Ex-volante Nasa fala sobre passagem vitoriosa pelo Vasco e conta como virou empresário do ramo imobiliário no Ceará
O torcedor vascaíno certamente sente saudades de Nasa. O jogador foi fundamental na geração que conquistou o título brasileiro de 97, a Libertadores de 98 e a Copa João Havelange. Se nunca foi um craque, o ex-volante era aquele "carregador de piano" que todo time precisa. E a dedicação que demonstrava em campo ele levou para a vida. Tanto que virou dono de construtora em Juazeiro do Norte, no Ceará, e nem a crise conseguiu abalar o negócio.
Hoje, Nasa é dono de uma empresa que constrói imóveis para venda e já soma cerca de 50 empreendimentos que estão alugados. Ele tem um funcionário fixo responsável por administrar o negócio e ainda conta com uma equipe de 30 profissionais, entre engenheiros e pedreiros, para fazer a obra.
"Tenho uma fonte de renda razoável. Dá para sobreviver. Não sou milionário, mas sou felizardo", brinca, cheio de humildade.
Trabalho nunca foi problema para Nasa. Está na labuta desde os dez anos de idade na época em carregava as compras de supermercado para as 'madames'. Assim que começou a ganhar dinheiro com futebol, tratou de guardar uma boa parte e comprar terras aconselhado pelo pai. Todo mês pegava uma parte do salário para investir e, aos poucos, foi aumentando o patrimônio.
"Eu entrei exatamente porque tinha que guardar, deixar dinheiro em banco parado era um risco. Então meu pai também me passava essa ideia, que eu tinha que comprar terreno, terreno nunca fica pobre, terra sempre vai ser valorizada. Essa foi a visão, comecei a construir, comprei prédio e assim foi, comprava algumas casas e o horizonte foi abrindo e não parei mais".
Com o tempo, foi aprendendo a administrar o negócio e hoje é experiente no assunto. Encarou de frente a crise econômica que assola o país, mas considera que vem passando praticamente ileso por ela. Ele acredita que todo mundo é afetado, mas os efeitos são menores para o seu tipo de negócio.
"Afeta grande, afeta pequeno, todos os setores, mas na realidade o meu setor de imóvel de aluguel é sempre rotativo. Nunca fica fixo, a gente faz contrato de um ano, então do meu lado afetou muito pouco".
Desânimo com situação do país
Ainda assim, não esconde o desânimo com o país e expões as dificuldades de ser empresário no Brasil. Prova disso é que ele chegou a ser sócio por 11 anos de uma academia de ginástica que a sua esposa administrava. Mas decidiu vender a empresa por conta das altas taxas de imposto e dos encargos trabalhistas com funcionários.
"Não quis mais ter dor de cabeça. Para manter o pessoal não era o maior problema, o problema eram as taxas impostos. Empresário aqui no país sofre, ele só sobrevive. É muita coisa, muitos impostos, muita picuinha, ela cansou e nós decidimos vender os equipamentos, ficamos só com o prédio e aligamos. A construção civil também é uma área difícil, mas mais tranquila. Você contrata uma equipe e o mestre de obra, ele fica responsável. Mas não está fácil, realmente não está fácil para ninguém", diz ele que demonstra desânimo com o país.
"As coisas vão se afunilado, o mundo, ao invés de melhorar está piorando. Quando a gente é jovem, não liga para taxa, para imposto, para essas coisas, mas quando chega certa idade vai tendo mais ciência, caindo na realidade. Você vê que eles não facilitam as coisas para o empresário, o pequeno empresário, agora até os grandes empresários estão sofrendo com a opressão dos governantes. É um espremendo o outro. É muito difícil, melhorar não vai melhorar de forma nenhuma".
Preocupado com o país, Nasa já está de olho nas eleições de 2018. Mesmo decepcionado com a classe política, ele já tem o seu voto escolhido. Vai apostar no deputado Jair Bolsonaro (PSC) por concordar com os valores do provável candidato.
"Eu ainda vou dar um crédito ao Bolsonaro. Porque ele luta pelos bons costumes, está tudo corrompido, o Congresso está todo corrompido, fazem isso na cara dura, na nossa cara. Tem algumas pessoas que estão lá dentro que não são contaminadas, mas são muito poucas. Eu acho que ele é dessas poucas", afirmou.
Futebol só nas peladas
Do futebol, só ficaram as boas lembranças. Nasa não gostar de ver jogos pela televisão e não acompanha o futebol brasileiro atualmente. Ele só gosta de bater uma bolinha com os amigos quatro vezes na semana e ainda é convidado para participar de eventos no Nordeste, o que lhe rende uma renda extra.
Mas sente saudades do Vasco, clube onde brilhou no fim dos anos 90 e início dos anos 2000. Nem a falha na final do Mundial de Clubes, quando fez um gol contra e ajudou o Real Madrid a conquistar o título se tornou um trauma.
"Foi um casamento. Cheguei no Vasco em 1997, com 28 anos, vindo do Madureira. Nesse mesmo ano, fomos campeões brasileiros em cima do Palmeiras. O Vasco para mim foi construir uma família, um porto seguro, eu já estava quase encerrando a minha carreira. Naquela época, jogador com 30 anos estava velho, hoje mais não. Foi minha casa, minha segunda família, tenho muito carinho, respeito, fiz muitos amigos, deixei muito amigos. Eu era o carregador de piano, Pit Bull, porque eu brigava pelo Vasco, dei sangue, meu melhor, fiz o possível e impossível. Joguei com 28 anos, mais ou menos 9 títulos. No Mundial, fiquei chateado não pela bola que bateu na minha cabeça, mas porque perdemos o título. O Vasco era uma máquina de ganhar títulos".
Fonte: UOL