Ídolo do Sport, o goleiro Magrão é conhecido em Pernambuco como "Rei dos pênaltis"'. São 30 cobranças defendidas pelo camisa 1 desde que ele chegou ao clube rubro-negro, em abril de 2005. Defendeu 13 das últimas 15 em disputas decisivas por pênaltis. E a mais marcante delas, ao menos para o cobrador, certamente é a que resultou no milésimo gol de Romário, feito que completa dez anos neste sábado (20).
A data era 20 de maio de 2007. O palco, São Januário. Com 999 gols, Romário havia passado em branco diante de Flamengo e Goiás, no Maracanã. Sobrou para o Sport, que já perdia por 2 a 0. No segundo tempo, o juiz marcou pênalti para o Vasco após uma bola que bateu na mão do zagueiro Durval. Na cobrança, Romário demonstrou frieza, e Magrão viu a bola nas redes.
"Eu queria ter pego [risos]. Ah, como todos os outros. Agora, não por causa dessa marca do Romário, eu não fiquei muito pressionado em relação a isso. Na verdade é mais para ele, não para mim. Eu sei que eu entrei na história, mas somente como coadjuvante. Eu queria ter pego, mas queria pegar o pênalti do Romário como de todos os outros. Ser pressionado, 'vai ter que pegar, vai ter que pegar', eu não carreguei isso para mim, não", disse o goleiro em entrevista ao UOL Esporte.
Magrão admite que o assunto o incomodava no começo, mas hoje vê o gol de Romário mais como algo 'positivo': "Isso não me incomoda, não. No início até me incomodava um pouco, as perguntas eram sempre as mesmas, tipo assim: 'o que você sentiu de ter tomado o gol', aí era meio chato, mas hoje eu sou tranquilo, isso faz parte do futebol, e o jogador que o Romário foi, você está louco... Sem comentários porque eu tomei o gol dele", acrescenta Magrão, que disse ainda nunca mais ter encontrado Romário depois do milésimo gol do atacante.
Ainda sobre o milésimo gol, Magrão afirma que não trocaria algum pênalti defendido na carreira por uma defesa na cobrança do milésimo gol de Romário. "Acho que não, tinha que ser, era pra ser, não trocaria, não, só se fosse por um título, aí sim [risos]. Se fosse por algum título, aí com certeza, mas trocar por outro [pênalti] assim eu não trocaria, não", diz o goleiro.
Primeira defesa no Sport foi em cobrança de Ceni
Magrão sequer lembrava, mas um levantamento feito pelo Sport refrescou a memória do goleiro: o primeiro pênalti defendido por ele, pelo time rubro-negro, foi cobrado pelo ex-goleiro – e agora técnico – Rogério Ceni, em jogo válido pelo Campeonato Brasileiro de 2007.
"Eu nem sabia. Eu até tinha mandado fazer um levantamento, e aí me mostraram tudo. Nossa, e o gosto de pegar um pênalti dele? Tá louco! Companheiro de profissão na época e ídolo também, né, porque ele era um baita especialista em fazer gol. E quando você defende um pênalti de um cara desses, pelo amor de Deus, caramba [risos], é como se fosse um gol", diz.
O goleiro rubro-negro ainda classifica este pênalti como o que mais lhe deu satisfação em defender, justifica. "Foi o primeiro que eu defendi, e pelo nome que tem o Rogério Ceni, a história toda", conta Magrão, que cita ainda outras defesas de pênalti marcantes em sua carreira – contra o rival Náutico em decisão que levou o Sport às oitavas da Sul-Americana.
"Era para passar de fase, eu peguei três pênaltis nessa partida. Foi o momento que mais me marcou, e marcante também porque eu estava um pouco desanimado, e esses três pênaltis aí deram uma renovada legal para mim, me deu uma renovada, e os caras aqui estavam zoando pra caramba porque um ano antes eles tinham praticamente rebaixado a gente no Brasileiro, e caiu no nosso colo esta vaga na Sul-americana. E, de repente, a gente enfrenta os caras e pronto, chega na disputa de pênaltis eu pego três pênaltis, então foram estes dois momentos".
Veja mais trechos da entrevista com Magrão:
Ídolos no futebol
Na verdade eu tive vários. De infância era o Ronaldo Giovanelli, quando eu tinha 10, 12, 13 anos, então até essa fase era o Ronaldo Giovanelli. Aí depois foi o Taffarel e, depois que eu comecei a entrar no gosto de ser goleiro, eu fui começando a me espelhar mais no Taffarel. E depois vieram para mim estes três monstros que são Rogério Ceni, Marcos e Dida. Esses três pra mim são incomparáveis, foi a melhor safra dos clubes aí. eu procurei me espelhar muito nas penalidades através do Dida, de ser a pessoa mais fria, mais concentrada, é o meu estilo.
Qual o segredo das defesas?
Aí eu vou começar a dar a armadilha para os caras, pô. Vou dar a arma para o cara [risos]. Hoje tem bastante estudo, envolve muitas coisas, pesquisa... Até os jogos televisionados. A gente vê como o batedor cobrou no jogo passado, a maneira de como bater na bola... No decorrer do jogo a gente vê que o jogador bate mais cruzado, batendo a bola mais fechada, e na hora do pênalti a facilidade maior é a bola cruzada, então tem vários fatores que hoje fazem com que defenda as cobranças.
Dicas para os goleiros jovens na hora do pênalti
Ah, eu procuro jogar a responsabilidade para o batedor, para ser o mais calmo possível. Quando o goleiro é mais tranquilo ele passa mais segurança do que aqueles mais agitadinhos, que ficam pulando para um lado e para o outro. Sendo mais frio, parado ali, você joga mais a responsabilidade para cima do batedor, e na verdade a responsabilidade maior é a do batedor né? Pô, o gol é grande para caramba [7,32m de largura x 2,44m de altura), é covardia, tá louco [risos]. Ainda bem que agora mudou, porque antes tinha a paradinha e era pior, né [risos], a gente pegava uns caras que faziam sacanagem pra caramba.
Até quando vai a carreira de jogador?
Eu tenho contrato com o Sport até o final do ano que vem, mas vai depender muito de como eu estiver atuando. Eu quero jogar, mas primeiro quero estar legal. No momento em que eu estiver no nível mais ou menos, serei o primeiro a chegar no clube e falar que não está dando mais. Aqui é a minha casa, são 12 anos, 630 jogos e lá vai fumaça, 630 e alguma coisa... Estou chegando a 640 jogos pelo Sport. Só este ano, no total, vai dar quase 80 jogos, e ainda tem o outro ano. Então, se contar o outro ano, de repente chego a 750 jogos.
Fonte: UOL (texto), GloboEsporte.com (foto)