Neste domingo, contra o Palmeiras, Nenê escreve mais um capítulo especial de sua passagem pelo Vasco. O meia completa 100 jogos e celebra uma relação de amor à primeira vista, iniciada em 2015, durante um período em que o time vivia uma situação muito delicada, à beira do rebaixamento. De lá para cá, foram muitas vitórias (52), algumas derrotas (22), empates (25) e dois títulos cariocas.
No apartamento do meia, de frente para a praia da Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, ele guarda com carinho nas estantes e paredes recordações das conquistas com o clube e dos prêmios individuais.
- Acho que acertei totalmente na minha decisão - disse Nenê, que tinha proposta de outros clubes brasileiros para deixar o West Ham, da Inglaterra.
Nenê se tornou a grande referência técnica do time e ganhou uma enorme importância. Dos 126 gols marcados pelo Vasco quando ele estava em campo, ele participou diretamente de 67 - 53,17%. Foram 38 gols e 29 assistências. Mas ele não vai parar por aí. Com contrato até o fim de 2018 e sem propostas oficiais para sair, não tem planos de se aposentar antes dos 40 anos.
Sobre as chances do Vasco no Brasileiro, Nenê contraria a desconfiança da torcida e aposta que a equipe tem condições de terminar entre os cinco primeiros e lutar por uma vaga na Libertadores. Risco de um novo rebaixamento? Ele nem pensa nisso.
- Acho que podemos surpreender muita gente. Acredito que podemos chegar entre os cinco primeiros. É difícil, mas no futebol não vemos muita diferença entre os times, há muito equilíbrio. (Um novo rebaixamento) Seria uma catástrofe para o clube. Não quero nem pensar nessa possibilidade.
Confira a entrevista com Nenê:
GloboEsporte.com: se estes 100 jogos com a camisa do Vasco fossem um filme, como você descreveria?
Nenê: Daria um filme e tanto. Foram muito momentos bons, e muitos momentos difíceis. Cheguei em uma época muito delicada para o clube, nós quase conseguimos um feito histórico no segundo turno. Uma campanha extraordinária. Em 20 jogos, acho que perdemos um só. Chegamos na última rodada com chance. Foram momentos tensos, mas de um crescimento muito grande para mim. Eu tinha convicção de que conseguiríamos. Infelizmente não deu, mas a torcida viu nosso empenho. Foi emocionante. Depois conquistamos o Carioca invictos. Também teve a série sem perder que acabou entrando para a história do clube. Foram momentos marcantes. Fico feliz de chegar nessa marca dentro de um clube com a grandeza do Vasco.
Quando houve proposta e você viu a situação do time na tabela teve algum tipo de medo de colocar à prova seu prestígio no retorno ao Brasil diante do risco de rebaixamento?
Não tive medo. Quem me conhece sabe que gosto de desafios. Tinha outras propostas, mas eu vi que poderia fazer parte de uma coisa única. Isso me motivou. Além do interesse do Vasco e da forma como foi. Acreditaram em mim. Os outros clubes ficaram indecisos talvez por eu já ter 34 anos e estar há dois no Catar. Minha decisão foi mais também pela confiança que o Vasco mostrou em mim. Acho que acertei totalmente na minha decisão.
Desde que chegou ao Vasco, você participou diretamente de 53,17% dos gols marcados pela equipe. Hoje já tem uma noção melhor da importância que tem?
Acho que ainda não tenho a noção real ou exata, mas recebo muito carinho da torcida. Fico muito feliz de participar tão diretamente dessa porcentagem tão alta nos gols. Por isso que fico orgulhoso, são números expressivos para um meia. Eu tenho mais gols do que assistências. Me deixa muito feliz de ter ajudado.
O técnico Milton Mendes diz que usa você como exemplo para a nova leva de jovens jogadores que foram incorporados. Como você encara essa responsabilidade? Tem uma foto que você colocou como legenda o "veinho e garotada"...
Sempre procuro dar o exemplo dentro e fora. Eles vendo os mais experientes, como eu, Martín, Luis... veem uma liderança natural. Se veem coisas ruins, podem seguir. Quanto mais der exemplos positivos, melhor. Isso que eu tento fazer nos treinos e jogos. Tento ajudar da melhor forma possível. Acho uma coisa bacana, e eu não estava acostumado a fazer antes. Agora já estou me habituando.
Quando seu contrato com Vasco terminar, você terá 37. Quais os planos? Renovar, se aposentar?
Eu penso em jogar ainda mais. Espero chegar nos 40. Minha média é bastante alta de quilômetros percorridos nos jogos. Quer dizer que dá para ampliar bem.
Por que acredita que existe tanta desconfiança em cima do Vasco para esse Brasileiro?
Foram muitas mudanças. Chegaram vários jogadores este ano, além da troca de treinador. No Carioca não tivemos a mesma campanha que tivemos no ano passado. E o time passou por essa situação de jogar a Série B. Então, creio que essa instabilidade possa passar para fora, mas internamente não existe. Temos total convicção do nosso trabalho, do nosso elenco... Claro que precisamos de regularidade, e já tivemos uma maior nos últimos jogos. Essas três semanas foram difíceis porque não tivemos jogo, mas foi bom para nos unirmos e focarmos no parte tática, física...tudo que poderíamos melhorar. Vejo como uma coisa aceitável. Vai ser bom porque podemos surpreender.
Como é o Milton Mendes no dia a dia? Ele tem um estilo "diferentão"? Como ele é com o elenco?
(Risos) Realmente ele é diferente. Dentro do campo parece um general. Acho que isso faltava bastante para nós, sem querer criticar quem estava antes (Cristóvão Borges). Ele é um cara que cobra muito. Tem obsessão pela parte tática, todos os jogadores têm que saber exatamente o que fazer, e não só em um sistema de jogo, mas dois ou três. E fora de campo ele parece outra pessoa, totalmente extrovertido, está sempre próximo. Sempre diz que está aberto para qualquer coisa que precisar. É bastante humano, está sempre rindo. Então, tem esses dois lados dele.
Como o grupo reagiu quando viu a foto dele no Maracanã junto com torcedores na final do Carioca, entre Flamengo e Fluminense?
Ele disse: "Fiz uma cagada tremenda" (risos). Ele tem obsessão com o trabalho, e gosta de ver todos os jogos, seja sub-15, sub-20... Mas ele levou numa boa. Achei um pouco estranho no começo, mas depois eu dei risada.
A estreia será contra o Palmeiras, o atual campeão, no primeiro jogo após o retorno do Cuca... Mas o Vasco tem boas recordações da última vez que se enfrentaram. E você principalmente.
É, a recordação é boa. Fizemos um grande jogo e tivemos uma bela vitória. Vamos continuar com essa lembrança, e aprender com os erros. Vai ser um jogo difícil, mas o Vasco tem condições, independente de ser o atual campeão.
Até onde pode ir o Vasco no Brasileiro?
Acho que podemos surpreender muita gente. Acredito que podemos chegar entre os cinco primeiros. É difícil, mas futebol não vemos muita diferença entre os times, há muito equilíbrio. São os detalhes que fazem diferença. Podemos conquistar coisas boas. Vamos batalhar por essa alegria para nossa família e para a torcida, já que só temos o Brasileiro em disputa. Quem sabe não classificamos para a Libertadores.
Um novo rebaixamento teria qual peso para a história do clube?
Nem pensamos nisso, não pode passar pela cabeça. Pensamos positivo, o que passou, passou. Aprender com os erros para não cometer mais. Não quero nem pensar no impacto que teria. Não tem tamanho. Seria uma catástrofe para o clube. Não quero nem pensar nessa possibilidade.
Fonte: GloboEsporte.com