Vascaínos por um dia

Os torcedores vascaínos podem se orgulhar de dizer que a maioria dos grandes jogadores do futebol brasileiro passaram pelo Vasco. De fato, há poucas exceções à esta regra. Mesmo dentre os jogadores que fazem parte deste pequeno grupo de exceção, há quatro monstros sagrados que, se por um lado nunca tiveram vínculo profissional com o Vasco, pelo outro foram vascaínos pelo menos por um dia.

Zizinho e Ademir
Zizinho

Pelé
Pelé

Garrincha
Garrincha

Zico, Bebeto e Roberto
Zico

 

Zizinho

Zizinho e Ademir

Poucas amizades no futebol foram tão duradouras e sólidas como a que mantiveram Zizinho e Ademir, embora somente tivessem jogado juntos em seleções e, no campo, tivessem carregado a grande rivalidade Flamengo x Vasco. Mesmo depois que Zizinho transferiu-se para o Bangu, em 1950, a torcida vascaína continuou não nutrindo por ele a menor simpatia. Mas houve uma exceção. Certa vez, dois times argentinos, o Independiente e o Racing, vieram participar de um torneio quadrangular no Maracanã (Torneio do Atlântico), juntamente com o Vasco e o Flamengo. Terminava o ano de 1955 e o Vasco resolveu reunir a famosa dupla. O Bangu cedeu Zizinho por empréstimo e aconteceu o que parecia impossível: Mestre Ziza vestido de vascaíno, junto com "meu irmãozinho Ademir".

Zizinho foi, assim, vascaíno não somente por um dia, mas sim dois. O Vasco perdeu a primeira partida para o Independiente e venceu o Racing na disputa do terceiro lugar. O Flamengo foi o campeão do torneio. Eis as súmulas das partidas do Vasco:

Vale a pena recordar que tempos depois, já como técnico, Zizinho trabalharia no Vasco em duas oportunidades, 1967 e 1972. Em ambas, a equipe não realizou boa campanha e ele durou poucos meses no cargo.

Este site agradece a João Alberto Machado, que colheu e gentilmente enviou todas as informações acima e a foto dos dois grandes craques juntos com a camisa do Vasco. O material foi retirado do livro de autoria do próprio Zizinho, da Coleção Grandes Ídolos, patrocinado pela Secretaria de Esportes do RJ.

 

Pelé

Pelé

Pelé nunca escondeu sua simpatia pelo Vasco, tendo sido um torcedor vascaíno durante a sua infância em Bauru. Quis o destino que Ele vestisse a camisa do Vasco no início da sua carreira, em junho de 1957, em três partidas no Maracanã, e melhor ainda, que ele marcasse um gol no Flamengo.

Naquela ocasião, a equipe principal do Vasco excursionava na Europa e Vasco e Santos formaram um combinado para participar da Taça Morumbi, um torneio amistoso internacional com partidas no Rio e em São Paulo. O Vasco cedeu ao combinado Paulinho e Bellini, convocados para a Seleção Brasileira para a disputa da Copa Roca contra a Argentina, e mais Wagner, Iedo, Artoff e Valdemar, reservas que não participavam da excursão. Entre os jogadores cedidos pelo Santos, um adolescente de 16 anos, ainda reserva, despontando para o futebol, cujo nome ninguém sabia ao certo se era Pelê ou Pelé.

O torneio nunca chegou ao fim, pois não despertou muito interesse junto ao público e os seus organizadores resolveram suspendê-lo devido aos prejuízos financeiros. O Combinado Vasco-Santos atuou quatro vezes, as três primeiras no Rio com o uniforme do Vasco e a última em São Paulo com o uniforme do Santos. Pelé marcou gols em todas as partidas, inclusive um sobre o Flamengo. Estas são as súmulas das partidas:

Deve ter sido tocante para a reduzida galera vascaína que compareceu às partidas rever um grande ex-ídolo, Jair Rosa Pinto, aos 36 anos, envergando o manto cruzmaltino depois de 11 anos longe de São Januário.

As atuações de Pelé pelo Combinado Vasco-Santos e os comentários nos jornais sobre o nascimento de um "futuro craque de seleção" foram fundamentais para que o então técnico da seleção brasileira, Sílvio Pirillo, decidisse convocá-lo para uma partida do Brasil contra a Argentina pela Copa Roca, no Maracanã, dia 7 de julho de 1957. Foi a estreia do futuro Rei na Seleção, aos 16 anos de idade. Ele entrou no segundo tempo no lugar de Del Vecchio e marcou o seu primeiro tento com a camisa canarinho. Mesmo perdendo por 2x1, o time brasileiro foi elogiado e a presença de Pelé foi aclamada.

 

Garrincha

Garrincha

Sim, Mané Garrincha, o maior ponta-direita do mundo de todos os tempos, também teve o seu dia de vascaíno.

É fato conhecido e às vezes mencionado que, antes do início da sua carreira, Garrincha foi levado para um teste em São Januário, mas não o deixaram treinar porque não tinha trazido chuteiras. Todavia um fato virtualmente esquecido e ignorado da história do futebol é que em 1967, já com a sua carreira entrando em declínio, Garrincha foi emprestado ao Vasco pelo Corinthians. O clube paulista era o dono do passe do jogador e estaria disposto a cedê-lo em definitivo de graça. O ponta permaneceu em São Januário por um período curto, em que ficou praticamente todo o tempo treinando, tentando recuperar a forma. A direção do clube, inicialmente, não se mostrou disposta a dar-lhe uma chance, mas os jogadores, representados pelo capitão do time, o zagueiro Brito, fizeram um pedido especial que foi aceito.

A estreia oficial de Garrincha estava programada para a primeira rodada da Taça Guanabara contra o Bangu. Antes, a prova de fogo para avaliar a sua recuperação seria num amistoso contra a seleção da cidade de Cordeiro (RJ). Porém, Mané se machucou na véspera do amistoso e jogou no sacrifício, agravando a contusão. Mesmo assim, ele jogou os 90 minutos e marcou um gol de falta, o primeiro e único seu com a camisa cruzmaltina. A estreia contra o Bangu acabou não acontecendo e Garrincha jamais disputaria outro jogo pelo Vasco.

O amistoso em Cordeiro foi realizado em homenagem ao Sr. João Beliene, na época o único fundador do Vasco ainda vivo. O Vasco, que recebeu cota de NCr$600,00, enviou um time misto de reservas, juvenis, jogadores em experiência e potenciais titulares, além de Garrincha. A foto mostra Garrincha e Bianchini ladeando um senhor idoso que deve ser o fundador do Vasco homenageado, em meio a torcedores e dirigentes, antes da partida.

Mais detalhes fascinantes sobre esse jogo de Garrincha pelo Vasco e a raríssima foto da equipe do Vasco que iniciou a partida se encontram no artigo O Anjo Torto, de autoria do colunista esportivo e ex-goleiro do Vasco Valdir Appel.

Conheça também os números dos confrontos de Garrincha contra o Vasco.

Agradecimentos a Fernando Matta, que pesquisou o assunto e teve a gentileza de enviar todas as informações acima e a foto, encontrada na Revista do Vasco de agosto de 1967, de Garrincha integrando o time do Vasco no amistoso. Diga-se de passagem que trata-se de um fato tão desconhecido que não se encontra registrado nem na excelente biografia "Estrela Solitária: Um Brasileiro Chamado Garrincha", de Ruy Castro.

 

Zico

Zico

Quando compôs a sua música "Pega na Mentira", o compositor vascaíno Erasmo Carlos nunca poderia suspeitar que o verso de abertura que dizia "Zico está no Vasco" deixaria de ser mentira pouco mais de 10 anos depois, mesmo que por um dia.

Após ser protagonista da conquista do quinto título invicto de campeão carioca pelo Vasco em 1992, Roberto Dinamite, o maior artilheiro do Vasco de todos os tempos, anunciou o encerramento da sua longa e notável carreira. Um jogo de despedida foi programado para a noite de 24 de março de 1993, uma quarta-feira. O adversário convidado foi o clube espanhol Deportivo La Coruña, para onde recentemente havia se transferido o ex-ídolo vascaíno Bebeto. Para participar da festa foi convidado Zico, que àquela altura já atuava no futebol japonês e veio ao Brasil especialmente para a festiva ocasião. Um Maracanã com bom público (quase 30 mil pagantes) testemunhou a imagem insólita do Galinho de Quintino no seu dia de vascaíno, atuando no primeiro tempo em dupla com Roberto, numa bonita homenagem.

O Vasco perdeu a partida e uma invencibilidade de nove meses, mas o resultado era o que o que menos importava. Ali pendurava as chuteiras o seu maior ídolo. Eis a súmula do amistoso: