Rodrigo fala da saída do Vasco e compara sua situação com a de Nenê
Quarta-feira, 24/05/2017 - 13:18
Foram mais de três anos com a camisa do Vasco e desde 2015 que Rodrigo autou como capitão. Neste ano, ele perdeu a braçadeira para Luis Fabiano com a chegada de Milton Mendes ao comando do Gigante da Colina. Em entrevista ao Globo Esporte, o zagueiro - que está na Ponte Preta, mas ainda não jogou pela Macaca - mostrou insatisfação com a forma como saiu do Cruz-Maltino e diz acreditar que Nenê terá o mesmo fim que ele no time de São Januário.

– Não tenho dúvidas que encaminha para acontecer o que aconteceu comigo, com o Nenê. Isso até antes... Quando muda um pouco o ambiente, quando as pessoas mudam um pouco com você, você sabe que está acontecendo alguma coisa diferente. E antes da minha saída, eu tinha conversado com o Nenê: “Nenê, vai acontecer alguma coisa comigo ou com você, meu amigo”, e aconteceu comigo primeiro. Agora está acontecendo com o Nenê. Eu não estou surpreso. Ele (Milton Mendes) está começando a tirar ele um pouco, ainda mais uma figura importante. É aquele negócio, né? Ninguém olha mais o que nós passamos, simplesmente chega uma pessoa e quer mudar.

Na Ponte desde o início do Brasileiro, Rodrigo diz que ainda tenta entender o motivo de ter saído do Vasco. Para ele, a justificativa pode estar no distanciamento do presidente do clube, Eurico Miranda, e seu filho e vice de futebol, Eurico Brandão, conhecido como Euriquinho, do vestiário. Por causa da relação próxima que tinha com os dois dirigentes, Rodrigo diz que esperava mais consideração.

– Isso é o que eu esperava né? Eu esperava até um pouco mais do Euriquinho do que do próprio presidente, porque a gente não era muito de conversar, pelo menos eu. A gente conversava muito pouco no vestiário, era uma presença muito marcante no vestiário antes... e esse ano mudou muito, é o que eu sei. O próprio Euriquinho nos comunicou no começo do ano que ele ia se afastar e ia deixar na mão do Anderson (Barros, gerente executivo). A gente não via muito o presidente mais no vestiário e nem a presença do Euriquinho, também que é um cara que a gente conversava muito. É aquele negócio, você tem uma confiança em uma pessoa que passou pelo o que nós passamos ano passado e ano retrasado, quando era tudo muito próximo, todo mundo falava a mesma língua... aí chega uma pessoa e fala “olha, não é mais pra você ir no vestiário, agora deixa que eu que vou ver como funciona lá embaixo..”. Você fica “meio assim”, você não conhece a pessoa, aí ela também começa a colocar toda a forma que gosta de trabalhar e vai mudando tudo. Então, o que eu vejo no Vasco é que o planejamento começa no começo do ano, mas no estadual acaba. Uma coisa que, quando nós fomos campeões duas vezes seguidas, durou mais duas, três semanas e depois já foi por água abaixo. Esse ano novamente.

Confira a entrevista completa com Rodrigo:

Rodrigo ficou quase três anos e meio no Vasco. Foi campeão, foi capitão, e muitas vezes foi polêmico também. Mas o Rodrigo era adorado pelos torcedores. Há mais ou menos três semanas, esse casamento acabou. Por que Rodrigo?

- Tá aí, boa pergunta. Por quê? Eu acho que juntou alguns fatores que vieram causando a minha saída do Vasco. Acho que foi isso. Mas, aí, a gente vai ter um período para contar etapas por etapas, que é o que eu imagino.

Esperava-se que teu ciclo no Vasco fosse completado, acho que você esperava isso também e de uma hora para outra a gente recebe a notícia: “o Rodrigo não vai ficar no Vasco”, depois de uma derrota feia no Carioca. Você acha que foi usado de “bode expiatório” também, Rodrigo?

– Acho. Depois da saída do Guinãzú, que eu assumi como capitão da equipe, tentei proteger ao máximo alguns garotos, acho que até os mais velhos também. Tentei proteger ao máximo a equipe. Não era muito de dar entrevista assim, mas quando ia falava a verdade. Acho que as minhas entrevistas, se você colocar, foram sempre todas espontâneas do que eu acho, do que eu vejo. Umas, você acerta; outras, você erra. Algumas atitudes foram bem tomadas, outras nem tanto. Acho que nesses três anos e cinco meses que eu permaneci no Vasco, eu fui intenso em tudo. Lógico que eu queria terminar meu contrato com o Vasco, que se encerraria no final do ano, e o meu pensamento era ir para a Ponte Preta. Realmente, só adiantaram um pouco.

Esperava um pouco mais de consideração por conta de tudo que fez pelo Vasco e pela proximidade que tinha com Eurico Miranda e Euriquinho?

– Isso é o que eu esperava né? Eu esperava até um pouco mais do Euriquinho do que do próprio presidente, porque a gente não era muito de conversar, pelo menos eu. A gente conversava muito pouco no vestiário, era uma presença muito marcante no vestiário antes... e esse ano mudou muito, é o que eu sei. O próprio Euriquinho nos comunicou no começo do ano que ele ia se afastar e ia deixar na mão do Anderson (Barros, gerente executivo). A gente não via muito o presidente mais no vestiário e nem a presença do Euriquinho, também que é um cara que a gente conversava muito. É aquele negócio, você tem uma confiança em uma pessoa que passou pelo o que nós passamos ano passado e ano retrasado, quando era tudo muito próximo, todo mundo falava a mesma língua... aí chega uma pessoa e fala “olha, não é mais pra você ir no vestiário, agora deixa que eu que vou ver como funciona lá embaixo..”. Você fica “meio assim”, você não conhece a pessoa, aí ela também começa a colocar toda a forma que gosta de trabalhar e vai mudando tudo. Então, o que eu vejo no Vasco é que o planejamento começa no começo do ano, mas no estadual acaba. Uma coisa que, quando nós fomos campeões duas vezes seguidas, durou mais duas, três semanas e depois já foi por água abaixo. Esse ano novamente.

Acha que eles te fizeram como laranja podre?

– É, exatamente. Da forma que foi, pelo menos para mim... Eu estava conversando com o Anderson Barros sobre a minha decisão e eu vi que as coisas não estavam andando. Ele não descia no vestiário, a gente não era muito de conversar também e quando eu fui conversar com o Eurico que eu vi que as coisas não iam andar. Realmente a conversa minha com o presidente foi muito bacana, coloquei tudo que eu pensava e falei “realmente eu não sei nem porque eu estou sendo mandado embora”. Veio em uma hora que eu não ia aceitar banco... agora eu estou na Ponte e estou no banco lá. Estou esperando o meu momento, esperando a minha chance, então, são coisas que são colocadas que, realmente... por que não senta e “vamos conversar, Rodrigo, vai ser assim, assado..”? Melhor do que realmente jogar como foi e falar que eu reclamo do treinamento, acho que foi isso uma das coisas, que eu não gostaria de ficar no banco.. pô, eu tô três anos, fiquei três anos e cinco meses no clube, era o primeiro a chegar e último a sair e depois de uma semana que chega um treinador novo (Milton Mendes), ele chega para mim e fala que eu não gosto de treinar, é piada né? As únicas coisas que eu penso são essas. Como você mesmo colocou, dei a cara para bater, tinha muito isso.

Você falou em mudança de rumo e isso ficou muito caracterizado quando sai o Cristóvão e o Vasco contrata o Milton Mendes (...). Primeiro você foi mandado embora e agora, no fim de semana, o Nenê já foi para o banco de reservas... de alguma forma você está sentindo que tenha uma estratégia de tirar essa galera que estava antes no Vasco e tentar iniciar um novo caminho sem vocês?

– Não tenho dúvidas que encaminha para acontecer o que aconteceu comigo, com o Nenê. Isso até antes... Quando muda um pouco o ambiente, quando as pessoas mudam um pouco com você, você sabe que está acontecendo alguma coisa diferente. E antes da minha saída, eu tinha conversado com o Nenê: “Nenê, vai acontecer alguma coisa comigo ou com você, meu amigo”, e aconteceu comigo primeiro. Eu não estou surpreso com o que está acontecendo com o Nenê agora. Ele (Milton Mendes) está começando a tirar ele um pouco, ainda mais uma figura importante. É aquele negócio, né? Ninguém olha mais o que nós passamos, simplesmente chega uma pessoa e quer mudar.

Problemas no diálogo

– Quando chega uma pessoa no clube, acho que tem que conversar: “como que foi, como que é?” Acho que pelo menos tem que saber. Não é chegar e achar que está tudo errado, porque acaba acontecendo coisas que aconteceram no começo do ano passado e no fim do ano retrasado, que nós tivemos o rebaixamento.

Motivo concreto para a saída

– Cara, você vai dar risada, mas o duro é que as únicas duas coisas de concreto para eu ter sido mandado embora do Vasco foram essas duas coisas: que eu não ia aceitar o banco de reservas e que eu não gosto de treinar. Foram as únicas duas coisas que foram reclamar de mim. Eu também não acreditei. Por isso que eu estou falando que acho que... tem uma outra que eu acho que pode ser por aí. Eu tenho um bom relacionamento com o Luís Fabiano, então, no começo o ano, como o Luís estava envolvido naquela novela, enrolação... Eu acho que se eu não tivesse no Vasco mais.....

Você participou da vinda do Luís Fabiano?

– Muito. Falava com ele bastante. Em janeiro, quando ele estava naquela fase de rescisão lá (China), e a gente estava no campeonato daqui e não estava vivendo um bom momento, a gente não se falava muito, mas em dezembro, eu falava com ele quase toda hora, falava: “vem para cá”. Se eu não tivesse aqui, ele não viria. Falo isso porque ali fugiu um pouco de amizade, é um irmão que tenho. A gente tinha isso, falava: “vem para cá, vamos terminar juntos, começamos juntos”.....O sonho ainda está de pé, eu estou na Ponte (risos)

Você acha que ele sai e vai para a Ponte atrás de você?

– Eu acho que será meu último clube e espero que seja também, acho que poucos jogadores na carreira têm esse privilégio de terminar onde começou, espero jogar mais três anos também. Vamos ver. Eu estou lá (risos).

Houve algum atrito com o Milton ou ele lavou as mãos?

- Quando ele chegou ao clube eu estava machucado. Na verdade, fiquei até surpreso. Foram o Anderson e o Milton que pediram a minha demissão. Isso, eu não ouvi da boca de ninguém, ouvi da boca do presidente do clube. A hora que o Anderson veio e me comunicou, eu desci na sala do Milton e falei: “Pô, Milton...”. Ele disse: “Pô, Rodrigo,...”. Ele disse que desconhecia a decisão tomada. Fiquei sabendo depois que partiu dele a minha saída, uma semana depois, quando eu fui falar com o presidente. Se eu não conversasse, ficaria perdido quem que realmente me demitiu. De todos eles..... lógico o Euriquinho também, é o vice de futebol, fiquei surpreso. Se eu posso usar uma palavra, menos ao presidente que, desde que eu estou no clube, foi uma pessoa muito bacana, mas sobre os três, o Euriquinho, o Milton e o Anderson, ela seria: decepção. Um pouco mais com o Euriquinho, estou esperando uma ligação dele até hoje, nem no clube falou comigo.

Como você acha que a torcida vai receber sua entrevista?

– Eu sempre fui muito sincero nas entrevistas que dei. É o que todo mundo fala: “Ele é um cara mau”. Ele é mau para você, para mim é muito bom. Eu levo muito assim. Nunca fiz propaganda para a torcida. O respeito que eu tenho hoje com a torcida, eu conquistei no campo. Mesmo com a minha saída agora, em outro clube, nas minhas redes sociais têm muita gente mostrando carinho comigo, desejando boa sorte. Por mais que possam falar que eu tinha amizade com o Euriquinho, com o Eurico, eu nunca bati na sala deles para pedir nada. Simplesmente conquistei tudo no campo. Isso foi em todo o lugar que passei. Às vezes, as pessoas não gostam do meu jeito de ser porque eu falo mesmo. Se eu não gosto de você, não gosto de você, sou assim, aprendi a ser assim. Acho que é bem melhor você falar o que você acha do que ser falso com a pessoa, esse é o meu jeito, entendeu?

Se, por um acaso, o Fred e o Guerrero estivessem no calçadão, você sentaria para tomar uma água de coco com eles?

– Eu ia ficar assim (cara de desconfiado). Vai pagar (risos)? Quando teve aquele gol impedido em 2014 (do Márcio Araújo), eu entendi que (Flamengo e Vasco) era o jogo mais importante do ano, de rivalidade, de toda a zoação que tem no Rio de Janeiro. Ali, falei: “Preciso fazer umas coisas diferentes”. É um jogo marcante. Não só pelas vitorias, mas também pelas derrotas. Tudo vai ficar marcado. Logo em seguida, fomos campeões. Em seguida, veio essa história com o Guerrero. Eu, se você for colocar na história do Vasco, não sei quantos clássicos disputei contra o Guerrero, mas ele nunca fez gol. Ele vai carregar isso (risos). Quando ele fizer um gol no Vasco, vão voltar e lembrar que é o primeiro gol. Espero que vocês coloquem que, quando o Rodrigo estava, ele não fazia. São jogos marcantes que podem ser lembrados amanhã, daqui a 10 anos, e quando forem, vou ter meu lugar. É um clássico que eu queria para mim, não vou ficar fazendo gol toda hora, mas tive a felicidade de fazer um gol em uma final de campeonato em cima do Flamengo, acho que meus confrontos com o Flamengo, enquanto estava no Vasco, ficaram gravados. Teve o de Manaus com a bandeira. Eu queria e soube jogar.

E com o Fred?

– Eu já tinha marcado o Fred antes e não tinha dado nada. Aí, veio o Diguinho: “Faz umas coisas com ele, que ele vai ficar bravo”. E eu ia e fazia. Ele ficou muito bravo, depois eu também falei: “Ele fica bravo porque eu sou um cara que marca forte”. O Fred é totalmente ao contrário do Guerrero, andou falando umas coisas de mim que não precisava. Fred é um cara, para mim, deletável, não tomaria água de coco com ele. Com o Guerrero, ele tem que pagar, virou meu freguês (risos). O Guerrero é um cara muito mais bacana, prazeroso de jogar do que o Fred. Eu o respeito mais. Quando você perde no campo e vai lá e fala coisas da sua vida particular, isso sai do respeito. Tem que ter respeito pelo seu companheiro de profissão.

Anderson Barros

– O Anderson já veio meio preparado para isso. Desde que ele chegou, o santo não bateu. Ele ficou na dele, eu fiquei na minha. A gente não se falava muito. Via nele que o dia que ele levantasse torto, ele me mandaria embora, falei isso com a minha esposa. Só que eu acho que ele não tinha força para isso, é meio fraquinho. Juntou com o treinador que veio, também já tinha trazido o Luis (Fabiano), teve uma eliminação feia para o Fluminense, juntou isso tudo ou tinha alguma coisa que acabou me mandando embora.

O que você leva do Vasco?

– Primeiro, tenho que agradecer um cara que me trouxe para o Vasco, que foi o Rodrigo Caetano. Ele que me ligou, quando eu estava no Goiás, e me trouxe. É um cara muito respeitado. É até engraçado. Quando eu encontrei com ele este ano, até brinquei: “Quando você estava lá e seu pai não era presidente, era até tranquilo. Agora que eu tenho amizade com o Euriquinho, ninguém gosta”. Do Vasco, eu aprendi a gostar muito. Depois daquela briga no hotel, eu comecei a puxar um pouco dos ídolos do Vasco. Edmundo, Romário, os caras também eram odiados, já vi brigando, mas faziam a diferença dentro do campo. Para não acontecer isso de novo, “tenho que começar a mostrar para eles que vou defender o clube, correndo ou naquilo que tenho que fazer”. É interessante para a gente buscar nossos objetivos. Isso eu fiz depois daquele episódio, mudei muito meu jeito no clube, meu jeito de chegar para trabalhar. Na minha saída, começou a aparecer um monte de número desconhecido no meu telefone, até achei que eram vocês (jornalistas). Fui ver e eram os funcionários, que me mandam mensagens até hoje. Isso é uma coisa que você não nota no clube, algo que, às vezes, você espera dos jogadores que você acaba passando boa parte do tempo junto, em concentração. Eu tive o carinho do Rafael (Marques) e o resto dos jogadores só ali na hora de ir embora. Mas o carinho maior veio dos massagistas, dos roupeiros, fico até meio emocionado. Me pediram foto para guardar. Eu fiquei feliz. O carinho que uns não deram, acabei recebendo de quem não esperava.

E a Ponte?

– Eu estou em um lugar que quero terminar a carreira, algo que já desejava, só antecipou um pouco. E lá do mesmo jeito, encontrei um carinho enorme das pessoas que eram da minha época, as tias da cozinha, o pessoal da comissão técnica dos juniores da minha época. Espero que seja meu último clube. Vamos ver. Tomara que eu faça uma história bacana. Tenho objetivos grandes pela frente. A Ponte está chegando em finais de Campeonato Paulista, de Sul-Americana. Quem sabe eu possa conquistar um título e entrar para a história do clube. Vejo foto do Dicá, agora quero foto minha também. Aqui no Vasco, já tem de campeão. Espero fazer uma história bacana lá também.





Fonte: GloboEsporte.com