Otto Carvalho fala sobre candidatura à presidência e rompimento com Eurico
Terça-feira, 13/06/2017 - 12:56
A eleição do Vasco é apenas em novembro, mas o turbilhão eleitoral começa a se formar em São Januário. Um dos movimentos que chamaram atenção foi o rompimento do presidente do Conselho Fiscal, Otto Alves de Carvalho Júnior, com Eurico Miranda, mandatário do clube. Otto se lançou candidato a presidente na eleição que será realizada em novembro e é um exemplo de antigo aliado que deixou a atual gestão – Paulo Reis, vice-presidente jurídico, entregou o cargo, mas por motivos pessoais.

E qual seria o motivo de Otto? Até então, ele era um dos homens mais próximos de Eurico. Chegou a acompanhar o elenco em algumas viagens para jogos fora do Rio de Janeiro em 2016 e 2017. Para ele, o atual presidente deixou de cumprir promessas, especialmente no que concerne à transparência da gestão.

- A principal medida minha é a preocupação com a instituição Vasco da Gama. Entendo que a instituição vive um momento difícil financeiro. Temos muitas dificuldades. O Vasco vai ter problemas em curtíssimo prazo, no médio prazo, no longo prazo. Vejo a reeleição de Eurico, com uma gestão nestes moldes, como algo complicado. Quando ele voltou, eu também achava que ele seria o melhor candidato. Só que ele vendeu um discurso de mudança de posicionamento, como dar mais abertura às pessoas, de questão de transparência, de um acompanhamento melhor da auditoria. Neste triênio, só julgamos uma conta, de 2015. Ele prometeu ao Conselho Deliberativo publicar balancetes trimestrais no site. Não foi feito.

Nesta entrevista, o presidente do Conselho Fiscal revelou que o trabalho de fiscalizar as contas do clube ainda se encontra em junho de 2016 – pelo estatuto, a votação dos números do ano passado deveria ter sido feita até o fim de março. Articulando-se politicamente, conversou com antigos aliados de Eurico, como José Luís Moreira (ex-vice-presidente de futebol) e Fernando Horta (vice-geral), além de nomes da oposição. Nesta terça-feira, ele é esperado numa reunião organizada por beneméritos para tentar unir as chapas oposicionistas - Alexandre Campello e Julio Brant também são aguardados. Confira:

GloboEsporte.com: Por que você decidiu romper politicamente com Eurico Miranda?

Otto Carvalho: A principal medida minha é a preocupação com a instituição Vasco da Gama. Entendo que a instituição vive um momento difícil financeiro. Temos muitas dificuldades. O Vasco vai ter problema em curtíssimo prazo, no médio prazo, no longo prazo. Vejo na reeleição de Eurico, com uma gestão nestes moldes, como algo complicado. Quando ele voltou, eu também achava que ele seria o melhor candidato. Só que ele vendeu um discurso de mudança de posicionamento, como dar mais abertura às pessoas, de questão de transparência, de um acompanhamento melhor da auditoria. Neste triênio, só julgamos uma conta, de 2015. Ele prometeu ao Conselho Deliberativo publicar balancetes trimestrais no site. Não foi feito. Auditoria da Ernest & Young, qual foi o efeito prático? Não sabemos nada ainda. Os caras dizem que não têm documento.

Vocês, do Conselho Fiscal, cobraram estes documentos?

Diego (Carvalho, representante da oposição no conselho - Rafael Landa completa o trio) sempre protocolou coisas no Vasco. Com Eurico e o vice de finanças (Marcos Pereira de Carvalho), a gente sempre conversava muito. Eu participava das reuniões de diretoria como convidado, e isso foi uma coisa boa que o presidente fez. Isso sempre foi falado. O que tentaríamos fazer de 2015 para 2016? Uma transparência melhor, uma empresa de auditoria mais confiável no balanço. Tudo foi prometido. Agora em abril foi lançado o balanço. Não precisa ser muito... É só ler exatamente os comentários da auditoria. A gente que está próximo sabe que não houve a devida preocupação. Isso é um somatório de coisas na minha área. Estamos num ano de eleição, e temos que pensar no destino da instituição. Tenho responsabilidade. Vejo coisas que não concordo e tenho que tomar uma posição. A minha posição não é contra a pessoa, contra ninguém. Eurico tem 40 anos de serviço ao Vasco. Errou, acertou. Não tenho nada contra a pessoa, é o modo da gestão do Vasco que está sendo feita.

A publicação do balanço foi a gota d’água para sua saída?

Com certeza. Porque obrigatoriamente o Vasco tem que publicar o balanço em abril. A forma da publicação foi a principal coisa. Teria que ser completamente diferente, até pela promessa dele. Imagine se tivéssemos trimestralmente colocado as contas do Vasco em portais de internet. Todos os clubes falam percentual de jogador, e no Vasco não se faz. Não se faz por quê?

Eurico tem modelo de gestão antigo. Eurico acha que pode gerir o Vasco como pensava em 1990 e pouco. O mundo mudou.

O Conselho Fiscal teve acesso ao balanço antes?

Tivemos conhecimento no dia da publicação. Como a gente ainda está analisando contas de 2016, estatutariamente, estamos fora do prazo. Pelo estatuto, precisávamos votar as contas de 2016 em março. Se viesse tudo bonitinho, conseguiria votar em março. Como esse acompanhamento não é feito. Que seja por falta de modernidade, as coisas têm que mudar. Têm que ser mais ágeis e integradas entre departamentos. Estamos exatamente em junho de 2016. Praticamente um ano de atraso.

Há dificuldade para ter acesso aos documentos?

Não é dificuldade de entregar o documento. É porque as coisas passam pelo vice de finanças, que tem que assinar, o presidente tem que assinar, e depois vem para o Conselho Fiscal. Um mês do Vasco são cinco caixas de documentos, cada caixa deve ter em torno de 600, 700 documentos. É um acúmulo de documento muito grande que se tem que analisar. Talvez seja a forma como é gerido.

O Vasco corre risco de ser punido?

Sim, pela lei do Profut. Tem algumas situações que o Vasco tem que cumprir. Nós teríamos que estar mais adequados ao novo mundo. O Vasco tem que ter transparência das suas contas, o que não é realizado. O momento é em cima disso. Situações na minha área, e outras, que, pelo meu cargo e minha história no Vasco, tenho que ter posicionamento.

Quando você acha que será possível votar as contas?

Ano passado nós votamos as contas de 2015 em setembro. Bem atrasado e fora do prazo estatutário. Estatutariamente sou obrigado a ter uma reunião por semana. Como vejo esse atraso, estou convocando o Conselho Fiscal duas vezes por semana, para poder receber a documentação e não atrasar pelo conselho. Acredito que até setembro dê para votar. Agora, garantir isso... O conselho depende de a documentação ser enviada.

Acredita que as contas serão aprovadas?

Não poderia falar porque ainda estou analisando junho de 2016. O Conselho Fiscal recomenda ou não a aprovação. A decisão de aprovar as contas é exclusiva do Conselho Deliberativo. Vamos para o conselho. Se o parecer for contrário, vamos dizer o porquê. Conselho é que vai decidir.

Ano passado, como foi?

O parecer do Conselho Fiscal foi 2 a 1 recomendando a aprovação das contas. No Conselho Deliberativo foi aprovado por maioria.

Por que?

Eu tenho que entender a dificuldade que o clube atravessava. Não se pode fechar os olhos. Uma gestão que assume o clube com R$ 14 milhões de dívida tributária e todas as dificuldades que teve. Eu tenho entendimento que o Conselho Fiscal tem que ser atento a todos esses detalhes. Como posso exigir de uma diretoria que pegue o Vasco com três meses de salários atrasados e tributos em atraso? Dentro da minha ótica, realmente, não teve problema. O Vasco administrativamente foi entregue muito complicado. Mas não podemos ficar o tempo todo dizendo que foi complicado. Tem que olhar para frente.



Como foi a conversa com o Eurico para avisá-lo que você iria se lançar candidato?

Não foi tensa, porque eu estava muito seguro daquilo que queria. Obviamente uma pessoa que toma uma decisão dessa tem que falar algumas coisas que acha para ele, e ele não concorda. Digo que vou ser candidato, ele me pergunta se acho que tenho condição de derrotá-lo. Ele me fala: “Se você se posicionar, eu obrigatoriamente vou reafirmar que sou candidato”. Até agora não falou. Falou em novembro, mas não sei se ele vai ser candidato. Até agora não reafirmou essa candidatura. Respeito os outros candidatos. A conversa com ele, obviamente, não foi das mais agradáveis. Em outro momento ele realmente tentou me convencer de que eu teria que renunciar ao cargo, e deixei claramente que isso não poderia acontecer. Para mim, vou conviver normalmente como sempre convivi. Sempre respeitei as divergências.

O site "Uol" publicou que seu rompimento poderia estar ligado à insatisfação de aliados do Eurico com o Euriquinho (Eurico Brandão, filho do presidente e atual vice-presidente de futebol).

O trabalho do Euriquinho está sendo feito. Ele agora é de fato e de direito o responsável pelo departamento de futebol. Vamos ver. Fui um dos primeiros a falar para o presidente nomear o filho. Ele dizia que ele era os olhos dele no futebol. O presidente acha realmente que o filho dele é o mais competente. Por história no futebol e tudo. Respeito. O trabalho dele vai ser avaliado agora. O Eurico é o Eurico, o Euriquinho é o Euriquinho. Ele está fazendo a história dele. Ele tem o nome do pai dele, mas a história cada um tem que fazer. Ele já é benemérito, mas a história dele no Vasco está começando.

Mas há essa rejeição a ele?

Na frente, todo mundo diz que é bom. Mas nos corredores a conversa é diferente.

Como está a condição financeira do Vasco hoje?

Péssima. Hoje, existe um atraso, talvez até o fim do ano tenha mais dificuldade. A não ser que possa ter um patrocínio.

E ano passado, como o Vasco se manteve?

Basicamente com as luvas sobre o contrato futuro de televisão. Foram R$ 60 milhões de luvas. Vai conseguir mais luva agora? Pelo que eu sei, não tem. Hoje, com a folha que a gente tem, e sem receita expressiva para entrar, daqui até o final do ano se tem muitas dificuldades. Com certeza.

Como está o trabalho de auditoria externa anunciado em 2015?

Aquela auditoria que o presidente anunciou, simplesmente começou o trabalho mas até agora não teve desfecho. A gente tem que ter o resultado prático disso. Isso custou dinheiro ao Vasco. Está paralisado. Há alguns meses teve reunião com o pessoal da auditoria, para ver se faltava algo, mas o relatório final da empresa, até agora, não foi divulgado.

Depois de você, o Paulo Reis (vice-presidente jurídico) também deixou a diretoria. Acha que outras pessoas vão seguir este caminho?

Cada um tem que responder por si. Não é questão de aliado. Quem participa da política do Vasco é impossível não estar uma hora contra e depois a favor. Muitos apoiaram Eurico e hoje estão contra. Paulo realmente entregou a carta de renúncia. Outros vão ter o posicionamento? O momento é um ano de eleição que vai ser determinante para os próximos três anos. As pessoas, por responsabilidade, têm que mostrar a cara. Não confundam fidelidade com submissão. As pessoas têm que analisar a questão do Vasco. O Vasco está com a imagem desgastada. Tem que fazer questão voltada para o maior patrimônio dele, que é sua torcida. É uma vergonha ter 10 mil sócios-torcedores e 3 mil contribuintes. Para 2017 a folha administrativa aumentou, a do futebol aumentou. A receita caiu. Para 2017, já estamos vendo: a receita diminui, a despesa aumenta. O que pode acontecer com isso? Eu como presidente do conselho fiscal do Vasco, como amante do Vasco, vendo isso... O momento é de posicionamento.

Você chegou a conversar com o José Luís Moreira e o Fernando Horta?

Antes de tomar minha decisão, conversei com eles. Já conversei com o Alexandre Campello. Acho que as pessoas têm que se entender. Estou procurando conversar com o coordenador da campanha do Julio Brant. Não sei se vai ser candidato. Articulação política tem que fazer. Mas está cedo ainda. Vamos ver lá na frente.

Qual a chance de se conseguir uma chapa única da oposição?

Se a oposição for o mínimo inteligente e se despir de vaidades, eu acho que tem que ser 100%. É só as pessoas terem responsabilidade e verem quem tem condição de ganhar a eleição. Obviamente que se a oposição estiver unida, a chance é muito maior. Mas as pessoas envolvidas têm que ter a responsabilidade de ver o melhor candidato. O processo está começando agora. Ainda tem muita água para passar debaixo da ponte. Lá na frente se vê. Tem que pensar no futuro. Penso num candidato que tenha acesso ao Conselho Deliberativo, aos beneméritos... Qualquer grande mudança estatutária tem que ter dois terços do conselho.



Fonte: GloboEsporte.com