Alexandre Campello conhece São Januário de cor e salteado. Em 1985, o médico virou funcionário do clube e ,33 anos depois, sonha em ser presidente. Candidato da Frente Vasco Livre, chama para si o movimento de união da oposição, bandeira defendida também por Julio Brant e Otto de Carvalho Júnior. Adversário de Eurico Miranda, acusa o presidente de estar por trás das brigas entre torcedores na arquibancada da Colina.
Por que encarar o desafio de ser presidente do Vasco?
Em primeiro lugar, a paixão pelo clube. Obviamente, se o Vasco estivesse passando por um momento vitorioso, com uma administração eficaz, talvez eu não me motivasse a isso. Porém, diante da fase terrível que temos vivenciado nos últimos anos, e motivado por diversos grupos que tiveram a necessidade de ter alguém que liderasse uma transformação, eu aceitei ser candidato à presidência.
E como foi isso?
Depois que o Eurico foi eleito em 2014, vários grupos políticos surgiram. Em alguns, houve o entendimento que Roberto Monteiro e Julio Brant (derrotados no último pleito) estavam desgastados, que era preciso renovar, alguém que conheça o clube, mas que traga modernidade. Chegaram ao meu nome e só aceitei com a condição de ser levado a outros grupos. Nós iniciamos o processo de unificação da oposição. No anúncio da campanha, éramos cinco grupos na mesa.
Você acredita em uma candidatura única da oposição?
Buscamos um candidato único. As pessoas precisam se despir das vaidades, sair do projeto pessoal e abraçar o projeto para o clube. Hoje somos formados por seis grupos e ainda teremos reuniões para nos apresentar para outros grupos que não estão conosco. Não podemos esperar.
É a favor de uma pesquisa de opinião para definir o candidato da oposição?
Temos que entender qual candidato tem mais chance, tem mais condição de tocar o Vasco. Quanto à pesquisa, é complicado. Não sabemos direito quem é o sócio votante, qual o seu perfil. É complicado montar a pesquisa assim. Temos muita influência de mídia, redes sociais, que não necessariamente traduz a vontade do associado. Essa questão precisa ser analisada e essa pesquisa não pode beneficiar A ou B.
Pretende conversar com o dr. Clóvis Munhoz, com quem trabalhou no clube, para trazer o grupo Vasco Med?
Ainda não conversei com o Clóvis, mas vamos conversar, se ele estiver disposto. O fato de ter a mesma profissão não faz com que a gente pense igual e tenha o mesmo objetivo. As pessoas falam em unificar a oposição, mas tendem a ser excludentes. Não se sentam com fulano ou ciclano. Se alguém esteve do lado de Dinamite ou Eurico em algum momento, não quer dizer que não queria o bem do Vasco.
É possível derrotar Eurico sem a oposição unida?
Com apenas um candidato contra ele, é mais fácil. Precisamos de eleições limpas e sem violência. Se tivermos isso, vai ficar evidente a insatisfação com a diretoria. Ela insiste em colocar a culpa dos protestos na oposição, mas não temos dinheiro para pagar 10 mil pessoas no estádio contra o presidente. Nem para pagar os botafoguenses, que gritaram Fica Eurico no último jogo. Fomos chacota. O vascaíno é inteligente. É possível vencermos mesmo com mais de um candidato da oposição.
Aceitaria se unir ao Julio Brant e ao Otto de Carvalho?
Não podemos ser excludentes. O que temos de analisar é a forma como isso pode ser feito. A base do Julio Brant na eleição de 2014, por exemplo, a Cruzada e a Vira Vasco, está conosco agora e tem certa rejeição ao nome dele. Então não é a vontade do Campello que vai prevalecer, tem que ser sempre o desejo da maioria.
Você se sente ameaçado quando faz política na social em dia de jogo?
O cerceamento existe. Hoje é proibido manifestação contrária na social. Se fizer, te tiram. Vemos a movimentação dos seguranças, eles ficam em grupo, te olhando. Essa coisa velada tem acontecido sempre, mas não vai nos intimidar. Sabemos que há pessoas infiltradas na torcida, alinhadas à direção, que causam as brigas na arquibancada. Uma torcida como a Guerreiros do Almirante, que não aceita ingressos do clube, foi concretamente ameaçada, sabemos disso, mas eles têm receio de tornar público. Você acha que uma torcida deixaria de ir ao estádio para ver seu time por motivo político?
Fonte: O Globo