União entre torcidas e decisões emocionantes marcam confronto entre Vasco e Palmeiras
Amigos, amigos. Futebol à parte. Embora sejam os clubes de dois estados diferentes cujas torcidas têm o melhor relacionamento no país, palmeirenses e vascaínos costumam ser protagonistas de decisões emocionantes e de grandes jogos. Neste domingo, em Volta Redonda - já que o Vasco segue cumprindo a pena de seis mandos de campo por causa dos tumultos causados por sua torcida, após o clássico com o Flamengo, no dia 8 de julho - a expectativa é de uma partida muito disputada. Isso porque o Palmeiras, atual campeão brasileiro, quer comprovar que tem futebol para lutar pela vaga na Libertadores de 2018. Já o Vasco precisa vencer para reduzir o risco de amargar um trágico quarto rebaixamento para a Série B.
Desde 1924, quando o Palmeiras ainda era chamado de Palestra Itália (denominação que teria de alterar em 1942), estes dois times de São Paulo e do Rio se enfrentam. Ao longo de 125 confrontos, os palmeirenses têm ampla vantagem, com 56 triunfos contra 31 dos vascaínos e 38 empates. Mas quando se trata de finais de campeonato, a roda da sorte gira ao contrário. Em três decisões, os palmeirenses foram campeões do Rio-São Paulo de 2000 (vídeo acima), e o Vasco foi tricampeão brasileiro em 1997, com dois empates sem gols, por ter tido a melhor campanha. A partida mais dramática da história do clássico, porém, foi a decisão da Mercosul 2000 (no vídeo abaixo). Atuando na casa do adversário, o Vasco saiu de 3 a 0 contra no intervalo, para a virada histórica de 4 a 3, na conquista mais emocionante de sua história.
O curioso é que o relacionamento entre os adeptos dessas equipes é tão bom que não há brigas nem mesmo em partidas decisivas como essas. Por esse motivo, o confronto já foi até apelidado de "Clássico da Fraternidade".
Mas qual a razão de tal amizade? Alguns fatores podem ter contribuído para isso, como o fato de que ambos os clubes foram fundados por imigrantes: os portugueses no Rio, e os italianos em São Paulo. À medida em que as colônias não se sentem tão bem acolhidas no local para onde se mudaram, a tendência é que se tornem mais coesas internamente. Em São Paulo, os italianos, que lá eram chamados pejorativamente de "carcamanos", se integraram à classe operária local. No Rio, os portugueses, por vezes obrigados a ouvir gritos preconceituosos como "Mata galegos", foram encontrando seu nicho no pequeno comércio e convivendo com negros e suburbanos, outros grupos discriminados pela elite da então Capital Federal. Muitas e muitas vezes tanto italianos quanto portugueses chegavam ao Brasil em navios, apenas com a roupa do corpo.
Um fato histórico, porém, parece ligar em definitivo as duas coletividades. Quando o Brasil entrou em guerra com o Eixo (Alemanha, Itália e Japão) em 1942, todas as instituições que tivessem em seus nomes referências a algum desses países teriam de mudar suas denominações. Assim, o Germânia, de São Paulo, virou o atual Pinheiros, e o Palestra Itália de Belo Horizonte, Cruzeiro. Mas e o Palestra Itália de São Paulo? Este foi duramente perseguido por lá, porque a maioria de seus atletas tinha origem italiana, a ponto de serem chamados de fascistas e traidores. De acordo com alguns historiadores, o tricolor São Paulo, que ainda não era dono do Morumbi, estaria interessado no Parque Antarctica, caso o rival fechasse as portas. Inicialmente, o Palestra Itália passou a se chamar Palestra São Paulo, e depois, Palmeiras, em homenagem à Associação Atlética das Palmeiras, equipe alvinegra extinta no começo de 1930.
Naquele período crítico, chegava a São Paulo o desportista Adalberto Mendes, oficial do Exército. Transferido para a capital paulista, ele que era vascaíno e havia sido diretor no clube de São Januário, fez amizade com os palestrinos. Quando conselheiros do Palestra se reuniram a 14 de setembro de 1942, para decidir qual nome adotar e o que fazer antes do jogo do domingo seguinte com o São Paulo, Mendes disse que entraria no gramado do Pacaembu fardado e sugeriu que os jogadores carregassem uma bandeira brasileira, para provar que, embora ítalo-descendentes, eram brasileiros e não traidores da pátria, como vinham sendo acusados. Se a equipe vencesse, seria campeã paulista por antecipação. Do uniforme, até então era verde, branco e vermelho, o vermelho foi retirado e o clube passou a ser alviverde. Na partida, jogada a 20 de setembro de 1942, os alviverdes bateram os tricolores por 3 a 1, ergueram a taça, e o episódio ficou conhecido como "Arrancada Heróica".
Em 1951, um ano após a frustrante perda da Copa do Mundo para o Uruguai, no Maracanã, o mesmo estádio foi sede da Copa Rio, torneio considerado uma espécie de Mundial de Clubes. Na final entre Palmeiras e Juventus da Itália, a torcida do Vasco, eliminado na semifinal, apoiou o Alviverde para um time brasileiro levar o troféu, o que acabou acontecendo.
Ao longo das trajetórias desses clubes, algumas coincidências pontuam suas histórias.
Agosto é mês de aniversário dos dois. O Vasco vai completar 119 anos no dia 21, e o Palmeiras, 103 no dia 26. Em relação ao título do atual Brasileiro, o Alviverde ganhou em 1973, e o time de São Januário, em 1974. No caso da Libertadores, deu Vasco em 1998, e Palmeiras em 1999. Em 2011, os vascaínos ergueram a Copa do Brasil, e em 2012, foi a vez dos alviverdes, ambos em duelos com o Coritiba. Se houve sequências vitoriosas, também ocorreram outras desagradáveis. Em 1998, os vascaínos perderam o título intercontinental para o Real Madrid, e em 1999, os palmeirenses foram batidos pelo Manchester United. Em 2012, o Palmeiras caiu para a Série B, e no ano seguinte, o Vasco amargou igual destino.
Os paralelos entre estes gigantes não param por aí. Torcedores de ambos os clubes consideram que eles são as principais forças de oposição aos times da maioria em São Paulo e no Rio - Corinthians e Flamengo. Tanto alviverdes quantos vascaínos costumam se queixar de uma certa falta de visibilidade mesmo quando são campeões, e teriam se aproximado porque ambos se sentem excluídos pelas elites e jamais são vistos como "times da moda".
Outra característica do confronto é o fato de que, dentro de campo, vários atletas fizeram sucesso com ambas as camisas, como Jair Rosa Pinto, Friaça, Vavá, Leão, Edmundo, Luizão, Edilson, Evair, Euller, Juninho Paulista, Diego Souza, Pedrinho, Alan Kardec, Alecsandro e Fernando Prass. Mais recentemente, Luan, zagueiro criado na base em São Januário, foi negociado para o Alviverde.
Fonte: Blog Memória EC - GloboEsporte.com