Relatórios de jogos em São Januário minimizaram conflitos na torcida
Terça-feira, 11/07/2017 - 15:39
Relatórios da CBF sobre jogos em São Januário anteriores à confusão no clássico mimizaram os problemas no estádio apesar de brigas recentes. O documento sobre o clássico também é incompleto, ignorando vários episódios. Esses documentos foram produzidos pelo diretor de competições da Ferj, Marcelo Viana. Ele afirmou não ter visto problemas de segurança no local antes do clássico e disse ter relatado incidentes em jogos anteriores.
Não houve nenhuma restrição da confederação ao clássico com o Flamengo no local escolhido pela diretoria vascaína. Pelo Estatuto do Torcedor, o Vasco é o responsável por garantir a segurança de jogos em que é mandante.
Já a CBF marca os jogos da competição, responde solidariamente por danos ao torcedor e é a responsável pelo plano de segurança da competição. Trata-se de um documento genérico de 16 páginas sem instruções específicas. O plano de ação fica por conta da Ferj, feito em reunião com autoridades de segurança.
Questionado, por meio de assessoria, Marcelo Viana, da federação, afirmou não ter visto problemas de segurança no estádio: ''Não encontrei. Diversas partidas foram realizadas de várias competições em São Januário sem verificação de ocorrências. Compete ao delegado as observações se o clube está cumprindo as normas dos regulamentos das competições e do estatuto do torcedor.''
Pois bem, a CBF institui relatórios de todos os jogos em 2017 para avaliar as condições dos estádios. No caso de São Januário, todos os documentos foram produzidos por Marcelo Viana. Nesses, ele minimizou brigas anteriores.
Diante do Corinthians, houve tumultos por confronto entre torcedores que protestavam contra o presidente vascaíno, Eurico Miranda, e seus apoiadores, sejam seguranças ou outros torcedores. O confronto foi generalizado como mostram os vídeos. ''Após a partida, houve início tumulto na arquibancada onde estava localizada a torcida do clube mandante (curva da arquibancada) que foi rapidamente contornado pela Polícia Militar'', relatou Viana.
Depois, na partida contra o Avaí, houve um apagão e novos protestos contra Eurico Miranda, seguidos de agressões. Houve tiros de balas de borracha e até a necessidade de divisão no meio da torcida para evitar mais briga.
Mas Viana atribuiu o problema à política do clube e disse que a PM manteve a ordem: ''Durante a paralisação da partida grupos políticos de segmentos contrários protestaram no anel da arquibancada. A Polícia Militar realizou intervenção, mantendo a ordem e organização no interno do estádio. Com o reinício da partida, tudo transcorreu sem incidentes até o encerramento. Não havendo registro de nenhuma anormalidade.''
Pela assessoria, Viana afirmou ter relatado o que viu e que a CBF recebeu as informações: ''Nos jogos citados contra Corinthians e Avaí, ocorreram situações na arquibancada, assinaladas na súmula do jogo e também no relatório. Isso ficou (e está) à disposição das autoridades desportivas e da entidade organizadora do campeonato para avaliação dos fatos.''
Não foi relatado nenhum problema nas instalações de imprensa do estádio. Quase todos os itens do estádio foram marcados como ok nos documentos.
Agora, após a confusão, a decisão do STJD determinou falha estrutural do estádio: ''O Vice-Presidente (Paulo César Salomão Filho) destacou ainda uma falha gritante na infraestrutura do estádio devido ausência de barreira para obstruir a passagem de torcedores ao local destinado aos profissionais de imprensa que impeça o contato entre os mesmos e as cabines de rádio e televisão'', diz a nota do STJD. Jornalistas foram atacados por torcedores dentro da cabine.
Segundo Viana, não cabe ao delegado verificar falhas estruturas, o que deveria ser feito pela comissão nacional de estádios da CBF. Sem verificar nenhum problema em São Januário, a CBF aprovou a realização do clássico contra o Flamengo no local.
E, após a briga generalizada, bombas e uma morte do lado externo, impediu torcedores de irem ao estádio nos próximos jogos. Seu presidente Marco Polo Del Nero defendeu à ''Folha de S. Paulo'' uma punição por dez anos para os torcedores.
O relatório sobre o jogo entre Flamengo e Vasco, também de Viana, é mais completo, mas, de novo, ignorou alguns dos graves acontecimentos. Ele não cita o fato de jornalistas terem sido ameaçados por torcedores de agressão dentro da cabine, nem que os jogadores do Flamengo e arbitragem tiveram que sair correndo para deixar o campo sob bombas da torcida do Vasco. Também não mencionou que o gás de pimenta afetou os atletas.
''Após término da partida, na proporção de estádio destinado à torcida mandante.Houve confronto entre torcedores, com intervenção da polícia, diversas bombas entre outros objetos foram atirados para dentro de campo, impossibilitando a saída para o vestiário da equipe de arbitragem e jogadores da equipe visitante, ocasionando intensa correria no anel da arquibancada. Após a intervenção da polícia militar, com a utilização de bombas de efeito moral e gás de pimenta, todos puderam deixar o campo de jogo. após chegada ao vestiário, não foram produzidos fatos, ruídos ou ameaças nas proximidades do vestiário.''
''A responsabilidade é de quem é o mandante do jogo e de quem organiza a competição. Entendo que responde juntamente com o clube. Um torcedor que sofrer prejuízo pode demandar o clube e a CBF'', explicou o advogado Carlos Eduardo Ambiel. ''O fato de haver brigas não signitiva que houve omissão. Às vezes pode-se se tomar todas as providências e haver conflito. Isso tem que ser apurado.''
O blog fez perguntas para a confederação sobre os relatórios sobre São Januário, e sobre os planos de segurança do Brasileiro. A CBF informou que ''o plano de ação de cada partida é elaborado pela Federação estadual mandante da partida junto com as autoridades de segurança. A Ferj elaborou, como sempre faz, o plano de ação da referida partida.''
Fonte: Blog do Rodrigo Mattos - UOL