Basquete: Rubro-negro Marcelinho, que se aposenta no fim da temporada, admite que já foi sondado pelo Vasco
Aos 42 anos, o ala-armador Marcelinho, do Flamengo, dará início oficial, nesta terça-feira, pela Liga Sul-Americana, à temporada de despedida nas quadras. Com um saco de gelo no joelho direito após um treino na Gávea, o ex-jogador da seleção falou ao GLOBO e não evitou qualquer tema sobre o basquete brasileiro e seu futuro.
Você vai encerrar mesmo sua carreira ao fim desta temporada?
Não tem volta. Era importante eu transmitir isso para a torcida do Flamengo, meus companheiros, minha família e para mim. Eu estou aproveitando cada momento. Vai ser uma temporada ainda mais especial.
Na NBA, a última temporada do Kobe Bryant foi de festa e derrotas para Los Angeles Lakers.
Foi esse o exemplo que eu dei na conversa que tive com o grupo. Aqui é diferente. A minha temporada é coadjuvante ao foco do Flamengo, que é ganhar todos os títulos.
A idade causa frustrações?
Não, causa algumas limitações, mas não frustrações. Você ganha experiência, respeito dos garotos. Eu prefiro olhar o lado positivo. Você ganha maturidade, pensa duas vezes antes de tomar decisões e tem melhor leitura de jogo. Se perguntar se eu quero a cabeça de 42 com corpo de 25... seria o ideal, mas não é possível.
O seu jogo foi de arremessos ousados, talvez a juventude ajudasse.
Eu sempre tive característica ofensiva e nunca vou abrir mão disso, é o meu diferencial. Algumas pessoas confundem com precipitação. Eu sou bastante confiante, e meus companheiros e treinadores sempre me motivaram a fazer isso, mesmo quando as coisas não deram certo.
A maneira como se joga hoje na NBA confirma que é uma estratégia que pode ser viável e eficiente.
Os times que têm sido protagonistas na NBA estão mostrando isso. É preciso o time entender que essa é a forma como vão jogar e o corpo técnico apoiar isso. Se você tem jogadores com essa característica, como eles têm e como nós tivemos no Brasil, com Oscar, Marcel e, na minha geração, comigo, isso pode dar frutos.
Você se formou em marketing, tem contatos com treinadores nos EUA. Como será seu futuro?
Eu estou preocupado com essa última temporada, porém, já enxergo meu futuro. Quero abrir meu leque e entender em qual área vou me sentir mais à vontade. Acredito que vai ser gestão. Não vai ser na técnica, é uma vida muito parecida com a de jogador. Eu vivi intensamente essa vida, perdi vários momentos com família e filhos, mas não me arrependo.
O desejo é ir para os EUA?
Sim. A estrutura esportiva, especialmente do basquete, é enorme. Eu queria experimentar isso, até para saber, se eu for, replicar aqui quando voltar.
Você fez testes na NBA, mas não jogou. É para preencher essa lacuna?
Não (risos). É mais pela maneira que enxergam o basquete. Se (não ter jogado na NBA) é frustração, pode ser que sim. Eu queria, mas não tive as oportunidades certas. Sei que tinha condição de jogar na NBA, pelo que joguei em Mundiais, mas, na carreira de uma atleta, tem derrotas e vitórias. A vida é assim.
Você passou por Botafogo, Fluminense e Flamengo. Faltou o Vasco?
Sou rubro-negro desde que nasci, mas sempre fui muito profissional. Cheguei a ter contato na época em que eram os melhores, mas sempre tive na minha cabeça que eu queria jogar contra os melhores. Treinar entre os melhores é bom, mas ter a oportunidade de jogar contra os melhores é melhor ainda.
É frustrante não jogar um Estadual por falta de arenas um ano depois dos Jogos Olímpicos do Rio?
É frustrante como cidadão, como pai, pensar que um evento esportivo não pode acontecer por não ter o número de policiais suficientes para garantir a segurança do público e que, sem o policiamento, vai ter briga. Como sociedade, a gente tem que evoluir muito.
Como vê a confederação de basquete com novo presidente e um estatuto que dá mais votos aos atletas?
Satisfeito ninguém estava. Eu sinto que a gente vai ter mais representatividade, mas foi uma exigência da Fiba após atingirmos o fundo do poço.
A seleção está no fundo do poço?
Não, são coisas diferentes, mas uma coisa influencia a outra. A 30 dias da Copa América, os jogadores não sabiam se seriam convocados, onde treinariam. Eu vejo a seleção com potencial. É o fim de uma geração, mas tem vários jovens que podem dar conta do recado: Raulzinho, Bruno Caboclo, Augusto Lima, Benitez. Outros, Marquinhos e Huertas, vão continuar.
Seu técnico no Flamengo, o Neto, deveria estar no comando?
Não vou opinar sobre o nome, mas isso tem que ser definido para que essa pessoa tenha o foco na seleção e não se decida em cima da hora. (A estreia nas eliminatórias para o Mundial é contra o Chile, em 24 de novembro.)
Na Copa América, o Caboclo se recusou a entrar em quadra e foi afastado. Deve voltar?
Às vezes um garoto toma uma atitude de cabeça quente por um motivo razoável e a ação ganha uma proporção não esperada. Ele é muito jovem (22 anos), aprendeu com o erro. Não tem que se martirizar. Vi gente dizendo que ele não quer jogar na seleção. Como assim? Foi o único da NBA a vir, mesmo sem condições de treinamento. Em vez de focar no gesto errado, tem que ver o todo. Ele quer ser protagonista da seleção. Não convocá-lo de novo seria o maior erro.
Você iniciou sua vida nas quadras no Flamengo e vai encerrar aqui.
Comecei com 10 anos. Eu queria jogar e não tinha pré-mirim, mas, coincidentemente, ia começar a categoria numa quadra aqui ao lado (de onde treina hoje). Tenho grandes recordações dessa época. Fomos campeões nos dois primeiros anos.
Depois de uma derrota que interrompeu quatro títulos do NBB, o que passa antes deste ano final?
Um pouco de tudo, frustração, raiva, vontade de voltar e ganhar. Ter o gosto da vitória e perder é um sentimento ruim. A gente entende que ninguém vai ganhar 20 anos seguidos. O sentimento de todo mundo é de reconquistar o que é nosso. O Flamengo é montado para ser campeão do NBB, da Liga Sul-Americana, para ganhar uma vaga da Liga das Américas e buscar o título.
Fonte: O Globo Online (texto), GloboEsporte.com (foto)