A confusão em São Januário no último sábado não foi a primeira, mas uma sequência de incidentes que vêm ocorrendo no estádio desde o início do Campeonato Brasileiro. Episódios similares, mas em menor escala, ocorreram nas partidas contra Corinthians e Avaí, numa cronologia que tem sempre os mesmos ingredientes: política, polícia e exaltação nas arquibancadas.
O clima político se explica pela aproximação das eleições para presidente no Vasco, previstas para novembro de 2017. Desde o fim do ano passado, grupos de oposição se articulam. Três chapas contra Eurico Miranda foram lançadas. Membros da situação acreditam que muitos dos protestos são financiados pelos opositores. Estes se defendem e argumentam que as críticas são em número muito maior.
Com a polícia, o clube também tem divergências. O Gepe acusa o Vasco de empregar como seguranças antigos membros de torcidas organizadas. O clube reclamou da revista feita pela PM no clássico contra o Flamengo - muitas bombas foram atiradas no campo. Muitos torcedores também se queixaram da reação dos policiais, considerada exagerada.
Confira os episódios:
Vasco 2 x 5 Corinthians
Data: 08/06/2017
O que houve: xingamentos contra Eurico Miranda no setor social do estádio levaram a embates entre seguranças, stewards e sócios - e convidados - do clube. Na arquibancada, também houve briga entre torcedores, e a polícia usou gás de pimenta.
Confira confusão na torcida do Vasco após derrota para o Corinthians em São Januário
Saldo: ao menos duas pessoas foram agredidas, segundo relatos – uma delas deu entrada no hospital, sem maiores consequências. Um homem foi detido pela polícia, mas liberado após assinar termo circunstanciado.
O que o clube disse: Com a confusão entre pessoas que estavam nas sociais, seguranças do clube foram obrigados a intervir para retirar dali os que ofendiam, já que o tumulto ameaçava se estender. (...) Imagens divulgadas nas redes sociais são editadas para que exista apenas uma versão. Nos vídeos divulgados até agora não há imagens de agressão dos seguranças, mas sim a tentativa de retirar os que iniciaram os xingamentos. Entre os que ofenderam estão integrantes da equipe de futebol americano Vasco Patriotas, que usaram a força física que possuem.
Consequências: o time de futebol americano e o clube romperam relações e encerraram a parceria. Nos jogos seguinte, o Vasco limitou o acesso à social apenas a sócios, sem a possibilidade de se levar convidados. O clube foi denunciado pelo STJD pela confusão, mas acabou absolvido em primeira instância. O caso agora será julgado pelo Pleno nesta quinta-feira.
Vasco 1 x 0 Sport
Data: 10/06/2017
O que houve: mesmo com a vitória, boa parte da torcida na arquibancada protestou contra Eurico Miranda ao fim da partida. Desta vez, não houve reação nem brigas entre torcedores.
Vasco 1 x 0 Avaí
Data: 17/06/2017
O que houve: após um apagão em São Januário, torcedores começaram a protestar contra Eurico Miranda, o que gerou confronto com aqueles favoráveis ao presidente. Houve brigas e correria. Um clarão logo foi aberto nas arquibancadas. Com medo do tumulto, alguns pais levantaram crianças nos braços e as entregaram para pessoas que estavam nos camarotes.
A Polícia Militar entrou em ação e chegou a disparar alguns tiros de bala de borracha para dispersar os torcedores que brigavam. Por causa da abordagem, parte da torcida também entoou gritos contra a PM.
Saldo: um torcedor chegou a ser levado para o Juizado Especial Criminal (Jecrim) de São Januário por causa do tumulto, mas foi liberado logo em seguida. Outro machucou o pé na confusão, foi atendido pelo departamento médico do clube e passa bem. Houve apenas uma pessoa detida, mas não em razão da confusão, mas por porte de entorpecentes (maconha). O delegado da partida converteu a detenção em multa de R$ 300,00.
O que o clube disse: Eurico afirmou em coletiva dois dias após a partida que há uma campanha no sentido de desestabilizar não a direção do Vasco, não a mim pessoalmente, porque eu tenho muita base para desestabilizar. Mas é para desestabilizar algo que é que a gente faz tudo para evitar que aconteça, que é desestabilizar o futebol. Com todas as dificuldades que nós encontramos, nós estamos desenvolvendo alguma coisa, e um trabalho que tem dado, até o momento, está dando os resultados que esperávamos."
"Agora, a gente vê claramente uma campanha de desestabilização, e onde essa campanha de desestabilização? Quero que alguém, em sã consciência, possa analisar e chegar, por exemplo, o que justifica você ter, ao início de uma partida de futebol, tinha 10 ou 15 minutos de jogo quando aconteceu o apagão, e vir aquela manifestação do Fora, Eurico.
"Qualquer pessoa em sã consciência olha para aquilo e vê que é uma coisa dirigida. É dirigida para atingir diretamente, o torcedor ali na massa é conduzido. Não tem nada a ver com ano eleitoral, tem uma coisa dirigida e clara. Está tendo por parte da mídia uma cobertura que é absurda. Qual é a vantagem que traz?.
Vasco 1 x 0 Atlético-GO
Data: 25/06/2017
O que houve: no fim do jogo, torcedores voltaram a gritar palavras de ordem contra Eurico Miranda, pedindo a saída do presidente. Novamente, não houve maiores incidentes. Este foi o dia de maior público do Vasco em São Januário: 20.658 presentes.
O que o clube disse: antes da partida, Eurico convocou entrevista coletiva para convocar famílias à partida, realizada às 11h de um domingo. Ele garantiu a segurança no estádio. De fato, não houve maiores problemas:
É um jogo de manhã, gostaria de ver muitas famílias aqui. Eles saberem primeiro que venham para um jogo com absoluta segurança, tranquilidade. Como a gente demonstrou, provou, tomamos todas as providências relativas à segurança do jogo, em termos, principalmente, de prevenção e também de repressão. O que peço é que, na verdade, o torcedor que aqui compareça, e ele pode vir, ele não aceite provocações. Apesar de tudo, de saber que se fazem provocações, no sentido de desestabilizar o futebol, sob pretexto de que estamos num período eleitoral, o que não é verdadeiro.
Vasco 0 x 1 Flamengo
Data: 08/07/2017
O que houve: ao longo da partida, pequenos incidentes ocorreram entre torcedores do Vasco. No fim do jogo, foram atirados copos e bombas no gramado. Houve tentativa de invasão do campo. A polícia repeliu com bombas de efeito moral na arquibancada e gás de pimenta. A confusão se estendeu para o entorno de São Januário, onde aconteceram novos embates entre policiais e torcedores.
Saldo: um torcedor morreu, após ser baleado no tórax durante confronto na rua. Três torcedores ficaram feridos, mas foram liberados.
O que o clube disse: em entrevista coletiva, Eurico pediu desculpas e atribuiu o ocorrido a grupos políticos de oposição: Isso foi premeditado. Isso não é torcida organizada. É grupo político. Normalmente essas coisas são financiadas por alguém. Só visa a desestabilizar o futebol. Com o futebol indo mal, aí eles podem começar a aparecer. Não estou aqui querendo preparar algo, nem estou preocupado com as consequências, mas uma coisa tem que ficar claro. É um estádio seguro com todas as condições para sediar uma partida de futebol. Pessoalmente fiz um esforço muito grande. Os que têm interesse em tumultuar acabam contribuindo para esse tipo de coisa.
O que a polícia disse: o major Hilmar Falhauber, comandante interino do Gepe, explicou: A situação tem de ser mais bem cuidada pela diretoria, que tem de tomar alguns cuidados com relação a São Januário. Parte de organização, de segurança... Hoje, por exemplo, é notório, a gente que trabalha no Gepe consegue ver, alguns torcedores que eram membros de organizadas trabalhando no estádio. Isso pode dificultar a segurança. São vários fatores que precisam ser bem observados para que esse tipo de coisa não ocorra dentro do estádio.
Consequências: o STJD prepara até terça-feira uma denúncia ao Vasco, que deve ser julgado e pode perder até 10 mandos de campo. O Ministério Público do Rio de Janeiro vai pedir a interdição de São Januário.
Fonte: GloboEsporte.com