Euller fala sobre sua passagem vitoriosa pelo Vasco e lamenta ter ficado de fora da Copa de 2002
Quarta-feira, 05/07/2017 - 06:33
Quando chegou a um clube de bairro de Belo Horizonte, aos 16 anos, Euller não sabia o que lhe esperava. Pouco tempo depois, o Brasil conheceria o “Filho do Vento”. Apontado por Romário como um de seus principais companheiros dentro das quatro linhas e responsável direto por boa parte dos mais de mil gols do camisa 11, não esconde toda gratidão que guarda do “pai Telê Santana” de quem se lembra com muito carinho.

Nem o título da Libertadores com o Palmeiras, nem a histórica virada da Mercosul com o Vasco - que admite não ter acreditado na possibilidade. O que não sai da cabeça de Euller é a última imagem que tem do amigo Serginho, “em uma maca de hospital”. Após encerrar a carreira, ele divide seu tempo entre os estudos para ser técnico e a família, principalmente a filha: “A morte dele me fez pensar no que realmente é importante”.

CHEGADA DO AMÉRICA-MG

Depois que eu fiz teste no Cruzeiro, Atlético e América e não passei, eu fui para o Venda Nova, que é um clube de bairro de Belo Horizonte. Eu fiquei um ano lá, quando o América se interessou na contratação de cinco atletas deles.

Em função da situação que o Venda Nova passava, com dificuldades para manter as categorias de base, o América deu bolas, chuteiras, meiões, travesseiros e camas em troca desses cinco jogadores, e eu estava entre eles.

TÍTULO E REVELAÇÃO

Estava realizando o sonho de todo garoto. Se tornar um jogador profissional, assinar um bom contrato, ajudar em casa… A oportunidade de ser campeão pelo clube que te projetou, depois de tanto tempo que o América não conquistava um título… De quebra ainda ser eleito a revelação do Campeonato… Foi uma felicidade enorme.

ENCERRAR A CARREIRA NO AMÉRICA

Esse era meu plano. Encerrar no América. Em 2006 me apresentaram um projeto que tinha como objetivo o retorno à elite do futebol. Eu aceitei esse desafio. Não foi fácil, tivemos muitas dificuldades, inclusive na segunda divisão do Mineiro. Mas tudo deu certo! Quando nós chegamos na série A eu anunciei minha aposentadoria. Aproveitei a reinauguração do estádio Independência para fazer a despedida.

FILHO DO VENTO

O reconhecimento é nacional. Onde eu vou as pessoas me chamam pelo apelido. Se tornou uma marca registrada. Hoje tenho escolinhas e um projeto social com esse nome.

Ele surgiu quando eu ainda defendia o América, em um jogo no Independência. Eu fiz um gol aproveitando minha velocidade, e o narrador Milton Naves da Rádio Itatiaia me chamou de The Flash, mas como já tinha o Valdeir no Botafogo, ele passou a dizer que eu era “Euller, o Filho do Vento”

TELÊ SANTANA

O Telê não foi só um técnico, foi um pai. Ele mudou minha posição e a minha maneira de pensar dentro do campo. Ele sempre dizia que iriam acabar com os pontas, que o Brasil estava mudando o jeito de atuar. Muitas vezes fomos só nós dois para o campo, ele realmente queria me ajudar. Tudo que ele me disse, busquei colocar em prática.

MORTE SERGINHO

Estávamos momentos antes com ele na concentração, no vestiário… batendo papo, alegre. É uma tristeza muito grande. Faz a gente pensar se estamos dando valor no que realmente é importante.

Infelizmente a morte dele foi necessária para mudar toda a parte de exames médicos em jogadores no Brasil. Desde a base, até o profissional, todos foram para clínicas fazer os exames que são fundamentais.

LIBERTADORES PELO PALMEIRAS

Quando eu cheguei no Palmeiras, o desejo de todos era a Libertadores. Tudo era em função da Libertadores. Nem era do Mundial, muito mais da Libertadores.

Eu estava machucado em 98, com uma lesão grave no joelho. O Felipão me chamou e disse que contava comigo. Eu ainda tive uma outra lesão, passei por cirurgia no menisco e mesmo assim permaneci na lista da Libertadores. Esse carinho que o Felipão teve foi muito importante e eu quis retribuir no campo.

MERCOSUL 2000

Aquele time jogava por música! Mas quando sofremos 3 a 0 para o Palmeiras, entramos no vestiário de cabeça baixa, com vergonha mesmo. O Joel Santana, que tinha acabado de chegar, tentou mostrar que nós tínhamos condições. Mas sendo sincero, não de ganhar aquele jogo. Isso nem passava na nossa cabeça. A questão é que a vergonha poderia ser maior ainda.

Houve uma mudança de postura. Todos os jogadores deixaram o ego no vestiário e voltamos a mostrar tudo o que jogamos naquele ano.

VIRADA E JUNINHO PAULISTA

A gente só percebeu que poderia virar depois do segundo gol. Porque um pouco depois que fizemos o primeiro, o Júnior Baiano foi expulso. Aquilo poderia ter sido um banho de água fria, mas não foi.

O Juninho Paulista foi perfeito naquele segundo tempo. Pra mim ele foi o melhor jogador da partida.

QUEDA DO ALAMBRADO EM SÃO JANÚARIO

Daquele jogo em São Januário fica uma tristeza muito grande pelo que aconteceu.

Tiveram momentos de tensão, mas depois que tudo foi resolvido, não sei porque o juiz encerrou o jogo... Não foi pelo que aconteceu na arquibancada, não foi esse o motivo. A situação já tinha sido contornada. Aquilo foi lamentável, mas nós já estávamos prontos para recomeçar a partida.

FINAL NO MARACANÃ

Depois do episódio em São Januário, o Eurico deu férias para a gente. Se imaginava que tudo seria resolvido juridicamente. Disputamos a final em um Maracanã que não tinha condição nenhuma de receber uma partida. Nós jogamos sobre terra.

TROCA DE OSWALDO POR JOEL ÀS VÉSPERAS DAS DECISÕES

Aquela troca foi assustadora. Nem os jogadores entenderam. Muda uma filosofia, o grupo estava fechado com o Oswaldo. Você começa a tirar o foco de uma final. Felizmente houve muito bom senso na escolha do Joel Santana. Ele foi um paizão. É um estilo que todo jogador gosta. Mas se fosse outro nome, poderia ser um tiro no pé.

PARCERIA COM ROMÁRIO

Quando eu saí do Palmeiras e fui para o Vasco, meu objetivo era dar assistências ao Romário. Era fazer do Romário o artilheiro do ano. E isso aconteceu. Em 2001 ninguém fez mais gols que ele no mundo. Fui sem vaidade, sabia que minhas características iriam casar com as dele.

COPA DO MUNDO DE 2002

Fiquei muito decepcionado. Chorei muito. Eu esperava muito aquela convocação. O sonho de todo jogador é disputar uma Copa do Mundo. Foi a única coisa que faltou na minha carreira. Eu estava até o último jogo. Cheguei a fazer os exames médicos, até medida de terno tiraram… Mas hoje eu já superei, não guardo mágoa nenhuma. Tenho o Felipão como um grande amigo. Serviu de aprendizado pra muita coisa na minha vida.

FLUMINENSE

Quando voltei para o Brasil, tinha tudo acertado com o Fluminense. Foi um pedido do Romário. A apresentação já estava marcada e eu assinaria o contrato no mesmo dia. Mas os médicos do clube disseram que eu estava com uma lesão e não conseguiria recuperar rápido. Com esse diagnóstico eles desistiram da contratação. Depois disso eu acertei com o São Caetano e não demorei para estrear.

FAMÍLIA

Depois que parei de jogar, minha prioridade é minha família. Meu projeto maior é com a minha filha, que faz ginástica rítmica. O nome dela é Eduarda Carvalho, Duda no meio esportivo. Ela conquistou uma medalha de prata no Mundial desse ano e está buscando o índice olímpico No Brasil ninguém dá apoio ao sonho de um atleta. Creio que vamos passar uma grande vergonha nas próximas Olimpíadas, em Tóquio.

CURSO DE TÉCNICO

Hoje eu estou me preparando para me tornar técnico. Esse é o meu sonho hoje. Mas claro que eu quero ter uma passagem como auxiliar, para que eu tenha uma experiência. Terminei agora um curso na CBF.

Fiz um estágio com o Felipão, no Palmeiras, e um no Espanyol. Vou fazer no América-MG e tenho vontade de passar um tempo com o Luxemburgo. Minha ideia é que em 2018 esteja preparado para essa nova etapa.

Não tenho sonho de treinar nenhuma equipe em específico. Mas se conseguisse fazer a mesma trajetória que fiz nos clubes, seria muito legal!



Fonte: Fox Sports (texto), Reprodução Internet (foto)