio, venceu a Copa do Brasil antes de pendurar as chuteiras.

Em seu currículo, o zagueiro de trato fino com a bola, conta com passagens por seis clubes. No Brasil só não foi campeão no Bangu. Fora do país jogou apenas no Lugano, da Suíça. Na lista dos muitos títulos há também um pela Seleção Brasileira, a Copa América de 1989.

"O segredo é jogar sempre em time bom, em time grande (risos). Na verdade não tem mistério, muitas vezes é um detalhe que falta. Os jogadores são fundamentais, então é preciso saber escolher bem quem vai compor o elenco pra ele ser vencedor."

Quatro Brasileiros, uma Libertadores, duas Copas do Brasil e inúmeros estaduais. Papa títulos como jogador, hoje, o diretor técnico Mauro Galvão, aguarda uma nova oportunidade na função que acredita ser a ideal pela experiência que adquiriu no futebol.

"Coordenar as coisas, contratar jogadores, tem mais a ver comigo. Tenho a intenção de seguir nessa função."

TROCA GRÊMIO - INTER

Comecei com 11 anos no Grêmio, fiquei lá até os 15 quando fui para o Internacional. É uma mudança complicada, principalmente se tratando de Porto Alegre e a rivalidade que tem lá. Mas eu tentei não pensar no extracampo, foi uma mudança em busca de mais espaço, mais oportunidades.

INÍCIO DA CARREIRA

Eu subi para os profissionais com 17 anos no Internacional. O clube tinha uma filosofia de aproveitar muito os jogadores da base. No meu primeiro ano, em 1979, conquistei meu primeiro título brasileiro. O Falcão, particularmente, sempre me ajudou muito. Foi um padrinho que eu tive no Inter.

OLIMPÍADAS 1994

A base era toda do Internacional. A dificuldade naquele ano foi a falta de informações sobre a França. Isso dificultou muito. Fomos bem, fizemos uma campanha para chegar ao título, mas acabamos com a medalha de prata.

BANGU

O Bangu era o time da moda naquele momento. Tinha jogado uma final de Brasileirão, uma final de Carioca… Montamos um elenco para ser campeão brasileiro. A ambição era essa. Mas as coisas não andaram como o imaginado. Aquela grande fase do Bangu, se deve ao fato do clube ter um patrono, que investia no clube. O Castor de Andrade foi fundamental naquele momento. O clube por si só não tinha condição de fazer aqueles investimentos.

BICHO PAGO EM DINHEIRO

A gente recebia dinheiro vivo, ainda no vestiário! Era uma coisa legal, pra motivar, dos velhos tempos… Só vivi isso no Bangu.

BOTAFOGO

Eram muitos anos sem título. Uma pressão enorme sobre a gente na final do Campeonato Carioca de 1989 contra o Flamengo. Os torcedores já estavam meio escondidos, sem confiança... Dos times que eu joguei, foi no Botafogo que a questão psicológica mais mexeu com os jogadores. Mas o grupo entendeu a necessidade de tirar o time daquela fila e com muito trabalho alcançamos o título.

COPA DO MUNDO 86

Minha primeira Copa foi em 1986, uma experiência incrível, mesmo sem entrar em campo. O Brasil vivia uma troca de geração. Com o calor e jogadores mais velhos, muitas vezes o rendimento caia no segundo tempo. O próprio Zico, fez tratamento médico durante toda a competição, mas não estava na sua melhor forma. É um cara que 100% faria muita diferença. Não conseguimos chegar ao máximo e paramos na França.

CASO BRANCO EM 90

Aquele caso mostra como a gente tem que ter o máximo de cuidado. Foi um momento de distração do Branco, até hoje a gente não sabe ao certo se houve má fé dos argentinos… É difícil afirmar isso. Quando ele comentou com a gente que estava se sentindo mal, imaginamos que poderia ser por causa do calor. É inimaginável pensar que a água poderia estar "batizada", não tinha como prever.

SUÍÇA - LUGANO

Os primeiros 6 meses foram muito difíceis. Mas com o tempo me adaptei. O futebol não é prioridade lá e o Lugano era um clube mediano, mas nós ganhamos a Copa Suíça… O time teve uma ascensão muito boa naquele período.

Quando eu fui para a Suíça, não consegui voltar para buscar minhas coisas no Brasil. Só fiz isso um tempo depois e o campeonato já estava em andamento. Quando voltei, tinha uma reunião marcada e eu não sabia qual era o assunto, ainda não estava adaptado à língua. Só depois da reunião descobri que a bronca não era em mim, mas em todo o grupo. O time tinha perdido e a reunião era pra "lavar a roupa suja".

GRÊMIO

As pessoas falam muito que eu era gremista quando criança, que meu pai era tricolor… Mas não é bem assim. Eu sempre defendi o clube que estava. O melhor dessa minha volta ao Brasil, foi conseguir terminar minha história no Grêmio. Quando eu estava na base e resolvi sair, foi uma opção minha. Por isso o retorno é motivo de orgulho. Pude concluir uma história que começou aos 11 anos.

VASCO - EDMUNDO E EVAIR

O Edmundo é um cara de muita qualidade e que estava em uma fase incrível em 1997, mas acredito que a parceria com o Evair foi fundamental. Eles já tinham um entrosamento do Palmeiras e isso ajudou. Houve uma mudança de posicionamento do Evair, jogando um pouco mais atrás e servindo o Edmundo, que pela condição física estava arrastando os zagueiros.

Aqui no Brasil o Edmundo era o maior jogador em 97. No mundo é difícil dizer, por não haver uma disputa direta principalmente com os europeus.

LIBERTADORES 97 E DERROTA PARA O REAL MADRID

Pelo peso da conquista, a Libertadores com o Vasco foi o título mais importante da minha carreira. Depois acho que a gente foi cedo demais pro Japão. É claro que falar agora é fácil. A gente passou pelos Estados Unidos antes, com alguns compromissos que tiraram um pouco o foco da decisão. Mas a gente poderia ter ganho em campo, tivemos chances pra isso.

CARREIRA COMO TÉCNICO

Eu era auxiliar do Antonio Lopes no Vasco quando ele foi demitido. O Eurico me procurou e disse que eu deveria assumir. Não poderia negar aquele convite. A experiência foi muito boa. Nunca tinha trabalhado como treinador, nem em comissão técnica de base. E você estrear na Série A do Campeonato Brasileiro, não é fácil.

DIRETOR TÉCNICO

Tivemos destaque na campanha com o Vitória em 2010, quando fomos campeões baianos e chegamos na final da Copa do Brasil. Com Avaí também foi um trabalho legal, eliminamos o São Paulo e paramos no Vasco na semifinal da Copa do Brasil em 2011.

JOGADOR MAIS DIFÍCIL DE MARCAR

Reinaldo do Atlético Mineiro.

MELHOR JOGADOR COM QUEM JOGOU

Falcão no Internacional.

MELHOR COMPANHEIRO DE ZAGA

Impossível escolher um. Sempre me dei bem com quem eu joguei. Odvan na época de Vasco. Gottardo no Botafogo. Aldair e Ricardo Gomes na seleção brasileira. Mauro Pastor no Inter… Realmente não dá pra eleger um.

GRENAL X CLÁSSICO DOS MILHÕES

No Sul, eu acredito que a rivalidade seja mais forte. O grenal começa uma semana antes e não termina depois do apito final. No Rio de Janeiro, por ter mais times essa rivalidade fica mais diluída. É claro que ela existe, e dependendo do momento, pode ser até mais agressiva.



Fonte: Fox Sports