Quando era árbitro, José Roberto Wright usou microfone escondido na final da Taça GB de 1982 entre Vasco e Urubu; relembre
Não teve expulsão polêmica, pênalti mal marcado ou gol irregular. Mesmo assim, a arbitragem de José Roberto Wright na final da Taça Guanabara de 1982, entre Flamengo e Vasco, há exatos 35 anos, ficou marcada para sempre. O motivo para tanta repercussão foi tecnológico: naquele jogo, ele entrou em campo com um equipamento com microfone sob o uniforme sem que os times soubessem. O caso virou uma grande polêmica e foi parar nos tribunais. O "Jornal do Brasil" manchetou: "Watergate no futebol".
A ideia foi dos jornalistas Fernando Guimarães e Luiz Antônio Nascimento, que fariam da iniciativa uma matéria no Esporte Espetacular, da Rede Globo. Wright diz que pensou durante dois dias antes de aceitar o convite.
"Eu aceitei para mostrar como é difícil o trabalho de um árbitro dentro de campo, e não com má intenção. Mas como isso aconteceu bem na final da Taça Guanabara, houve toda aquela repercussão e ganhou uma dimensão maior", relembra Wright.
Segundo ele, a ideia era ter usado o microfone quatro dias antes, na última rodada do campeonato, também em um Flamengo x Vasco. "Não deu certo porque a roupa que me deram era muito apertada e não dava para utilizar o microfone".
Como Flamengo e Vasco terminaram o primeiro turno empatados em pontos, foi realizado um jogo extra para definir o campeão da Taça Guanabara. A partida foi marcada para o dia 23 de setembro, uma quinta-feira, novamente no Maracanã. E aí Wright entrou em ação com o microfone.
O ex-árbitro conta que apenas quatro pessoas sabiam do assunto: ele, os dois jornalistas que tiveram a ideia e o técnico que instalou o equipamento no uniforme. Wright diz que agiu naturalmente e argumenta que não contou para nenhum dos times para que os jogadores não mudassem sua postura em campo.
No entanto, o resultado foi, no mínimo, muito polêmico. O Vasco, que perdeu o jogo por 1 a 0, denunciou Wright ao tribunal desportivo do Rio de Janeiro. O Flamengo quis processar a Globo pelos direitos de imagem dos mais de dez minutos da reportagem que foi ao ar no Esporte Espetacular sem sua anuência.
Wright acabou pegando 40 dias de suspensão, mas diz que não cumpriu a pena inteira porque conseguiu revertê-la na CBF. "O julgamento na federação carioca foi político, mas recorri na CBF e lá ganhei de 7 a 0, porque não havia nada na lei que impedia o uso do microfone. Nem fiquei os 40 dias suspenso", afirma o ex-árbitro.
Os jogadores, por sua vez, sentiram-se traídos. Roberto Dinamite, anos depois, falou em matéria da própria Globo que eles se sentiram "usados" e que a ideia foi "lamentável". Autor do gol flamenguista naquela vitória, Adílio opinou que Wright estava questionando muitas coisas, algo diferente do seu padrão. "Sentimos que tinha alguma coisa diferente".
Na época, o "Jornal do Brasil" apelidou o caso de "Watergate no futebol", em referência ao famoso escândalo políticos da década de 1970 nos Estados Unidos. Antes mesmo de a matéria do Esporte Espetacular ir ao ar, o Jornal Nacional adiantou do que se tratava. A repercussão foi mundial, e o caso acabou noticiado em diferentes países. Muito antes de ser aprovada como recurso da arbitragem no futebol, a tecnologia já deu o que falar.
Fonte: UOL