Terra era tudo o que havia na Avenida Olegário Maciel quando José Fernando Horta de Sousa Vieira resolveu fincar uma vidraçaria numa loja da rua. A Barra nem sonhava em se transformar na Miami Brasileira, mas nos prognósticos do empresário o lugar tinha potencial. "Já previa o futuro que a Barra teria. Cheguei a ter 38 vidraçarias na região", diz o dono da conceituada Vidro Ledo, que, até hoje, é campeã de vendas no mesmo lugar. O negócio de Horta, entretanto, já era famoso no bairro da Tijuca. A ponto de fazer com que moradores das comunidades próximas fossem até o seu estabelecimento pedir ajuda para uma escola de samba do bairro. Grana daqui, auxílio dali, em 1988 Horta assumia a presidência da Unidos da Tijuca. A escola que brigava sempre para não cair e que era sediada no Morro do Borel mudou a sede para o bairro de Santo Cristo e se transformou numa potência do carnaval carioca, com a revelação do carnavalesco Paulo Barros e os títulos dos carnavais de 2010, 2012 e 2014. A estrada vitoriosa do empresário de 65 anos, entretanto, ainda não chegou ao fim. Resta a última fronteira. A lacuna derradeira do triunfo para o menino nascido na Vila da Lixa, em Portugal, e que carrega a cruz de malta no seu peito desde que nasceu. Ora, pois, é claro que Horta é Vasco. Com uma pequena diferença para os demais torcedores: ele quer ser o presidente do clube.
Neste sábado, dia 7, ele lança no Arouca Barra Clube a sua candidatura para comandar o Gigante da Colina. O evento tem entrada franca e acontece às 15h.
Em meio a turbulências, três rebaixamentos na última década e administrações conturbadas do clube de São Januário, o empresário bate de frente com o regime que impera no Vasco atualmente. "Hoje é tudo eu. Comigo será nós", dispara, prometendo uma gestão democrática, um time competitivo e um Vasco à altura do que a sua apaixonada torcida se acostumou a ver.
Você duvidaria do homem que revolucionou a história da Unidos da Tijuca ou daquele sonhador que se transmutou no rei dos vidros? Uma parte da torcida sim. Há quem enxergue com desconfiança a candidatura de Fernando Horta. A incerteza se dá pelo fato de que, até pouco tempo, o empresário era o vice-presidente da gestão de ninguém menos do que o controverso Eurico Ângelo Miranda - o atual mandatário do Vasco e cujo índice de aprovação, hoje, no meio da torcida que já o idolatrou, é menos de 1/5 de um Maracanã lotado.
"Sou completamente diferente do Eurico. Sou um cara aberto. Minha administração é transparente. Minha personalidade é de harmonia, e não de guerra", esclarece Horta, lembrando-se da frustração que teve com o atual presidente. "O Eurico se fechou e me deixava de fora de tudo. Nos primeiros seis meses de administração, que foi a época de sanear o clube, eu servia. Depois, fui deixado de lado", recorda.
Quem conhece Horta a fundo, porém, aposta todas as fichas no seu tino empresarial e capacidade para reerguer um gigante como o Vasco da Gama. "Não é só o Brasil que precisa mudar. O Vasco, também. O clube precisa recuperar os valores que perdeu ao longo dos anos e o Fernando Horta é o homem certo para isso", acredita o amigo Miguel Falabella. Criado em São Januário e apaixonado pelo Vasco desde pequeno, o ator fala da amizade com o empresário. "Eu o conheço do mundo do samba há mais de 20 anos. Sempre o achei de uma correção absoluta e de uma força surpreendente. O Horta transformou de maneira definitiva a Unidos da Tijuca. Tem visão empreendedora e larga experiência. É o que o Vasco precisa para decolar outra vez", enaltece Falabella.
"Nós somos da antiga, mas temos cabeça moderna", incensa Horta, no papo com o amigo.
A "Mudança com segurança", slogan da campanha de Fernando Horta, é arquitetada semanalmente num condomínio aqui na Barra. É lá que a cúpula do candidato se reúne para traçar a estratégia às eleições que acontecem no dia 7 de novembro, em São Januário.
Sobre patrocinadores e nomes como vice-presidente, Horta só fala depois de eleito. "Não vou passar por essa vergonha de fazer bravata e, na hora, não anunciar nada. Não vou dizer que vou dar presente de Natal para torcida e anunciar o jogador Escudero. Sou conceituado e respeitado na sociedade, desde o operário ao alto escalão. Não vendo esperança. Jamais me arriscaria a ser candidato se achasse que não estou preparado", diz Horta.
Em relação a um velho projeto de transformar São Januário em uma arena, ele responde mostrando um lado desconhecido para muitos, a sua verve humorística. "Arena é coisa para touro", dispara. "Vamos fazer de São Januário um estádio moderno".
Horta quer multiplicar o número de associados do clube. Garante, para isso, que sócio-proprietário do Vasco não pagará ingresso nos jogos em São Januário. "O cartão de sócio-torcedor funcionará ainda como um cartão de crédito. Não é vergonha copiar modelos de gestão que dão certo", diz, referindo-se a outros clubes que já utilizam o sistema.
De olho na imensa torcida vascaína fora do Rio de Janeiro, pretende montar em cada estado do Brasil uma Casa do Vasco. "É algo como uma sede, com todo o nosso apoio logístico. Uma espécie de consulado. Nenhum clube do Brasil faz e quero começar logo com isso".
Torcedor de arquibancada desde que chegou ao Rio, aos 12 anos, garante conhecer grande parte dos membros de torcidas do clube – espécie de calcanhar de Aquiles da gestão atual, que vive em conflito com as organizadas. "Sei como administrar isso", garante. "Minha filha tinha camisa da Força Jovem. Conheço quase todos eles. A torcida tem que ajudar, e não tomar do clube", explica.
Sobre dividir o tempo entre o carnaval e o Vasco, ele leva nota dez no quesito harmonia. "O carnaval deste ano está pronto. Delego tudo. Só administro", diz, garantindo que deixa o comando da escola se ganhar a eleição no Vasco.
A nota dez que ele precisa agora é no quesito títulos para fazer a sua imensa torcida bem feliz.
Fonte: A Folha do Bosque